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quinta-feira, 15 de julho de 2021

O ensino remoto, a escola e a família em tempo de confinamento

O estar em casa neste período de pandemia estabeleceu um novo tipo de relacionamentos, desejos e procedimentos, o que queremos de nossos filhos é diferente do que queríamos, os desafios agora são maiores, o contexto alterou nossas coordenadas, se antes o rendimento não era aquele esperado, agora é que não podemos esperar que seja melhor, aquela importância infundada de exigir que nossos filhos superassem os desafios e terem êxito constante não tinha e principalmente agora não tem mais fundamento. Atualmente o mundo não comporta mais este tipo de comportamento e exigência, como pais e professores sabemos que tudo ficou ainda mais complexo, as habilidades e competências o grande mote do atual ensino, o foi e o é o grande mandamento cognitivo, certamente terá prejuízos, o resultado disto tudo se apresentará nas dificuldades em administrar o ensino e no quanto o aluno sairá preparado para enfrentar os desafios no mundo, o futuro já não é mais o mesmo.

Algumas perdas serão imediatamente observadas após este período de confinamento e distanciamento social, o processo educativo tem amplo alcance, dentro deste processo está incluída a formação de identidade, é através da educação escolar, que se iniciam os conflitos do indivíduo que passa para um ambiente sem a presença dos pais, neste período escolar inicia-se uma etapa de relacionamento social e estranhamento, é o início do desenvolvimento e criação de sua identidade, é também um período de perdas, na adolescência os conflitos são maiores pois os adolescentes procuram o rompimento com a dependência familiar, o contato com outros grupos sociais e novos caminhos, são fatores que o alertam para busca de sua própria identidade, seu papel social e autonomia, passados dois anos sem este convívio social, justamente numa fase de amadurecimento biológico as perdas poderão ser causadoras da ampliação dos conflitos dos indivíduos entre outros problemas que ainda serão dimensionados.

Em cada fase relativamente a sua idade e maturidade realizam-se mudanças nas relações interpessoais, vivenciadas dentro do seu grupo para dentro de outro grupo repletas de linguagens próprias com suas concepções e valores, levando em conta as modificações físicas e corporais e mentais conforme seus interesses, e os valores sociais, morais, éticos, políticos, econômicos e até religiosos importantes por serem valores construídos pela sociedade, vivenciados no tempo certo e adequado a cada faixa etária, é bem possível que estes dois anos de distanciamento em vários destes aspectos elencados anteriormente, tenhamos pela frente uma necessidade de avaliação mais acurada e para isto desde já devemos pensar em tipos de avaliações que sinalizem indicadores que possam nortear este ou aquele ponto a ser melhor trabalhado pedagogicamente.

O impacto na educação e a regressão na aprendizagem foram testados e mensurados através das testagens dos alunos atualmente, antes de enfrentarmos o isolamento social a educação já vinha sofrendo com os péssimos resultados e rendimentos, agora o confinamento complicou aumentando ainda mais este sofrimento, temos como ingredientes maximizadores a defasagem e a desigualdade de oportunidades educacionais, isto vale para o mundo todo.

Alguns testes realizados no ensino fundamental com alunos de matemática, apontaram que alunos do 5º ano estão chegando com características similares ao leitor iniciante, tendo desenvolvido procedimentos pertinentes ao do 3º ano fundamental, e isto deixa visível a defasagem de dois anos do percurso educacional, a alfabetização deficitária esta surtindo efeitos no ensino da matemática, estão chegando sem condições de realizar uma simples leitura, quiçá interpretação e simples calculo, esta claro que a interdisciplinaridade é assunto sério, a caminhada educacional é realizada pela composição de disciplinas que dependem uma da outra. 

Para conseguir recuperar este prejuízo educacional, isto é, quando houver uma retomada segura, sabemos de antemão que a retomada por si só já será um grande desafio, as diretrizes precisarão estar focadas na alfabetização, é lá na base, o ponto de nevrálgico que dará condições para todas as demais disciplinas.

A retomada dependerá inicialmente de avaliação do estágio e dificuldades que os alunos se encontram, e é claro que quando se trata de dificuldades cada criança é um sujeito único, sendo necessário analisar de forma muito fina e precisa de cada um, há muitas diferenças para serem levadas em consideração, as observações levarão tempo para apresentarem um diagnóstico apropriado e consequentemente as soluções mais adequadas, já falam até em aumentar em mais um ano de estudo como compensação do tempo perdido.

A diferença também em seus graus, graus como níveis que cada criança esteja posicionada nesta caminhada educacional, devendo levar em conta que cada criança tem e teve grande participação da família em sua alfabetização, a avaliação é fundamental, é através dela que se pode fazer um balanço e uma avaliação adequada de cada um e do todo, falar em estatísticas pode ser muito arriscado, no entanto é um ponto a ser olhado, olha-se o micro e o macro.

