Se “inticar o destino” é, de certo modo, “cutucar” o destino, a imagem muda. Em vez de uma busca silenciosa e introspectiva, estamos lidando com um gesto ativo, provocador – quase uma tentativa de desafiar o destino, de instigá-lo para que se revele. Inticar o destino significa, então, tirar a vida de seu curso seguro, empurrá-la para zonas desconhecidas, com a esperança de que alguma verdade maior ou caminho inesperado se desdobre a partir daí.
Esse
impulso é próprio da natureza humana. Queremos respostas e, muitas vezes, não
conseguimos esperar pacientemente que a vida nos revele seu sentido. Assim,
experimentamos, testamos possibilidades, tomamos decisões que podem parecer
impulsivas ou arriscadas. É como se, em vez de apenas escutar o que a vida nos
oferece, quiséssemos ver até onde ela aguenta nossas perguntas e nossas
provocações.
Nietzsche,
o filósofo alemão, talvez fosse o maior “cutucador de destinos” da filosofia.
Ele nos convida a romper com as verdades prontas e com os destinos impostos, a
questionar incessantemente quem somos e para onde vamos, até o ponto em que a
própria vida se reinventa. Para ele, o destino não é uma estrada
pré-determinada, mas algo que se molda em nossa interação com o mundo, nas
escolhas que fazemos e nos riscos que decidimos correr. Cutucar o destino,
nesse sentido, seria o mesmo que abraçar a aventura de uma vida com coragem e
intensidade.
Por
outro lado, ao inticar o destino, também corremos o risco de despertar aquilo
que preferíamos manter adormecido. Existe uma sabedoria antiga que nos adverte
a ser cautelosos com o que pedimos – ou, neste caso, com o que provocamos.
Quando instigamos o destino, estamos abrindo portas, nem sempre sabendo o que
há do outro lado. Existe uma beleza nisso, mas também uma incerteza. Ao cutucar
o destino, ele pode responder de formas inesperadas, colocando-nos em situações
que talvez jamais tivéssemos antecipado.
E,
no fim, inticar o destino talvez seja um convite a viver uma vida plena e não
se deixar levar pela inércia. Ao cutucar, provocamos a nós mesmos a sair do
conforto, a testar a firmeza dos nossos desejos e a descobrir quem realmente
somos. O destino não responde a quem apenas espera; ele responde, sobretudo, a
quem se atreve a desafiá-lo.
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