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sábado, 31 de agosto de 2024

Ir ao Mundo

Quando me perguntam aonde vou, muitas vezes respondo que vou ao mundo, como se estivesse saindo sem destino (mesmo sabendo onde estou me dirigindo), digo isto mais como uma forma de provocação para comentários para em seguida achar graça, sempre gostei de pensar que a brincadeira provocasse alguma reação, e geralmente provoca...

Ir ao mundo é um chamado que ecoa nas profundezas da nossa alma, uma espécie de convite silencioso para sair do conhecido e abraçar o desconhecido. É mais do que apenas explorar novos lugares; é sobre abrir-se para a vida em toda a sua vastidão e complexidade. Cada passo fora da nossa zona de conforto é uma oportunidade para crescer, aprender e descobrir aspectos de nós mesmos que jamais imaginávamos existir. Ir ao mundo é um ato de coragem e curiosidade, uma dança entre o familiar e o novo, onde nos permitimos ser moldados pela experiência, e, ao mesmo tempo, moldar o nosso próprio caminho. Nesse movimento, encontramos o verdadeiro sentido de viver, onde cada momento se torna uma chance de expandir os horizontes do nosso ser.

"Ir ao mundo" é uma expressão que evoca a ideia de sair da própria bolha, das zonas de conforto, para enfrentar e explorar o que está além do que já conhecemos. Esse movimento é, ao mesmo tempo, uma jornada externa e interna. Sair para o mundo envolve se deparar com novas culturas, ideias, desafios, e, inevitavelmente, com partes de nós mesmos que estavam dormentes ou inexploradas.

A sensação de poder ir ao mundo carrega consigo um espírito de liberdade que é quase palpável. É aquela sensação de que o mundo está aberto para você, de que não há correntes segurando seus passos. Quando nos damos conta de que podemos ir além dos nossos limites, seja embarcando em uma viagem ou simplesmente mudando a forma como encaramos a vida, sentimos um sopro de liberdade no peito. É como abrir uma janela em um quarto abafado, deixando o ar fresco entrar. Ir ao mundo, então, se torna uma afirmação de que somos donos das nossas escolhas, de que podemos explorar, aprender e ser quem quisermos. E isso, mais do que qualquer outra coisa, é viver com liberdade na alma.

Ir ao mundo é também uma forma de testar nossas crenças e valores, de confrontar o desconhecido, e de aprender com ele. Ao nos lançarmos nessa aventura, nos colocamos à prova, permitimos que o novo nos transforme e, por fim, retornamos diferentes, com uma bagagem que vai muito além do que é físico. Voltamos ao nosso núcleo, mas enriquecidos por uma visão mais ampla, por uma compreensão mais profunda da vida e de nós mesmos.

Mas, ir ao mundo também pode ser um movimento sutil, que não requer grandes viagens ou mudanças de ambiente. Pode ser a decisão de se engajar em uma conversa difícil, de se envolver em um projeto novo, ou de se permitir sentir e pensar de maneiras que antes evitávamos. É a vontade de crescer, de expandir a própria experiência, mesmo que seja dentro dos limites do que já é familiar.

Essa ideia pode nos lembrar da caverna de Platão, onde os prisioneiros, ao verem apenas sombras na parede, acreditam que aquilo é o mundo real. Ir ao mundo, nesse sentido, é sair da caverna, confrontar a luz, e lidar com a realidade em toda a sua complexidade, o que pode ser assustador, mas também profundamente libertador. E talvez, ir ao mundo seja menos sobre o lugar para onde vamos e mais sobre a abertura de espírito com a qual escolhemos viver, permitindo que cada experiência, por menor que seja, nos ensine algo novo sobre a vastidão que existe, tanto dentro quanto fora de nós.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Segredos Revelados

 


Vamos jogar um pouco de luz sobre algo que todos nós adoramos: segredos revelados. É como desembrulhar um presente, não é? Então, pegue sua xícara de café e se acomode, porque vamos explorar um pouco de filosofia e mergulhar nas situações do nosso dia a dia. Vamos começar com um pensador que você provavelmente já ouviu falar: Sócrates. Ele era meio que o mestre dos segredos revelados, não é mesmo? Sócrates acreditava na importância do autoconhecimento, daquela busca constante pela verdade dentro de nós mesmos. Imagine, descobrir seus próprios segredos! Não é demais?