Cada professor de cada escola é, e agora mais do que nunca o profissional responsável mais exigido, talvez lhes faltem braços para abraçar tamanho desafio, aos professores ficará este enorme encargo de avaliação de cada criança, a testagem e observação de cada criança exigirá um olhar na singularidade, e obviamente um elenco de proposições e medidas de enfrentamento ao que não foi aprendido e assimilado.

A criança que está em casa está reconstruindo sua experiência do “estar em casa”, esta reconstruindo no sentido de também estar e sentir como na escola, é a reconstrução de um novo contexto onde as crianças estão em casa, mas não estão em férias, sabemos que este é um fator que atrapalha o cognitivo, seu sentimento até agora era de estar em casa era sinônimo de brincadeiras, férias e divertimento, com poucas responsabilidades.

O desafio sempre foi fisgar o interesse e a curiosidade dos alunos, fisgar sua atenção para estabelecer foco, agora precisamos mais do que nunca fisgar o aluno em seu interesse e sua curiosidade dentro de um olhar muito diferente, um olhar de filho estudante.

As aulas remotas e as aulas presenciais estão envolvidas numa rotina diferente muito mais exigente, o público tem e não tem estrutura, estrutura aqui corresponde mais ou menos aos que tem computador, notebook, celular, internet, e quem não tem? Por exemplo quem tem três filhos e um celular, um filho estuda de manhã e dois filhos a tarde em anos diferentes, um assiste à explicação da aula e o outro não, explicação dia sim e dia não, tal situação é motivo de aflição e o engrossar das estatísticas apontando o baixo índice de aproveitamento dos alunos.

Para aqueles alunos que não possuem estrutura tecnológica fica o professor incumbido em preparar o material físico, o material físico elaborado pelo professor é impresso e entregue em mãos para a família, mas e a explicação? Ora, a explicação dependerá de o professor ficar à disposição 24 horas por dia, realmente é quase a escravidão, os pais também entram neste processo, porem nem todos conseguem acompanhar o ritmo, talvez a maioria nem esteja preparada, sem falar que o conteúdo previsto na programação de ensino anual deve ser apresentado e ensinado, é uma verdadeira maratona onde não há vencedor, mas é vida que segue em frente, conteúdo é necessário? Sim, é necessário, sem conteúdo estaremos falando do vazio e do vácuo, por si só já explicita nada haver no vazio.

Outro fator muito importante tanto quanto a educação é a alimentação destas crianças que muitas vezes tinham na merenda a única fonte de alimentação do dia, atualmente algumas prefeituras estão tentando resolver o problema oferecendo kits de alimentação para estas crianças, sabemos que é um paliativo, não conseguem resolver a contento, mas já é alguma coisa.

A responsabilidade de ensino agora é muito maior por parte dos pais, os pais participam deste fisgar do olhar do filho estudante, são os pais que deverão ter o controle entre o brinquedo e o caderno, estabelecer as regras e a disciplina serão as bases para estas crianças que estão em casa, atualmente ouvimos em voz alta a dificuldades da mãe, do pai, da avó, do avô, em conduzir em casa o aprendizado, o cenário de estresse está montado.

Ninguém estava preparado para este tipo de demanda, nem escola, nem família, ao mesmo tempo os protagonistas são estudantes e filhos, filhos estudantes, a educação infantil em ensino remoto, o ensino fundamental, são de fato as etapas de cognição diferentes, e momentos de maturidade cerebral diferentes, eles ainda não dominam o comportamento como um adolescente ou um adulto, é preciso ser pais criança e ao mesmo tempo pais adultos.

O cenário não é o cenário da sala de aula, o cenário é o de casa, a ideia é estou em casa, então estou em férias, até ai é natural, pelo menos era, a experiência é que norteia nossos comportamentos, a maturidade de comportamento da criança nesta na etapa é o de ser de criança, este é um ponto importante para levar em conta para quem está remoto em “sala de aula”, os protagonistas tem ao mesmo tempo o professor e os pais como orientadores.

Agora o caminho é diferente e a caminhada também, agora é tudo diferente, agora talvez os pais também percebam a luta diária do professor em fisgar a atenção e curiosidade dos filhos crianças estudantes.

O cenário agora é e não é o mesmo, é o de casa e sala de aula, o ambiente sim este não mudou, o convívio ficou reduzido aos pais e professores, outras coisas estão ficando para trás como a socialização que a escola proporcionava, agora a criança já não tem, este é outro ponto de estresse que alcança a família e a escola.

A criança também precisa mudar de ambiente como todo ser humano, naturalmente precisamos mudar de foco, precisamos sair da caixa para respirar ares mais frescos, o confinamento nos influencia emocionalmente, este já é um problema sério que poderá trazer sequelas imprevisíveis, a volta as aulas é necessária e urgente, porém ainda dependemos de processo de imunização mais efetivo, a segurança estabeleceu nossos novos níveis de liberdade, os limites da liberdade estão sob vigilâncias, a saúde da escola e família estão ainda mais interligadas de maneira que ambas exercem os rumos uma da outra, ambas se amparam e se completam, numa organicidade estrutural da sociedade.

