O Eco do Nada no Cotidiano
Ah, a balela... essa palavra que soa como o
balançar de folhas ao vento, mas que ao mesmo tempo carrega a leveza de algo
que não se sustenta. No fundo, é a essência daquilo que parece ser, mas não é;
do que promete sentido, mas entrega o vazio.
Imagine a cena: você está no trabalho, rodeado por
colegas que discutem animadamente sobre as buzzwords do mês. “Precisamos
pivotar a estratégia”, alguém anuncia com um olhar triunfante. Outro emenda:
“Mas sem perder o foco no core business”. Você ouve, acena, mas, por dentro, já
sabe que nada de concreto sairá dali. Balela pura. Um espetáculo de palavras
que giram em torno de si mesmas, mas que no fim só ocupam espaço.
Mas não precisamos ir tão longe. Pense naquele
grupo de WhatsApp da família, onde surgem correntes que prometem milagres.
“Passe limão no pé e cure sua ansiedade em 24 horas.” É balela em estado bruto,
mas, curiosamente, encontra solo fértil. Talvez porque em meio ao caos da
modernidade, até o absurdo reconforta.
O Cotidiano da Balela
A balela vive nos detalhes:
No chefe que diz “a empresa é uma família” enquanto
corta benefícios.
No amigo que jura “qualquer coisa, estou aqui” e
some quando você precisa de ajuda.
Na política, onde slogans vazios prometem mudanças
impossíveis.
O mais curioso é que a balela não só sobrevive, mas
prospera. Ela seduz, porque entrega um simulacro de verdade sem exigir esforço.
A realidade é complexa e árdua; a balela, por outro lado, oferece atalhos
fáceis para a mente cansada.
Filosofando Sobre a Balela
Quem melhor para nos guiar aqui do que Sócrates, o
homem que foi condenado por desmascarar balelas da sua época? Ele andava pelas
ruas de Atenas fazendo perguntas incômodas, desnudando certezas alheias até que
o interlocutor admitisse: “Afinal, não sei de nada.” Sócrates entendia que a
balela é um escudo contra o desconforto da ignorância.
Mas e hoje? Vivemos na era da informação, onde o
acesso ao conhecimento nunca foi tão amplo. Ainda assim, a balela prospera.
Talvez porque, como apontou o filósofo Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos:
tudo é rápido, efêmero e sem profundidade. A balela é o reflexo perfeito dessa
liquidez, pois se molda às expectativas momentâneas sem nunca se fixar em algo
sólido.
Resistindo à Balela
O antídoto para a balela não é ignorá-la, mas
confrontá-la. No trabalho, pergunte: “Como isso se traduz em ações práticas?”
No grupo do WhatsApp, envie um link confiável que desmascare a corrente. Na
política, exija transparência e coerência.
Mas, acima de tudo, observe-se. Quantas vezes nos rendemos à balela para evitar conflitos ou alimentar ilusões? Reconhecer isso é o primeiro passo para não apenas resistir à balela alheia, mas também à nossa própria. Afinal, como diria Nietzsche, “Não são as dúvidas que nos enlouquecem, mas as certezas.” E muitas dessas certezas, quando olhadas de perto, não passam de balelas bem embrulhadas.
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