Então, aqui estamos nós, todos navegando pelas águas do cotidiano. Todo mundo tem aquelas pequenas coisas que escondem, seja um desejo não compartilhado, uma paixão secreta por biscoitos à meia-noite, ou até mesmo aquela ansiedade que você tenta esconder dos outros. Mas e se começássemos a compartilhar esses segredos? Será que nos sentiríamos mais leves? Mais conectados?

Vamos falar sobre a amizade. É um terreno fértil para segredos revelados, não é mesmo? Aquelas conversas de madrugada, onde tudo parece possível. É quando desvendamos os mistérios uns dos outros, quando mostramos nossas vulnerabilidades. Afinal, é nos segredos compartilhados que encontramos verdadeira intimidade. Ah, e não podemos esquecer das reviravoltas na vida, aquelas surpresas inesperadas que revelam novos caminhos. Às vezes, um segredo guardado a sete chaves vira o enredo de uma história incrível. Quem diria, não é?

Um exemplo clássico da filosofia onde podemos citar um "segredo revelado" é a Alegoria da Caverna, apresentada por Platão em sua obra "A República". Na alegoria, Platão descreve um grupo de pessoas que passa a vida inteira acorrentado em uma caverna, sem poder ver a luz do sol. Eles só conseguem ver as sombras das coisas projetadas na parede da caverna, e essas sombras são tudo o que conhecem. Um dia, um dos prisioneiros é libertado e sai da caverna. Ele é exposto à luz do sol e descobre um mundo completamente novo, cheio de cores, formas e vida real. Ao retornar para a caverna e tentar contar aos outros sobre sua descoberta, eles não conseguem compreender ou aceitar o que ele está dizendo, pois estão acostumados apenas com as sombras que conhecem.

Essa alegoria representa o processo de filosofia e educação, onde a verdade é revelada aos poucos, e como muitas vezes as pessoas estão presas em suas próprias ilusões e concepções limitadas da realidade. O "segredo revelado" aqui é a verdade além das sombras da caverna, uma verdade que é inicialmente difícil de aceitar e compreender, mas que eventualmente conduz ao conhecimento mais profundo e à compreensão do mundo.

Outro exemplo de "segredo revelado" na filosofia pode ser encontrado na teoria do "Eterno Retorno" de Friedrich Nietzsche. Nietzsche propôs a ideia de que o universo e tudo nele estão condenados a repetir-se infinitamente em ciclos eternos. Isso significa que tudo o que aconteceu, está acontecendo e acontecerá se repetirá exatamente da mesma forma, num ciclo interminável. Para Nietzsche, o "segredo revelado" aqui é a aceitação desse conceito de Eterno Retorno. Ele desafia os indivíduos a considerarem a possibilidade de viverem suas vidas como se elas se repetissem eternamente, confrontando-os com a responsabilidade de suas ações e escolhas.

Ao aceitar e compreender o Eterno Retorno, Nietzsche sugere que as pessoas podem encontrar um sentido mais profundo na existência, buscando viver cada momento de forma intensa e significativa, sem arrependimentos ou desejos de mudar o passado, pois tudo se repetirá de qualquer maneira. Essa ideia desafiadora de Nietzsche sobre o Eterno Retorno pode ser vista como um "segredo revelado" que confronta as concepções tradicionais de tempo, causalidade e significado da vida.