Precisamos mudar além da mudança do quadro negro para o quadro branco, a mudança já é tardia, são mais de 300 anos de evolução, adeus verticalização, bem vinda a horizontalização, desde o advento da internet a mudança se tornou horizontal, e é através deste olhar que fará sentido o professor contemporâneo para o aluno contemporâneo!

terça-feira, 13 de julho de 2021

Resenha do Livro O Homem Duplicado de José Saramago

 


O tema do homem duplicado é imensamente explorado, desde a antiga Grécia, o mito grego Castor e Pólux, conhecidos também pelo nome de Dióscoros, são dois jovens heróis da mitologia grega, os "Gémeos Celestes, portanto desde muito tempo atrás o tema é fascinante, a questão do duplo vem ao longo do tempo adquirindo novas interpretações, tal como alucinações, dupla personalidade, crises existenciais, temos diversas obras que se debruçaram sobre o tema, tais como em Dostoievski (O duplo), O Médico e O Monstro (R.L.Stevenson), Edgar Allan Poe (William Wilson), e Saramago não ficou atrás, nem ficou a dever, ele também explorou o tema do homem duplicado, explorou com grande habilidade e inteligência a crise de identidade.

Vamos falar um pouco a respeito do autor, José Saramago (1922-2010), ele foi um importante escritor português, destacou-se como romancista, teatrólogo, poeta e contista, recebeu vários prêmios como o Prêmio Nobel de Literatura, o Prêmio Camões, entre outros. José Saramago nasceu em Azinhaga de Ribatejo, no concelho de Golegã, distrito de Santarém em Portugal, tem muitos livros de sucesso publicados, tais como: A Caverna, Caim, Objecto Quase, Memorial do Convento e etc.

O livro é incrível do início ao fim, o final também é muito legal, o estilo do Saramago, peculiar, sempre irônico conversando com o leitor. Ele mais uma vez trouxe para literatura seu modo de singular oralidade e leitura, usando apenas a vírgula e o ponto, sinais de pausa, para o leitor de Saramago ele já está familiarizado com este estilo e já coordena bem a respiração nos longos parágrafos.

O livro trata da estória de um professor de história chamado Tertuliano Máximo Afonso, ele é um cara depressivo e solitário, numa conversa entre ele e seu colega de professor de matemática percebendo a falta de entusiasmo de Tertuliano, como forma de proporcionar alguma alegria e lhe fazer sentir melhor sugere que assista um filme de comedia, nosso protagonista atende a sugestão e aluga um filme na locadora, ele assiste e conclui que não gostou, ele decide dormir para no outro dia devolver o filme, porem o professor pouco tempo depois acorda sobressaltado, acorda repentinamente, acorda com algo que o havia perturbado, ele percebe que era algo no filme que não havia percebido a primeira vista, ele resolve assistir ao filme novamente e se depara com algo surpreende e assustador, ele percebe um dos personagens secundários ser uma verdadeira cópia dele, idêntico, sua cópia escarrada, um duplicado.

A partir daí sua rotina entediante fica imensamente abalada, se inicia neste instante uma curiosidade do protagonista em saber quem é esta pessoa idêntica a ele. Descobrir é algo muito difícil, pois o filme era ambientado nos anos 90, e muito provavelmente não era tão simples descobrir o nome e o paradeiro deste individuo idêntico a ele, a investigação se torna uma obsessão, os seus atos para chegar neste objetivo terão muitas consequências inesperadas, é uma trilha de investigação que o leva a duvidar de sua própria identidade.

O outro idêntico não é irmão gêmeo dele, a coisa vai muito mais além em todos os sentidos, eles têm os mesmos desejos, machucados, cicatrizes, manias, a dúvida dele é saber que é o original, será ele ou o outro, a idade de ambos é a mesma, as profissões é que são diferentes, Tertuliano é professor de História e seu duplicado Antônio Claro é ator.

Este livro aborda alguns pontos importantes e bem explorados, individualidade e aceitação, temas tão atuais que se lermos seguidamente ele permanecerá atual e interessante.

A sensação de perder sua individualidade o assombra diariamente sua existência no mundo ficariam em questão, tornando-se um dilema.

Os contatos com a mãe, os encontros com a espécie de namorada Maria da Paz passam a ser cheios de segredos. Como esperar que um ente querido reaja ao fato de existir dois de você?

Tertuliano conta com a ajuda do seu Senso Comum, uma espécie de amigo imaginário, veja a ironia, é realmente um duplo no interior do protagonista, ele usa deste artificio como muitos que não tem ou não confiam em alguém para conversar.

 

Infelizmente, o senso comum nem sempre aparece quando é necessário, não sendo poucas as vezes em que de uma ausência momentânea resultaram os maiores dramas e as catástrofes mais aterradoras. José Saramago, O Homem Duplicado

A dificuldade de aceitar o outro sempre foi um problema sério na sociedade, principalmente quando este outro lhe ameaça sua sanidade, sua vida, e também a forma como nos vemos ao nos olharmos num espelho.

