Estava escutando a música “Eu Quero Sempre Mais” com Pitty e Ira no acústico do Ira, e não poderia deixar passar este breve momento de reflexão. O desejo de querer sempre mais é como uma chama que nunca se apaga completamente. Esse "mais" é a busca incessante por algo que, por vezes, nem sabemos exatamente o que é, mas que sentimos que está ali, fora do alcance, esperando para ser conquistado. O querer mais, no entanto, pode ser uma jornada de descobertas profundas ou uma prisão de insatisfações eternas. E é nesse ponto que a filosofia tem muito a nos dizer.
Link da Música “Eu quero sempre mais”:
https://www.youtube.com/watch?v=NwZNsOaY-fU&list=RDBj8t8oaNSOc&index=7
O Desejo: Motor e Prisão
Desde os tempos antigos, filósofos analisaram a
natureza do desejo e da ambição. Para Platão, o desejo era parte da alma
humana, um dos elementos que compõem a essência do ser. Porém, o desejo, se não
controlado, poderia nos afastar do que ele chamava de "Bem" – aquilo
que nos traria verdadeira realização. Esse querer sempre mais nos lança numa
busca pelo inalcançável, mas será que essa busca é produtiva?
Schopenhauer, por exemplo, vê o desejo como uma
força que nos impulsiona, mas que, ao mesmo tempo, nos escraviza. Para ele, a
vida é uma dança entre desejar e se frustrar. Quando obtemos o que queremos,
logo um novo desejo aparece, e o ciclo recomeça. É uma prisão, mas ao mesmo
tempo é o motor que nos mantém em movimento. Nessa visão, o querer mais é uma
espécie de condenação, um ciclo perpétuo de insatisfação.
A Ilusão do Mais
Vivemos em uma sociedade que celebra o "sempre
mais": mais dinheiro, mais bens materiais, mais status, mais sucesso.
Parece que, quanto mais temos, mais acreditamos que estamos próximos da
felicidade. Mas essa é uma ilusão poderosa. Hannah Arendt nos lembra que, ao
confundir o ter com o ser, acabamos por diluir nossa própria identidade,
trocando o sentido de vida por um acúmulo de objetos ou realizações externas.
Esse querer constante nos afasta de apreciar o que
já temos. Ao focar no que falta, esquecemos de reconhecer o que já está
presente. Em vez de saborear o momento, olhamos constantemente para o próximo
desejo, para a próxima meta. É como caminhar numa esteira: movemos as pernas,
fazemos esforço, mas não saímos do lugar. A satisfação plena parece sempre
escorregar pelos nossos dedos.
Querer Mais: Um Caminho de Crescimento ou um Ciclo
de Vazio?
Se o desejo e a ambição fazem parte da nossa
natureza, como então lidar com esse querer mais sem nos perdermos? Talvez a
resposta esteja em compreender que o "mais" que buscamos não precisa
ser necessariamente material ou imediato. Podemos canalizar esse desejo para o
autoconhecimento, para a busca de experiências significativas e para o cultivo
de valores internos.
Nietzsche, com sua filosofia do "Eterno
Retorno", nos provoca a pensar sobre a qualidade das nossas escolhas. Se
soubéssemos que teríamos que viver esta vida, exatamente como ela é,
eternamente, será que ainda assim desejaríamos as mesmas coisas? Ao trazer essa
reflexão, ele nos convida a ponderar sobre o que realmente vale a pena ser
desejado. Esse "mais" que queremos pode, muitas vezes, ser apenas uma
distração para evitar enfrentar o vazio existencial.
O Equilíbrio Entre o Querer e o Ser
Talvez a chave esteja em encontrar um equilíbrio. O
querer mais pode nos impulsionar, mas precisa ser um desejo consciente, que
esteja em sintonia com nossa essência. Ao invés de buscar preencher o vazio com
coisas externas, podemos buscar uma expansão do "ser" em vez de
apenas do "ter".
Esse “sempre mais” pode então se transformar numa
busca saudável, onde o desejo deixa de ser uma prisão e passa a ser uma força
de crescimento. Buscar mais sabedoria, mais compaixão, mais compreensão – esses
são desejos que nos alimentam, em vez de nos esgotar.
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