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sábado, 10 de maio de 2025

Lupa e Espelho

Um Mate com o Objetivismo e o Subjetivismo...

Outro dia, esperando a água do chimarrão esquentar, me peguei encarando a chaleira. O vapor subia em espirais meio caóticas e pensei: “Será que ele existe assim mesmo ou só está assim porque eu estou vendo desse jeito?”. A chaleira continuou lá, alheia à minha filosofia de cozinha, mas o pensamento ficou. A vida, afinal, parece balançar entre duas grandes vontades: a de que as coisas sejam como são (objetivamente) e a de que sejam como sentimos que são (subjetivamente). Esse é o cabo de guerra silencioso entre objetivismo e subjetivismo.

A razão e o eu: um encontro (nem sempre cordial)

O objetivismo quer o mundo como ele é, sem firulas. A verdade está lá fora, como dizia Arquimedes antes de descobrir a alavanca e a física clássica inteira. Os objetivistas acreditam que há um modo certo de olhar as coisas, um ponto fixo. Já o subjetivismo sussurra outra coisa: que a verdade passa pelo nosso olhar, pelas nossas entranhas emocionais, pela forma como o mundo nos atravessa.

O primeiro problema é que ninguém acorda pela manhã como um puro objetivista. Ninguém diz: “Hoje me sinto objetivamente bem”. A gente diz: “Acordei meio estranho, o tempo tá pesado, parece que o mundo tá fora do lugar”. A verdade, mesmo que externa, parece sempre entrar pela nossa porta interna.

O copo meio cheio (ou meio vazio?) — depende

Vamos a um exemplo doméstico. Você e um amigo assistem ao mesmo filme. Um acha brilhante, o outro acha arrastado. O objetivista tentaria medir o ritmo, analisar a edição, calcular a densidade dramática. O subjetivista diria: “O filme me tocou, e isso basta”. A crítica de cinema vive dessa disputa: quantas estrelas cabem entre o gosto pessoal e os critérios técnicos?

Mas e se os dois tiverem razão? E se a realidade for uma espécie de “camada dupla”, como uma lasanha metafísica — uma camada objetiva de fatos, outra subjetiva de significados?

Nietzsche, o árbitro relutante

Nietzsche, sempre desconfiado das verdades em mármore, nos oferece uma saída ousada: não existe fato sem interpretação. Para ele, o que chamamos de “realidade” é sempre uma construção. Ou seja, até mesmo o objetivismo é uma espécie de subjetivismo disfarçado de jaleco branco.

Mas isso não quer dizer que tudo seja relativo. Nietzsche não é um libertino epistemológico. O que ele quer dizer é que a realidade é uma batalha de interpretações. Algumas vencem, outras murcham. Não porque sejam mais verdadeiras, mas porque são mais fortes, mais convincentes, mais úteis.

A busca de um meio do caminho

Hoje, muitos filósofos preferem falar em intersubjetividade — uma ponte entre o mundo pessoal e o mundo comum. Não é nem o absoluto frio do objetivismo, nem o caos solipsista do subjetivismo. É a ideia de que compartilhamos sentidos, narrativas, significados. A cultura, a linguagem e os valores são construções intersubjetivas: nem estão lá no mundo puro, nem só dentro da nossa cabeça. Estão entre nós.

A chaleira da minha cozinha, por exemplo, é um objeto físico, mas também é o símbolo da pausa, do mate, da memória afetiva. Ela existe em dois mundos: no da física e no do afeto. O subjetivismo a aquece, o objetivismo a estrutura. E nós vivemos no intervalo entre essas duas forças.

Olhar e ser olhado

No fundo, talvez o maior desafio não seja escolher entre objetivismo ou subjetivismo, mas aprender a habitar essa tensão. Como quem vê o reflexo no espelho e, ao mesmo tempo, tenta entender a face que o espelho reflete. A realidade é um pouco como aquela chaleira: ferve quando a gente não está olhando, mas parece querer dizer algo quando nos aproximamos.

Talvez filosofar seja isso: aquecer a água do pensamento até que o vapor forme perguntas. E então, entre a razão objetiva e o sentimento subjetivo, servir um mate morno com a dúvida no lugar do açúcar.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Mais Igual

Mais igual que o outro e a ilusão das comparações. Há um certo encanto na forma como nos comparamos aos outros. Desde cedo, aprendemos a medir nosso sucesso, felicidade e até mesmo nosso valor pessoal com base no que vemos ao nosso redor. Mas será que isso faz sentido? No fundo, não estamos todos em nossas jornadas individuais, cada uma com suas particularidades e desafios únicos?

Imagine a cena: você está numa festa, observando as pessoas ao redor. Um amigo chega e comenta sobre como um conhecido comum acabou de ser promovido no trabalho. Você, que ainda está lutando para encontrar seu caminho profissional, sente um aperto no peito. A comparação é inevitável, mas será justa?

Comparar-se aos outros é como tentar medir a beleza de uma flor pela altura de uma árvore. Cada um tem seu próprio tempo de florescer e crescer. É o que a filósofa Simone de Beauvoir nos lembra em sua obra. Ela disse que a comparação é a morte da alegria, pois ao focarmos no que os outros têm, esquecemos de apreciar o que é nosso.

Na fila do supermercado, você vê uma mãe aparentemente perfeita com seus filhos educados. Seu próprio filho, naquele exato momento, está tendo um ataque de birra. Novamente, a comparação surge. Mas a verdade é que você não sabe o que aquela mãe enfrenta quando não está sob os olhares dos outros. Talvez ela tenha desafios que você nem imagina.

Na era das redes sociais, a comparação se tornou uma epidemia. As fotos editadas, os momentos selecionados, as vidas que parecem perfeitas... tudo isso cria uma ilusão de que estamos constantemente atrás. Como diz a autora Brené Brown, "A comparação é o ladrão da felicidade". A realidade é que cada post é uma fração ínfima da vida real, muitas vezes embelezada e curada para parecer melhor do que realmente é.

E então, por que nos comparamos? Talvez porque a natureza humana busca pertencimento e aceitação. Mas a verdadeira aceitação começa dentro de nós. Em vez de medir nosso valor pelo sucesso dos outros, deveríamos olhar para nossa própria jornada com gentileza e compreensão.

Lembre-se da última vez que você sentiu orgulho de algo que fez. Pode ter sido uma pequena vitória, como terminar um projeto ou ajudar um amigo. Esses momentos são valiosos e, quando focamos neles, percebemos que estamos progredindo, mesmo que de maneira diferente dos outros.

A comparação não nos faz mais iguais, mas nos afasta da nossa essência. Cada um de nós é único, com nossas histórias, lutas e triunfos. Ao abraçar essa singularidade, encontramos uma paz que a comparação nunca poderá nos dar. Então, quando se pegar comparando sua vida com a de outra pessoa, respire fundo. Lembre-se de que você é mais igual do que qualquer comparação poderia sugerir. Você é único e isso é mais do que suficiente.