Se fosse duplicado e conversasse com meu duplo idêntico e lhe fizesse uma analise como eu o vejo, provavelmente eu diria que o outro seria muito diferente, pois falaria aquilo que penso que não sou, talvez o meu duplo não concordasse comigo e me dissesse que somos exatamente iguais, porque a maneira como nós nos vemos ou pensamos ver tem a ver com o ser, provavelmente não seja como somos vistos pelo outro, o duplo, porquê? Porque não nos conhecemos direito e porquê o que os outros veem e sabem a nosso respeito é àquilo que exteriorizamos, é somente aquilo que deixamos sair, nós estamos lá atrás dos olhos, sentindo e vendo, controlando nossos gestos, atos e palavras, representamos diferentes papeis, seja como colega de aula, o colega de trabalho, o irmão, o amigo, o pai, o filho, a mãe, o político, enfim, estamos dentro de uma imensa peça teatral chamada vida, somos vários num só.

 

“Toda a gente sabe que nenhum homem pode ser exatamente igual ao outro num mundo em que se fabricam máquinas para acordar.” José Saramago, O Homem Duplicado

Certamente uma conversa com o duplo se possível fosse seria interessante e perturbadora. Podem ser iguaizinhos, mas cada um é um, é igual na aparência, mas único, pois a caminhada de vida de cada um até se conhecerem, foi pessoal e singular, as experiências até o momento em que se conheceram fizeram haver diferenças, os dois então são originais, por esta razão conviver com um igual só é difícil por haver distorção na maneira como aprendemos a respeitar o outro e a respeitar a nós mesmos pelas diferenças, haverá competição? Se sim disputando o quê?

Tem várias sutilezas que Saramago explora ao máximo e ao limite nesta questão dilema do homem duplicado, isto se percebe porque a riqueza dos detalhes é imensa, é um livro minucioso e bem planejado, inclusive na profissão do idêntico é um ator, a profissão e representar personagens que toca na questão da identidade.

O Homem Duplicado virou filme, um filme de suspense psicológico dirigido por Denis Villeneuve, é um longa que tem como ator principal Jake Gyllenhaal, ele foi exibido pela primeira vez na sessão Apresentação Especial do Festival Internacional de Cinema de Toronto em 8 de setembro de 2013. A estreia em Portugal e no Brasil ocorreu no dia 19 de junho de 2014. É um filme para assistir mais de uma vez, ele tem uma carga simbólica muito grande.

A clonagem também seria uma possibilidade, atualmente já existe técnica criada em laboratório para produzir indivíduos idênticos, no caso de nosso protagonista se ele fosse um indivíduo clonado seria o clímax do abalo da sua sanidade, provavelmente para a sanidade de qualquer um seria imaginar que existe alguém por ai idêntico, igualzinho, quem seria o tal original e quem seriam suas cópias no mundo, realmente é algo bastante desnorteante, isto certamente levanta assunto delicado para se discutir na filosofia. No entanto, se admitida a possibilidade de uma clonagem, ainda precisaria explicar as muitas coincidências de idênticos  machucados e cicatrizes que ambos possuem, talvez a sincronicidade junguiana possa explicar tais "coincidências", e quica a física quântica seja convidada a prestar esclarecimentos.

O Homem Duplicado é um livro repleto de simbolismos, permitindo a cada leitor ter, por si, a própria interpretação sobre os acontecimentos e fatos narrados. Nesse contexto, com uma boa história e personagens marcantes (mas não tão amáveis), tem-se uma ótima leitura ao fim das páginas.

O final também foi escrito no capricho, pensamos que não vai acontecer nada, que a história acabou e está tudo acomodado, mas tem reviravolta, a reviravolta nos deixa com uma pulga atrás da orelha, o desfecho é impressionante. Com certeza este livro que reli, vai continuar na lista para reler outras várias vezes, a cada leitura captamos mais detalhes, é uma obra prima, recomendo a leitura.

Fonte: Saramago, José. O Homem Duplicado. São Paulo/SP. Companhia das Letras, 2008

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Resenha do livro O Segredo da Flor de Ouro um livro de vida chinês

O Segredo da Flor de Ouro é um livro de vida chinês, é um livro sobre meditação e alquimia chinesa traduzido pelo sinólogo Richard Wilhelm e comentado pelo psiquiatra e psicoterapeuta Carl Jung. O livro faz referência a uma metáfora na qual cada um de nós é levado a refletir, convidado a meditar, e iniciar uma caminhada na conquista das chaves que permitirão abrir a consciência na direção da Luz interna, trata-se de uma abertura primordial, simbolizada pela flor de ouro, é um centro de poder e iluminação no qual tudo circula e transcende.

