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sábado, 5 de abril de 2025

Fluido e Efêmero

O Movimento Contínuo da Vida

A gente tem mania de tentar segurar o tempo, como quem segura água entre os dedos. Tentamos congelar momentos, definir conceitos fixos, criar identidades estáveis, mas a verdade é que tudo escorre, desliza e se transforma. Ser fluido e efêmero não significa estar vazio ou sem significado, mas sim estar atento a tudo o que emerge no fluxo da vida. E se, ao invés de temermos essa transitoriedade, aprendêssemos a dançar com ela?

O Equilíbrio entre Permanência e Mudança

Heráclito já dizia que não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque nem o rio é o mesmo, nem nós somos os mesmos. No entanto, vivemos tentando criar pontos fixos: queremos verdades eternas, planos definitivos, identidades imutáveis. Isso porque o ser humano tem um instinto de segurança, uma necessidade de ancorar-se em algo sólido. Mas a grande ironia é que essa solidez não existe. A segurança real talvez esteja na capacidade de se adaptar, na abertura para o novo, na coragem de aceitar o imprevisível.

Se olharmos para a natureza, percebemos que tudo nela pulsa entre criação e dissolução. As ondas quebram e se refazem, as estações giram sem cessar, até as montanhas, que parecem tão imponentes, estão em constante erosão. Nada está verdadeiramente parado. O problema não é a fluidez da vida, mas sim a nossa resistência a ela.

Atenção ao que Surge

Ser fluido e efêmero não significa falta de direção ou propósito. Pelo contrário, implica um tipo de presença que não se apega ao passado nem se aflige com o futuro. É como uma dança em que cada passo responde ao instante presente, ao que surge, ao que pulsa agora. Em vez de ficarmos presos a uma versão fixa de nós mesmos, podemos ser como a água: moldando-se ao recipiente sem perder sua essência.

N. Sri Ram, um pensador que entendia bem essa natureza mutável da existência, falava da importância da atenção plena. Ele dizia que a consciência desperta não é aquela que busca fixidez, mas sim aquela que percebe o movimento interno e externo sem se perder nele. Quando nos tornamos atentos ao fluxo da vida, começamos a perceber que o efêmero não é sinônimo de insignificante, mas sim de intensidade vivida no agora.

Vivendo a Transitoriedade com Leveza

O medo da impermanência nos leva a criar armaduras: dogmas, certezas rígidas, uma identidade inabalável. Mas e se, ao invés de temermos o fluxo, aprendêssemos a navegar nele? Quem já se jogou no mar sabe que, se você luta contra as ondas, se cansa rápido. Mas se aprende a flutuar, a deslizar junto com a correnteza, tudo se torna mais fácil. Viver a fluidez da vida talvez seja mais uma questão de aceitação do que de controle.

Assim, ser fluido e efêmero não é ser raso ou sem identidade, mas sim estar disponível para o que a vida traz, sem rigidez, sem resistência, com olhos abertos para cada instante. Afinal, se tudo passa, que passe de maneira bela, atenta e verdadeira.