Estava assistindo a publicação do Instagram do jacobpetry e após assistir pensei sobre o que disse faz todo o sentido, e por que não trazer o que ele falou e mais um pouco para nossas reflexões, fica ai o link, vale a pena seguir o “cara”.
(https://www.instagram.com/reel/DNIVNVZunFt/?utm_source=ig_web_copy_link)
Podemos
pensar o mito de Narciso como uma das primeiras narrativas sobre a
fascinação com a própria imagem — e talvez a “primeira selfie” da
história não tenha sido capturada por uma câmera, mas por um lago silencioso.
Hoje, a tela do celular substituiu a superfície da água; o reflexo deixou de
depender da natureza para ser produzido por um dispositivo portátil que cabe na
palma da mão. Mas a essência do gesto — parar para se olhar e eternizar esse
momento — continua surpreendentemente semelhante. Não é fantástico o que a
filosofia faz com nossos pensamentos? Quanto mais nos aventuramos em seu
território, mais somos atraídos a nos aprofundarmos em seu labirinto.
No
mito, Narciso não se reconhece como quem olha e é olhado. Ele vê um outro, mas
é ele mesmo. A selfie repete esse paradoxo: embora saibamos que a foto é nossa,
ela vem com a ilusão de ser um “objeto” separado de nós, algo que podemos
manipular, filtrar, enquadrar, repetir até que o reflexo agrade. O gesto de
segurar o celular na frente do rosto é, de certa forma, um ritual moderno de
afirmação: “eu sou assim” — ou, mais exatamente, “eu quero ser visto assim”.
O
filósofo francês Jean Baudrillard nos alertou sobre o risco do
“hiper-real” — um mundo em que a imagem já não representa, mas sim substitui a
realidade. Nesse sentido, a selfie não é apenas registro, é também construção.
Ela cria uma versão editada do eu que pode, com o tempo, rivalizar com o que
realmente somos. Se Narciso se perdeu no reflexo, hoje há quem se perca na
imagem filtrada que publica, vivendo mais na superfície digital que na presença
concreta.
Já
Byung-Chul Han observa que, na sociedade da transparência e da exposição
constante, a autoimagem torna-se um capital social. O que era fascínio íntimo
com o próprio rosto, como no lago de Narciso, agora é moeda de troca: curtidas,
seguidores, relevância. Olhar-se não é apenas um prazer estético, mas uma
necessidade estratégica.
Curiosamente,
no mito, Narciso morre ao tentar se fundir com o reflexo. No mundo
contemporâneo, não morremos fisicamente por tirar selfies — mas há uma morte
simbólica possível: a perda de contato com a complexidade interna, reduzida a
poses. Como advertiu Sêneca, “nenhum vento é favorável para quem não
sabe a que porto se dirige” — e quando navegamos apenas pelo mar das
aparências, corremos o risco de nunca ancorar.
Talvez
o que falte à “primeira selfie” moderna seja o gesto que Narciso não conheceu:
o afastar-se do reflexo para mergulhar na vida. Porque, ao contrário da água
imóvel, o mundo se move, e nele há mais beleza do que qualquer câmera pode
capturar.