Falar dessa obra é se referir a um dos textos mais importantes sobre a religião taoísta, e também um dos mais polêmicos, não se trata de um livro para simples leitura, trata-se de um livro para estudos, existe nele uma carga imensa de simbolismos de difícil interpretação para nós ocidentais, é importante dar ouvidos e atenção a interpretação de Jung e Wilhelm, mesmo assim o livro ainda é uma tradução “ocidentalizada” de um dos legados espirituais mais relevantes oriente, muitos detalhes foram simplificados para transformá-lo em um manual chinês sobre ioga que o mundo ocidental conseguiria entender perfeitamente em nossa linguagem, sabemos que nossa linguagem não contempla total significado da linguagem oriental, nesta transposição também se perde muito no caminho, no entanto assim como a mandala o estudo nos leva a locais ainda inexplorados, logo se faz necessário estudo e reflexão, trata-se de um trabalho de paciência, trata-se de um retorno para dentro do silêncio e desprendimento das “coisas”.

Graças ao trabalho do psicoterapeuta Jung e do sinólogo Wilhelm, foi publicado podemos ter um conhecimento traduzido a nossa linguagem mais atualizada, ele consegue estabelecer uma tradução, uma transposição de uma simbologia o qual atualmente temos maior dificuldade para entender o caminho em direção ao nosso interior, o caminho que nos leva para uma caminhada até a flor de ouro que habita dentro nós.

Como vemos, é um livro de grande importância, cada vez mais o mundo e principalmente o ocidente vem direcionando maior atenção a ele, já existem muitos grupos de estudos voltados para compreensão da mensagem do caminho para iluminação interior. No entanto, a complexidade de sua religião é imensa, é milenar e como se sabe carregada de simbolismos próprios as crenças culturais. Fala do processo alquímico através do qual iluminaríamos a morada da consciência espiritual, a flor de ouro é um símbolo mandálico, é a luz e a luz do céu o Tao. Para isso, devemos voltar nossa atenção a um recinto sacro interno, à flor dourada que é, ao mesmo tempo, nossa origem e nossa meta. Por sua vez, Wilhelm e Jung, embora tenham deixado alguns conceitos para trás, conseguiram nos oferecer uma obra na qual podemos nos iniciar nessas ideias, nessa filosofia espiritual.

“A Flor de Ouro é a Luz, e a Luz do Céu é o Tao. Aí está a ‘vesícula germinal’, na qual a essência e a vida ainda são uma unidade. O nascimento do processo alquímico ocorre quando o escuro dá lugar à Luz”.

 

A obra trata do nascimento da flor de ouro dentro de nós, o livro é uma referência a necessidade de transmitir o milenar conhecimento oral para um registro mais confiável sem deturpações, principalmente porque vivemos num mundo de desconfiança e insegurança daquilo que chega até nós, nossa capacidade atual de entendimento deste tipo de linguagem é muito questionável, portanto é necessário muita dedicação e mudanças iniciando por vencermos o campo do preconceito muito enraizado em nossa cultura que é contrário as coisas espirituais de origem oriental.

Esta obra é extremamente simbólica e exige inúmeras chaves para seu entendimento, os símbolos referidos são linguagens da alma, as chaves são as formas de entender a simbologia que irá compor o processo de individuação, o processo da individuação depende de nossa própria conquista, é a conquista de nós mesmos, é a presença consciente do estar presente, é o estar inteiro no presente, atento aos nossos movimentos e pensamentos, ações e pensamentos devem estar ligados.

A compreensão do ser humano é dividida em duas partes principais no entendimento de Jung que tem uma visão própria e bem fundamentada, ele pensa que as experiências do inconsciente não é só um bolsão de experiências de nossas vivencias, é também que o ser humano não nasce apenas das experiências conscientes, pensa haver algo a priori, que existe algo dentro de cada um de nós e este algo gera o consciente, neste caso seria o self para Jung.

Ser – eu mesmo – self – inconsciente - superior (Triangulo)

Personalidade – pensamentos – mente- emoções – corpo físico – inferior

Este self de Jung é este algo do inconsciente a priori que irá se manifestar, e é algo extremamente simples, poderíamos de maneira simples proporcionar que está semente se expresse e está realização aflore, sem a necessidade de buscar fora a realização através de coisas que irão apenas nos desconectar com nosso interior, não é possível manter a chama da felicidade acesa com o desenraizamento do eu consciente do eu inconsciente, na verdade nós complicamos nossa vida tornando-a mais complexa pela busca desesperada lá fora, interrompendo o curso natural da vida, criamos bloqueios que nos prejudicarão levando a morte em vida, ou seja, um morto vivo é aquele que está perdido e vive com um autômato, nega seus instintos naturais, delega para outros e outras coisas o comando de sua vida.

Os fundadores do budismo e do taoísmo ensinaram que devemos olhar para a ponta do nariz. Não quiseram dizer com isso que devemos fixar os pensamentos na ponta do nariz. Também não quiseram dizer que enquanto olhamos a ponta do nariz os pensamentos devem concentrar-se no centro amarelo. Para onde o olhar se dirige, para o mesmo ponto se dirige o coração. Como é possível olhar simultaneamente para cima (centro amarelo) e para baixo (ponta do nariz) ou, alternadamente, ora para cima e ora para baixo? Mas tudo isso significa confundir o dedo com o qual apontamos a lua, com a própria lua.

