O Movimento Contínuo da Vida
A
gente tem mania de tentar segurar o tempo, como quem segura água entre os
dedos. Tentamos congelar momentos, definir conceitos fixos, criar identidades
estáveis, mas a verdade é que tudo escorre, desliza e se transforma. Ser fluido
e efêmero não significa estar vazio ou sem significado, mas sim estar atento a
tudo o que emerge no fluxo da vida. E se, ao invés de temermos essa
transitoriedade, aprendêssemos a dançar com ela?
O
Equilíbrio entre Permanência e Mudança
Heráclito
já dizia que não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque nem o rio é o
mesmo, nem nós somos os mesmos. No entanto, vivemos tentando criar pontos
fixos: queremos verdades eternas, planos definitivos, identidades imutáveis.
Isso porque o ser humano tem um instinto de segurança, uma necessidade de
ancorar-se em algo sólido. Mas a grande ironia é que essa solidez não existe. A
segurança real talvez esteja na capacidade de se adaptar, na abertura para o
novo, na coragem de aceitar o imprevisível.
Se
olharmos para a natureza, percebemos que tudo nela pulsa entre criação e
dissolução. As ondas quebram e se refazem, as estações giram sem cessar, até as
montanhas, que parecem tão imponentes, estão em constante erosão. Nada está
verdadeiramente parado. O problema não é a fluidez da vida, mas sim a nossa
resistência a ela.
Atenção
ao que Surge
Ser
fluido e efêmero não significa falta de direção ou propósito. Pelo contrário,
implica um tipo de presença que não se apega ao passado nem se aflige com o
futuro. É como uma dança em que cada passo responde ao instante presente, ao
que surge, ao que pulsa agora. Em vez de ficarmos presos a uma versão fixa de
nós mesmos, podemos ser como a água: moldando-se ao recipiente sem perder sua
essência.
N.
Sri Ram, um pensador que entendia bem essa natureza mutável da existência,
falava da importância da atenção plena. Ele dizia que a consciência desperta
não é aquela que busca fixidez, mas sim aquela que percebe o movimento interno
e externo sem se perder nele. Quando nos tornamos atentos ao fluxo da vida,
começamos a perceber que o efêmero não é sinônimo de insignificante, mas sim de
intensidade vivida no agora.
Vivendo
a Transitoriedade com Leveza
O
medo da impermanência nos leva a criar armaduras: dogmas, certezas rígidas, uma
identidade inabalável. Mas e se, ao invés de temermos o fluxo, aprendêssemos a
navegar nele? Quem já se jogou no mar sabe que, se você luta contra as ondas,
se cansa rápido. Mas se aprende a flutuar, a deslizar junto com a correnteza,
tudo se torna mais fácil. Viver a fluidez da vida talvez seja mais uma questão
de aceitação do que de controle.
Assim,
ser fluido e efêmero não é ser raso ou sem identidade, mas sim estar disponível
para o que a vida traz, sem rigidez, sem resistência, com olhos abertos para
cada instante. Afinal, se tudo passa, que passe de maneira bela, atenta e
verdadeira.