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domingo, 9 de março de 2025

Perigo das Polarizações

Outro dia, enquanto esperava o elevador, ouvi uma conversa acalorada entre dois homens no corredor. Um defendia com unhas e dentes um ponto de vista, o outro, o oposto. Não era um debate, era um duelo. O elevador chegou, mas ninguém entrou. As palavras pesavam mais do que o movimento. E pensei: até que ponto a polarização está nos tornando reféns de nós mesmos?

A polarização não é apenas um fenômeno político ou social, mas um estado psicológico. Ela nos convida a escolher um lado e, ao fazê-lo, nos obriga a rejeitar o outro. Trata-se de um processo de identidade tanto quanto de opinião: ao nos alinharmos com um grupo, reforçamos a sensação de pertencimento e segurança. Mas, como bem alertou o filósofo francês Jacques Rancière, a política não deve ser reduzida a uma guerra de identidades onde o diálogo se torna impossível.

O problema maior da polarização é que ela nos aprisiona em certezas inquestionáveis. Perdemos a capacidade de ouvir, de reconsiderar, de duvidar. Passamos a ver o mundo em dualidades simplistas: certo ou errado, nós ou eles. Essa lógica binária ignora a complexidade da vida e empobrece nossa visão de mundo. Afinal, como nos lembra Edgar Morin, o pensamento complexo é aquele que abraça as contradições e as incertezas, e não as exclui.

Outro efeito colateral da polarização é a criação de realidades paralelas. Com a internet e as redes sociais, cada bolha ideológica constrói sua própria versão dos fatos, filtrando informações que reforçam suas crenças e rejeitando qualquer dado que as desafie. O resultado é um ambiente no qual o outro não é apenas diferente, mas inimigo. Hannah Arendt alertava que uma sociedade que perde a capacidade de compartilhar uma realidade comum está fadada ao autoritarismo e à desintegração do debate público.

Mas há um caminho para escapar dessa armadilha? Talvez a resposta esteja em algo que parece simples, mas se tornou cada vez mais raro: a disposição para o diálogo genuíno. Um diálogo que não busca converter, mas compreender. Que não se baseia em vencer um argumento, mas em expandir horizontes. Como propunha Paulo Freire, a verdadeira comunicação só acontece quando há abertura para o outro, para sua história, para sua visão de mundo.

A polarização, quando extrema, nos torna rígidos, inflexíveis e cegos para as nuances da realidade. O antídoto talvez seja reaprender a ouvir, exercitar a dúvida e abraçar a complexidade do mundo sem medo. No fim das contas, a vida não cabe em um elevador, nem em um debate binário. Ela exige movimento, trocas, e acima de tudo, a coragem de sair da própria bolha.


segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Ser Dogmático

Como as pessoas apegadas se tornam inflexíveis, as discussões tornam-se demasiadamente tóxicas e tende a afastar qualquer um que pense diferente, estes são os dogmáticos. Ser dogmático é ter uma visão rígida e inquestionável sobre determinado assunto. Essa postura pode ser vista de várias maneiras no cotidiano, desde debates políticos até discussões simples entre amigos. Vamos explorar algumas dessas situações para entender melhor como o dogmatismo pode se manifestar e impactar nossas vidas diárias.

Na Política

Imagine um jantar em família onde o assunto "política" surge na mesa. João, um defensor fervoroso de um partido específico, começa a falar sobre os benefícios que esse partido trouxe para o país. Quando alguém tenta apresentar uma perspectiva diferente ou uma crítica construtiva, João imediatamente rejeita a ideia, argumentando que qualquer outra visão está completamente errada. Essa atitude dogmática impede um diálogo saudável e construtivo, onde diferentes opiniões poderiam ser ouvidas e discutidas de maneira respeitosa.

No Trabalho

No ambiente de trabalho, Maria, uma gerente de projetos, acredita firmemente que sua abordagem de gerenciamento é a única que funciona. Quando um colega sugere uma metodologia alternativa que poderia melhorar a eficiência da equipe, Maria descarta a ideia sem considerá-la. Essa postura dogmática pode limitar a inovação e a colaboração no ambiente profissional, pois os colegas podem se sentir desencorajados a compartilhar novas ideias ou pontos de vista.

Na Educação

Em sala de aula, um professor pode ser dogmático ao insistir que apenas um método de ensino é eficaz, ignorando outras abordagens pedagógicas que poderiam beneficiar os alunos. Por exemplo, se o professor acredita que a memorização é a melhor forma de aprendizado e desconsidera métodos mais interativos e práticos, os estudantes podem acabar desmotivados e com um aprendizado menos eficaz.

Nas Redes Sociais

Nas redes sociais, o dogmatismo se torna ainda mais evidente. Imagine uma discussão sobre um tema controverso, como mudanças climáticas ou vacinação. Pessoas com opiniões extremas e inabaláveis frequentemente entram em debates acalorados, desqualificando qualquer argumento contrário sem considerar evidências ou perspectivas diferentes. Essa postura não só polariza as discussões, mas também dificulta o avanço em direção a soluções colaborativas e informadas.

Na Amizade

Até mesmo entre amigos, o dogmatismo pode surgir. Pedro e Ana são amigos de longa data, mas têm opiniões diferentes sobre um filme popular. Pedro, sendo dogmático, insiste que sua interpretação do filme é a única válida e ridiculariza a visão de Ana. Isso pode criar uma tensão desnecessária na amizade, impedindo que ambos desfrutem de uma troca saudável e enriquecedora de ideias.

Ser dogmático pode criar barreiras nas relações interpessoais e limitar o crescimento pessoal e coletivo. O diálogo aberto e o respeito às diferentes perspectivas são fundamentais para um convívio harmonioso e para o desenvolvimento de soluções inovadoras em diversos aspectos da vida. Ao reconhecer o valor das opiniões alheias e estar aberto a novas ideias, podemos construir uma sociedade mais inclusiva e colaborativa.