"A vida segundo axiomas (ou quase isso…)"
Outro
dia, estava parado embaixo de uma árvore que parecia mais sábia do que eu,
comecei a pensar em como algumas coisas na vida parecem inegociáveis. Sabe
quando você pensa: “isso é certo demais para ser errado”? Tipo o fato de que
quem ama, cuida. Ou que a gente não consegue enganar a própria consciência por
muito tempo. São ideias que não precisam de justificativa — simplesmente se
sustentam. E aí me ocorreu: será que carregamos axiomas na vida do mesmo jeito
que a matemática carrega os seus?
Axiomas
são aquelas verdades que não precisam de prova, que servem como ponto de
partida para tudo o que vem depois. Tipo "duas coisas iguais a uma
terceira são iguais entre si". Bonito, né? Mas o que aconteceria se a
gente aplicasse essa lógica à existência? E mais: será que nossas certezas mais
profundas não funcionam também como um tipo de axioma íntimo, pessoal,
construído entre tropeços, cafés frios e silêncios longos demais?
Axiomas
existenciais
Na
vida, os axiomas não vêm em latim nem em livros encadernados. Vêm em forma de
sensação, cicatriz ou intuição. Um deles pode ser: “se algo te tira a paz, é
caro demais”. Ou ainda: “quem muito se adapta, às vezes desaparece”. Não são
verdades universais como as da lógica, mas têm a mesma função: organizar o
caos. Ajudam a construir sentido, como pilares invisíveis que sustentam nossas
decisões mais profundas.
Aliás,
talvez o grande diferencial entre os axiomas da lógica e os da vida esteja na
origem: os primeiros são dados; os segundos, vividos.
Quando
os axiomas colapsam
Mas
nem tudo é estático. Às vezes, a vida desafia os próprios princípios que usamos
para vivê-la. O que era um axioma emocional — “eu jamais perdoaria isso” — pode
ruir diante do tempo, do amor ou da maturidade. E aí vem o abalo: se até meu
próprio alicerce é instável, o que resta? É aí que a filosofia entra, não pra
dar respostas prontas, mas pra nos lembrar que viver é, também, revisar nossos
axiomas.
O
filósofo Paul Ricoeur dizia que a identidade é narrativa — ou seja, a gente se
conta, se reconstrói. E nesse processo, talvez nossos "axiomas da
alma" também mudem de roupa, tomem outro café, escolham outro caminho.
O
axioma do inacabamento
Se
eu tivesse que propor um axioma para a vida, um só, seria esse: tudo o que vive
está em processo. É o princípio da impermanência com roupa de domingo. Ele
permite que a gente erre, recomece, mude de ideia, ame de novo, cresça. Ele
aceita que sejamos paradoxos ambulantes, frágeis e ao mesmo tempo convictos —
como alguém que diz “dessa água não beberei” segurando o copo meio cheio.
Concluindo
(ou quase)
Talvez
viver seja isso: escolher com cuidado os axiomas que nos habitam, sabendo que
eles podem se transformar. E quando mudam, não significa que falhamos, mas que
avançamos uma casa nesse estranho tabuleiro da existência.
E
você? Quais são os seus axiomas secretos? Aqueles que guiam sua vida, mesmo que
ninguém tenha te ensinado? Pensar sobre isso não vai resolver tudo. Mas pode
deixar o próximo café com gosto de filosofia. E isso, cá entre nós, já é muita
coisa.