Que mundo louco é este em que vivemos! Pensei: Logo, Não Vou Me Adaptar!
Link
da Musica “Não Vou Me Adaptar” com Nando Reis e Arnaldo Antunes
https://www.youtube.com/watch?v=ti7ZvZBLN4c&list=RDBj8t8oaNSOc&index=10
"Não
vou me adaptar" soa como uma declaração carregada de convicção, uma
bandeira da resistência pessoal. Adaptar-se, afinal, muitas vezes é
interpretado como uma renúncia, um ceder àquilo que nos parece estranho ou
contrário ao que desejamos. Mas o que está por trás dessa recusa de adaptação?
Qual o papel do não-adequar-se em nossa existência?
O
filósofo francês Albert Camus, em sua obra sobre o absurdo, nos convida a
refletir sobre essa questão. Para ele, o mundo é indiferente aos nossos desejos
e vontades. Há um "absurdo" fundamental em esperar que o universo
tenha sentido ou propósito e, ao mesmo tempo, buscar uma adaptação total a ele.
Viver seria então um ato de resistência, uma escolha em aceitar a falta de
sentido, sem nunca se render à indiferença que o mundo nos apresenta.
Quando
dizemos "não vou me adaptar," estamos, em certo sentido, tomando uma
posição semelhante à de Camus. Estamos recusando um ajuste total às
expectativas, sejam sociais, culturais, ou até mesmo pessoais, que não nos
representam. Essa recusa não é, necessariamente, uma negação do mundo, mas uma
afirmação de algo íntimo que insiste em existir apesar das pressões externas.
Por
outro lado, há quem argumente que a adaptação é parte da essência humana. A
teoria da evolução, por exemplo, nos mostra que a sobrevivência das espécies
está ligada à capacidade de adaptar-se. No entanto, talvez a questão não seja
simplesmente sobreviver, mas viver de acordo com quem se é. E é nesse ponto que
a ideia de "não vou me adaptar" ganha um contorno existencial mais
profundo.
Para
o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, "o homem está condenado a ser
livre." Isso significa que estamos constantemente fazendo escolhas e, ao
escolher, definimos quem somos. Sartre defende que, quando nos adaptamos de
forma irrefletida, sem considerar a autenticidade de nossas escolhas, estamos
fugindo de nossa liberdade e, em certo sentido, negando nossa própria
existência. Ao decidir "não vou me adaptar," estamos, então,
exercendo nossa liberdade e afirmando a responsabilidade sobre nossas próprias
escolhas.
Adaptar-se
pode também significar sucumbir à pressão da "normalidade" – uma
pressão que, muitas vezes, nos dilui em identidades coletivas e em papéis
pré-estabelecidos. Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, fala sobre a
"modernidade líquida," onde tudo está em constante mudança, e as
identidades, antes sólidas e fixas, se tornaram fluídas. Adaptar-se, nesse
contexto, é se perder em uma corrente de impermanência, em que nada é
totalmente estável. Talvez o "não vou me adaptar" seja uma tentativa
de resistir a essa fluidez despersonalizante, de fincar raízes em um solo
próprio, mesmo que este seja pequeno e talvez pouco fértil.
Porém,
a recusa de adaptação não é, em si, um caminho fácil. Não se adaptar é
desviar-se do conforto de um caminho já traçado e aceitar o risco da incerteza.
Ao escolher não adaptar-se, a pessoa assume uma posição solitária, pois o
coletivo, em sua maioria, busca a homogeneidade para se proteger da diferença e
da dúvida. Ainda assim, essa escolha pode ser a única maneira de se viver com
integridade. E é nesse sentido que "não vou me adaptar" se torna
quase uma ética pessoal, uma resistência em prol da preservação do que se é.
O
que significa, então, essa postura para o dia a dia? Significa dizer não quando
a maré nos empurra para dizer sim. É recusar-se a participar de um jogo cujas
regras nos desagradam, mesmo sabendo que isso pode trazer exclusão e solidão. É
escolher, conscientemente, não se dissolver na massa, e estar disposto a
suportar as consequências disso.
Ao
fim, talvez o "não vou me adaptar" seja menos uma declaração de
confronto e mais uma afirmação de autenticidade. Ele pode ser, paradoxalmente,
um caminho para o próprio autoconhecimento. Afinal, quem recusa adaptar-se está
buscando algo: uma verdade interior que resiste ao molde, uma essência que
insiste em permanecer intacta, mesmo quando o mundo a pressiona a se dobrar. É
uma busca que nos lembra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que em sua
obra "Assim Falou Zaratustra" proclama: “Torna-te quem tu és."
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