Olhando para esses dois exemplos filosóficos - a Alegoria da Caverna de Platão e a teoria do Eterno Retorno de Nietzsche - é incrível como podemos encaixá-los em nosso cotidiano, mesmo que de formas bem diferentes. Então, pense comigo: a Alegoria da Caverna. Quantas vezes nos sentimos presos em nossas próprias cavernas, cercados por nossas rotinas, nossas ideias preconcebidas, nossas limitações auto impostas? A ideia é que, quando alguém nos mostra uma nova perspectiva, uma verdade diferente daquela que conhecemos, é como ter um segredo revelado. É como acender a luz em um quarto escuro e finalmente ver o que estava escondido nas sombras.

Agora, sobre o Eterno Retorno de Nietzsche, é uma daquelas ideias que fazem você parar e refletir sobre como está vivendo sua vida. Se tudo se repete infinitamente, o que você faria diferente? Como você viveria se soubesse que cada momento é eterno e se repetirá para sempre? É uma maneira de nos lembrar que cada ação, cada escolha, tem consequências que reverberam ao longo do tempo. Então, no final das contas, tanto a Alegoria da Caverna quanto o Eterno Retorno nos convidam a questionar nossas percepções, a desafiar nossas convicções e a buscar uma compreensão mais profunda do mundo ao nosso redor. E é aí que a filosofia se encontra com o cotidiano, nos incentivando a viver de forma mais consciente e autêntica, como se cada momento fosse um segredo a ser revelado.

Então, meus amigos, vamos abraçar esses segredos revelados. Vamos nos abrir para novas perspectivas, para a magia que acontece quando compartilhamos nossas verdades. Porque, afinal de contas, a vida é muito curta para escondermos quem realmente somos. Será que agora consegui instigar sua curiosidade para folhear as obras em busca da revelação de outros segredos? Afinal até as ideais mais loucas da filosofia se encaixam em nosso cotidiano, basta querermos desvendar os segredos que as obras carregam e subir no tapete mágico da imaginação.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Resenha do livro A Caverna de José Saramago


O escritor português José Saramago (1922-2010), ateu e liberal, autor de mais de 40 títulos e dentre eles inúmeros premiados e reconhecido mundialmente, um dos mais importantes escritores, romancista, contista, teatrólogo e poeta, utiliza uma linguagem oral que a torna diferenciada. “A Caverna” nasceu de um questionamento enquanto estava sozinho em um restaurante, foi arrebatado pelo seguinte: “E se fôssemos todos cegos?“. A conclusão do escritor é que estamos de fato cegos em vários sentidos, seja em relação a temas absurdos que se tornam banais, como a aceitação da violência física e verbal, extremismo e polaridade política, preconceitos, falsidades, descasos, indiferença e alienação.

Segundo Saramago, nunca fomos tão alienados quanto neste mundo midiático em que vivemos, por exercer um forte poder na formação de opiniões. O escritor faz uma comparação com o Mito da Caverna, do filósofo grego Platão, em que os indivíduos olham sombras e as confundem com a realidade. Da mesma forma, estamos na frente de televisões, computadores e celulares acreditando que estamos lidando com a realidade, muito do que surge e salta aos nossos olhos são falácias, fake news, mensagens deturpadas e moldadas com segundas intenções, muito vem como mensagens subliminares que sequer damo-nos conta da abdução, aos descuidados são meras sombras aparentemente inofensivas com seu colorido, imagens e sonorização hipnóticos direcionando a opinião e o comportamento da sociedade.

 

Vídeo com entrevista: José Saramago – O mito da caverna

https://www.youtube.com/watch?v=zGmV9A-XQgo&t=75s

https://youtu.be/zGmV9A-XQgo?t=115

 

Um dos fatores para acreditar nessa comparação é que frequentemente as notícias e informações que recebemos pela TV e internet são falsas ou tendenciosas, a situação torna-se ainda pior quando se constata que apenas as notícias extraordinárias recebem atenção, enquanto aquilo que é simples e corriqueiro (mas pode ser valioso e verdadeiro) é deixado de lado, deixado de lado pelos noticiários ou por nós mesmo que banalizamos e passamos a aceitar o inaceitável como normal, Saramago conclui, de forma pessimista, que não sabemos mais o que somos ou o que é a realidade, afinal que mundo é este que vivemos, como cegos não conseguimos mais ver a realidade.