O que quer isto dizer? A palavra ponta do nariz foi escolhida com muita agudeza. O nariz deve servir como uma linha diretriz para os olhos. Quando abrimos os olhos bem abertos e olhamos para a distância de modo a não ver o nariz, ou então baixamos demasiadamente as pálpebras, de modo que os olhos se fecham e também não vemos o nariz, não nos orientamos por este último. Mas se abrirmos demais os olhos, cometeremos o erro de dirigi-los para fora, o que nos distrai facilmente. Por outro lado, se os fecharmos demais, cometeremos o erro de vertê-los para dentro, o que nos induzirá a um devaneio absorvente. Só quando baixamos as pálpebras na justa medida vemos a ponta do nariz de um modo adequado. É por isso que devemos tomá-la como linha diretriz. Tudo depende de baixarmos corretamente as pálpebras, deixando a luz irradiar para dentro por si mesma, sem pretender que a nossa concentração determine a irradiação da luz para dentro. Olhar para a ponta do nariz serve apenas no começo da concentração interior, a fim de dirigir os olhos na direção correta e nela se manter. Depois, isto não tem mais importância. É como o pedreiro, suspendendo o seu fio de prumo. Assim que o pedreiro o suspende, seu trabalho se orienta por ele, sem que se preocupe em olhar constantemente para o fio de prumo.

O caminho do indivíduo na busca pelo despertar da flor de ouro, é um caminho com uma consciência mais alta, o caminho é de integridade, a segurança é interior, a segurança exterior deixa de ter tanto valor, a segurança tem valores internos, é um caminho de entrega total a vida, não é possível haver separação ou dualidade, é necessário focar no interior, não é possível alimentar duas pessoas internamente, a intenção deverá ser legitima, sejamos um só, a meta é o uni, trata-se de uma postura de integridade em tudo que fazemos, sejam em minhas relações de trabalho, de família, de amigos, esta é a maneira de caminhar em direção a flor de ouro, por isto realmente é uma proposta muito séria que irá proporcionar mudanças.

Nossa consciência quando voltada para o exterior fica preso as coisas, as coisas acabam me prendendo e me torno um escravo delas, é o que Jung chama de participação mística, quando as pessoas conseguem livrar-se desta prisão é quando há desprendimento das coisas do mundo, é quando sente que já não dá tanta importância, então este é um estado de felicidade pela integridade do ser.

 

O passo que conduz a uma consciência mais alta deixa-nos sem qualquer segurança, com a retaguarda desguarnecida. O indivíduo deve entregar-se ao Caminho com toda a sua energia, pois só mediante sua integridade poderá prosseguir e só ela será uma garantia de que tal caminho não se torne uma aventura absurda.

Quer receba seu destino de fora ou de dentro, as vivências e os acontecimentos do Caminho são os mesmos. Por isso, nada preciso dizer acerca dos múltiplos acontecimentos externos ou internos, cuja variedade infinita não pode ser abarcada. Em relação ao texto comentado, isso não teria também qualquer importância.

A consciência não é mais dominada por intenções compulsivas em adquirir ou manter coisas como realizações, por isso é importante voltar nossa atenção para o nosso centro e sair do centro dos objetos, a questão é quem me possui são meus objetos ou eu possuo meus objetos?,  quando me desprendo e desapego destas coisas extramundanos me aproximo do meu centro onde se encontra semente do meu centro, é onde encontra-se a semente da flor de ouro, vejamos que aqui não se trata de uma fuga do mundo, na verdade é estabelecer o lugar de cada um e cada coisa, é na verdade evitar a influência destas coisas e deste caminho do ter sem ser, mantenha-se só e isolado, o que se quer dizer é manter sua consciência alta num lugar que não baixe sua vibração e com maior visão para colaborar com as soluções, evitando o entrelaçamentos de mundos que não cabem por serem diferentes, evitamos nos projetar nas coisas, pois caso contrário acabamos retirando energia de nós mesmos.

Uma chave para abrir a porta do interior é através da contemplação e meditação:

 

A contemplação pela fixação é indispensável, ela produz o fortalecimento da iluminação. Só que não podemos ficar sentados rigidamente quando despertam os pensamentos mundanos, mas devemos examinar onde se acham tais pensamentos, como surgiram e onde se extinguem. Mas levando adiante esta ponderação não chegamos ao fim. Devemos limitar-nos a ver de onde surgiram esses pensamentos, sem procurar muito além de sua origem; pois achar o coração (consciência), descobrir a consciência pela consciência, eis algo de irrealizável. Pretendemos pôr em repouso os estados do coração, conjuntamente: tal é a verdadeira contemplação. O que for contrário a isto é uma falsa contemplação. Não leva a meta alguma. Quando, apesar de tudo, continua incessantemente o fluxo dos pensamentos, devemos parar e entrar em contemplação. Então contemplemos e recomecemos a meditação pela fixação. É o duplo cultivar do fortalecimento da iluminação. A isto se denomina movimento circular da luz. Movimento circular é fixar. A luz é contemplação. Fixar sem contemplação é um movimento circular sem luz. Contemplação sem fixar é luz sem movimento circular. Lembrai-vos disto!

