Outro dia, conversando com um amigo sobre como a vida parece brincar com a gente, ele disse: "Acho que a minha Roda da Fortuna emperrou." Rimos, mas no fundo, a metáfora era certeira. Tem fases em que tudo conspira a favor e momentos em que o destino parece rir na nossa cara. A Roda da Fortuna, um dos símbolos mais antigos da imprevisibilidade da vida, nos lembra que ninguém está permanentemente no topo — nem sempre no fundo.
A
ideia da Roda da Fortuna tem raízes na Antiguidade. Os romanos viam Fortuna, a
deusa do destino, como uma força cega que gira a roda ao acaso, elevando e
derrubando pessoas sem aviso prévio. Na Idade Média, o conceito se tornou um
lembrete moral: reis e mendigos eram igualmente sujeitos à instabilidade da
existência. O pensador Boécio, em A Consolação da Filosofia, escreveu sobre
como a verdadeira sabedoria está em não se apegar demais à boa sorte nem se
desesperar diante da má sorte. Afinal, a roda gira.
No
cotidiano, sentimos isso na pele. Um dia, um colega de trabalho recebe uma
promoção inesperada, enquanto outro, tão competente quanto, é demitido sem
explicação. A bolsa de valores sobe vertiginosamente e, no dia seguinte,
despenca. Pessoas entram e saem da nossa vida sem que possamos prever. O que
nos resta, então?
A
resposta filosófica pode variar. Os estoicos sugeririam a apatheia, um estado
de serenidade diante das mudanças. Nietzsche, por outro lado, falaria do amor
fati — amar o destino, abraçar os altos e baixos como partes inseparáveis da
existência. No Brasil, Clóvis de Barros Filho nos lembra que a felicidade não é
um estado permanente, mas momentos fugazes que precisamos aproveitar sem
ilusões de eternidade.
Talvez,
no fim das contas, o segredo seja aprender a dançar conforme a música. Nem
sempre temos controle sobre os giros da roda, mas podemos escolher como reagir
a eles. E, quem sabe, entender que a beleza da vida está justamente nessa
imprevisibilidade — porque se a roda parasse, perderíamos o encanto de esperar
pelo próximo movimento.