Falar sobre a morte é como discutir a política na mesa de jantar: um assunto delicado, mas inevitável. Ainda assim, ao invés de evitarmos o tema ou tratá-lo com solenidade, cada vez mais estamos optando por uma abordagem mais informal e leve. Vamos pensar como essa informalidade se manifesta no nosso dia a dia e o que alguns pensadores têm a dizer sobre isso.
No Café da Manhã
Imagine a cena: você está tomando café com amigos e
alguém menciona o novo seriado que todos estão assistindo. De repente, surge a
piada: “Nossa, ele morreu tão de repente no último episódio! Bem no meio da
pipoca!” O grupo ri, e por um momento, a morte se torna apenas mais um detalhe
do roteiro, nada mais que uma reviravolta intrigante.
No Escritório
No escritório, é comum ouvir comentários rápidos e
descompromissados sobre a morte. “Se eu não entregar esse relatório a tempo,
vou morrer!” ou “Esse cliente vai me matar com essas exigências!” são
expressões que misturam o cotidiano profissional com uma aceitação prática do
fim. Aqui, a morte vira uma metáfora para estresse e prazos apertados, quase
uma hipérbole inofensiva.
No Bar
À noite, no bar, entre uma cerveja e outra, o humor
negro pode tomar conta. Alguém pode brincar: “Se eu beber mais uma dessas, vão
ter que me carregar pra casa... ou pro hospital!” Entre amigos, a morte vira
tema de piadas, uma maneira de tirar o peso do inevitável. Esse tipo de humor
pode ser uma forma de lidar com o medo, tornando o assunto menos assustador.
Um Olhar Filosófico
Vamos trazer um pensador para enriquecer essa
conversa: o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard. Ele argumentou que a
consciência da morte é fundamental para uma vida autêntica. Kierkegaard sugeria
que ao aceitar a inevitabilidade da morte, podemos viver de maneira mais plena
e significativa. Ele diria que essa informalidade, essa maneira despreocupada
de falar sobre a morte, pode ser uma forma de integrar essa aceitação em nossas
vidas cotidianas.
O Outro Lado
Claro, nem todo mundo acha essa abordagem
apropriada. Para muitos, a morte é um tema sagrado, que deve ser tratado com
respeito e seriedade. Um velório ou funeral, por exemplo, dificilmente seria
lugar para essas brincadeiras. O luto é um processo profundo e pessoal, e a
informalidade pode parecer desrespeitosa ou insensível.
No fim das contas, falar sobre a morte de maneira
informal pode ser uma forma de torná-la menos assustadora, mais uma parte
natural da nossa conversa diária. Desde as piadas no bar até os comentários
despretensiosos no escritório, estamos, talvez sem perceber, aprendendo a lidar
melhor com a ideia da nossa mortalidade.
Kierkegaard nos lembraria que aceitar a morte é viver mais intensamente. E se a informalidade nos ajuda a chegar lá, talvez seja uma abordagem válida. Afinal, como diz o velho ditado, “a única certeza na vida é a morte e os impostos” – então por que não tirar um pouco do peso de pelo menos uma dessas certezas? Em última análise, cada um de nós encontrará sua própria maneira de encarar a morte. Seja com piadas ou com silêncio respeitoso, o importante é que, quando o momento chegar, possamos enfrentá-lo com a coragem e a autenticidade que Søren Kierkegaard tanto valorizava.
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