Outra chave muito importante é o movimento circular da luz, e deixar a vida fluir, permitir que nossos potencias latentes se desenvolvam, não negar, nem reprimir, ver as coisas como são, evitar o domínio, mas entender para dominar.

 

O deixar-acontecer (Sichlassen), na expressão de Mestre ECKHART, a ação da não-ação foi, para mim, uma chave que abriu a porta para entrar no caminho: Devemos deixar as coisas acontecerem psiquicamente. Eis uma arte que muita gente desconhece. É que muitas pessoas sempre parecem estar querendo ajudar, corrigindo e negando, sem permitir que o processo psíquico se cumpra calmamente.

O movimento circular da luz é o que irá através de nossas experiências fazer despertar está luz, e a faz circular em nossa vida e em nossa espiritualidade, é o fluxo natural da vida que está acontecendo, toda a energia circula, é a vida circulando, a luz do centro é algo natural que faz brotar seus potenciais através da vida, para fazer isto que é próprio do ser vai iniciar somente quando o obrigarmos a iniciar, ele inicia quando já demos o máximo de nós e quando aparentemente não temos mais solução, a vida só irá nos dar algo que precisamos e quando precisarmos, a vida não irá nos dar algo que ainda não precisamos, é necessário ir até nossos limites, quando dou toda minha atenção com disciplina, é quando a vida nos dá algo mais para prosseguirmos na caminhada.

 

Atualmente, o saber externo é o maior obstáculo à introspecção, mas a necessidade anímica ultrapassará todas as obstruções. Já estamos construindo uma psicologia, uma ciência que nos dará a chave das coisas que o Oriente só descobriu através de estados anímicos excepcionais!

 

O movimento circular da luz é alimentado por nossa força em querer de verdade enfrentar as situações, não negar, não fugir, evitar relacionamentos e situações, então se fujo das tensões, tiramos as necessidades e acabo desobrigando a vida nos oferecer mais daquilo que a vida pode nos dar, fugir e negar seriam atitudes erradas em dar movimento circular da luz, esta lei de chegar ao limite é uma das leis do movimento circular da luz, viver no mundo é viver sem os valores do mundo e sim com os potenciais do ser que vive em contato com a luz.

 

A grande chave do corpo humano é concentrar a flor-semente em cima, no olho. Filhos, refleti sobre isto! Se não cultivardes um dia a meditação, esta luz se derramará, quem sabe para onde. Se cultivardes a meditação apenas durante um quarto de hora, com isso podeis cumprir os dez mil eons e mil nascimentos. Todos os métodos desembocam na tranquilidade. Impossível imaginar este maravilhoso processo mágico.

 Fixar o pensamento no espaço entre os dois olhos produz a entrada da luz. Depois, o espírito se cristaliza e entra no centro em meio às circunstâncias. O centro em meio às circunstâncias é o campo de Elixir inferior, o espaço da força (plexo solar).

O mestre indica tudo isto secretamente ao dizer: Ao iniciar o trabalho devemos sentar-nos numa sala tranquila, o corpo como madeira seca, o coração como cinza fria. Baixemos então as pálpebras dos dois olhos e olhemos para dentro; purifiquemos o coração, lavemos o pensar, interrompamos os prazeres e preservemos a semente. Diariamente devemos sentar-nos no chão, de pernas cruzadas, para meditar. Detenha-se a luz dos olhos, cristalize-se o poder auditivo do ouvido, e restrinja-se o poder gustativo da língua, isto é, a língua deve ficar apoiada no céu da boca. A respiração pelo nariz deve ser ritmada e os pensamentos devem fixar-se no portal escuro. Se o ritmo da respiração não for previamente estabelecido, é de temer-se que haja perturbações respiratórias, com obstruções. Ao fecharmos os olhos, devemos voltar-nos, como ponto de referência, para um lugar situado no dorso do nariz; tal lugar fica pouco menos de meia polegada abaixo da interseção das linhas visuais, lá onde o nariz possui uma saliência. Então se começa a concentrar os pensamentos, torna-se rítmica a respiração, corpo e coração devem estar à vontade e harmônicos. A luz dos olhos deve brilhar tranquilamente, de modo prolongado, sem que haja sonolência ou distração. O olho hão vê o que acontece fora, mas baixa as pálpebras e ilumina o interior. Este é então iluminado. A boca não fala, nem ri. Os lábios encontram-se cerrados e a respiração é interiorizada. A respiração fica neste lugar. O nariz não sente nenhum odor. O olfato fica neste lugar (interno). O ouvido não ouve o ruído exterior. A audição está neste lugar. O coração inteiro vigia o interior. Sua vigilância está neste lugar.