Os pequenos detalhes cotidianos, a despeito de todo nosso avanço tecnológico, agora são imperceptíveis. O resultado final disso tudo é que não conseguimos mais estar, com nossa alma e nossa atenção, em lugar algum, antes sabíamos que abrir o mar vermelho era algo que só Deus podia fazer, com Spielberg e recentemente o metaverso, nada mais é impossível, houve uma inversão da realidade que deveria ser mais interessante passa-se para viver no metaverso que é a sombra das sombras.

A Caverna carrega uma gama de simbologias facilmente apreensível desnudando o lado socialista do autor tais como, a opressão de um sistema capitalista centralizador dominante, a burocratização das relações humanas em nome do sistema, a destruição das tradições pela evolução devoradora da tecnologia e industrialização, a robotização humana em prol da produção e consumo.

O enredo do romance concentra-se em um breve período de tempo, algumas semanas, na vida de um velho oleiro, Cipriano Algor, (ainda preso as antigas e obsoletas práticas de olaria), e alguns seres próximos a ele: a filha (Marta), o marido dela (Marçal) segurança do “Centro”, uma vizinha (Isaura) que lhe faz sentir o amor e ver na sua simplicidade e praticidade uma quebra de paradigma de igualdade de gênero, e o cachorro Achado. Ao contrário dos livros mais recentes do autor, nesse o andamento é lento e arrastado por querer fornecer detalhadas descrições do trabalho com o barro para a feitura primeiramente de utensílios domésticos e, em seguida, de bonecos artesanais, noutros momentos discorre acerca das facetas de seu cão aprofundando-se no mundo, comportamento e psicologia canina, seu relacionamento com seu dono, nada escapa ao olhar poético do autor.

O ganho de vida do oleiro está na produção de peças artesanais produzidas em sua olaria e vendidas para o “Centro” que parece um imenso shopping, seu único comprador, com a industrialização o plástico se tornou mais interessante para o consumidor e com isto as peças de louça deixaram de ser compradas culminando na perda de imediata de seu ganho de vida, diante do problema sua filha sugeriu que fabricassem bonecos para decoração a serem vendidos para o “Centro”. Em paralelo o seu genro (Marçal) que é segurança no “Centro” aguarda uma promoção para passar a ser segurança residente e assim levar para morar com ele no “Centro” a esposa e o sogro.

Saramago, habilmente trata dos conflitos pessoais e profissionais e fugazes lampejos de iluminação e esperança, alegrias, angustias e as vezes o desespero de não ter a frente perspectivas, seu trabalho que é seu único meu de subsistência ameaçado de extinção e o fantasma de ter de viver às custas do genro.

Apenas nos trechos finais -quando surge a "caverna" que dá título ao livro- a narrativa se acelera, para culminar em uma das conclusões mais bem resolvidas da obra do autor, a família já morando no “Centro” passa a se sentir angustiada pelo sentido de aprisionamento vivendo nas sombras do mundo e realidades produzidas a semelhança do mundo exterior, movido por sua curiosidade o oleiro consegue entrar na caverna descoberta no subsolo do centro e lá o que vê é a cena descrita por Platão no mito da caverna o resgata daquele mundo de sombras levando-o e aos demais em seu tempo a sair do Centro e retomar as rédeas da vida.

É um livro superinteressante, proporciona uma leitura que faz um paralelo de reflexão acerca das formas e modos culturais adotados por nossa sociedade cada vez mais dependente das ideias e ideais propostos pela mídia paga pelos poderosos processos de industrialização e capitalismo voltados para o consumo pelo consumo.

 

Fonte:

Saramago, José. 1922-2010. A caverna - 2ª ed. São Paulo. Companhia das Letras, 2017