Os pensamentos não se precipitam para fora, os pensamentos verdadeiros duram por si mesmos. Se os pensamentos são duradouros, a semente torna-se duradoura; se a semente é duradoura, a força torna-se duradoura; se a força é duradoura, o espírito torna-se duradouro. O espírito é o pensamento, o pensamento é o coração, o coração é o fogo, o fogo é o Elixir. Quando se contempla o interior desse modo, o milagre de abrir e fechar dos portais do céu torna-se inesgotável. Mas sem tornar rítmica a respiração, não é possível efetuar os segredos mais profundos.

Para entrar em conta com o movimento circular da luz é preciso meditar, a meditação nos proporcionara momentos maravilhosos, momentos ímpares onde para cada um há uma experiência diferente e única, é o momento de bebermos na fonte e carregarmos nosso corpo e alma da mais bela e luminosa energia, é momento de nos prepararmos para enfrentar as trevas e tirar das trevas aqueles que ainda insistem em permanecer nelas.

Às vezes podemos experimentar o seguinte: logo que se entra em tranquilidade, a luz dos olhos começa a chamejar, de modo que diante de nós tudo se torna iluminado, tal como se estivéssemos dentro de uma nuvem. Se abrirmos os olhos e procurarmos o nosso corpo, não o encontraremos. Chama-se a isto: "O aposento vazio torna-se luminoso". Dentro e fora, tudo fica igualmente luminoso. Este é um sinal muito favorável.

Quando nos sentamos para meditar, o corpo carnal torna-se inteiramente brilhante, como seda ou jade. É difícil permanecer sentados, pois sentimo-nos como que arrebatados. Isto significa: "O espírito regressa e bate no céu". Com o tempo podemos ter a vivência de que verdadeiramente levitamos.

O movimento circular da luz precisa de condições para se manifestar e campo fértil para brotar, a semeadura depende de disciplina, a disciplina é respeito a mandamentos que norteiam seus peregrinos, permanecer firme na caminhada é também não esmorecer quando os resultados demorem a chegar, se demoram é porque ainda não criamos os elementos necessários para a semente germinar, pense no que esta bloqueando.

 

Mas quem não tiver as condições necessárias, poderá encontrar algo, porém o céu não lhe concederá o seu Tao. Por quê? As condições interiores necessárias pertencem ao Tao como uma asa de pássaro à outra; faltando uma, a outra nada poderá fazer. Por isso são necessárias fidelidade e veneração, bondade e justiça e uma obediência pura aos cinco mandamentos4; somente depois podemos ter a esperança de alcançar algo. Mas todas as sutilezas e todos os segredos são apresentados neste Livro da Consciência e da Vida, como objeto de meditação e reflexão, de modo que tudo possa ser alcançado em sua verdade.  Os cinco mandamentos budistas são: 1) não matar; 2) não roubar; 3) não cometer adultério; 4) não mentir; 5) não beber, nem comer carne.

 

Quando não se compreende o ensinamento da consciência e da vida, recitando-se apenas seca e isoladamente as fórmulas da meditação, como seria possível deixar o Julai surgir do próprio corpo aparecendo radioso, sentado na magnífica flor de lótus, em seu corpo espiritual?! Muitos dizem ser o espírito da luz um ensinamento diminuto, mas como pode um ensinamento do Senhor do mundo ser diminuto? Revelei agora, com estas palavras, o mais profundo segredo do Long Yen, a fim de ensinar aos futuros discípulos. Quem compreender este caminho, elevar-se-á imediatamente até o segredo obscuro e não submergirá mais na poeira do cotidiano.

 

Percebemos que ao ingressar neste caminho de conhecimento metafisico estamos caminhando em direção a iluminação, estamos caminhando em direção ao divino, quando nos voltamos para dentro entendemos que estamos mais fora que dentro, voltar-nos para dentro é conhecer-nos a nós mesmos, conhece-te a ti mesmo é isto, é voltar-se para dentro, quando entendermos isto, encontramos nossa harmonia e nos faz perceber que Deus está fora e está dentro de nós e é percebido por nossos próprios atributos, percebe-se que Deus não está mais fora e dentro, o que existe é a unidade, o que existe é que somos um digito de Deus, agora entendemos que somos parte da natureza, finalmente construímos nosso amadurecimento psicológico e vemos a verdadeira realidade, são nossos olhos da alma que tiram o véu da ilusão.

A obra tem um valor inestimável, a leitura básica não é suficiente para captar a imensidão de simbolismos, precisamos estar preparados para entender as mensagens, primeiramente deixar de lado os preconceitos criados por nosso modo racional e material de ver o mundo e a nós mesmos, os resultados serão obtidos conforme o grau de evolução de cada um, é preciso disciplina, reflexões e meditações.

Fonte: Jung, Carl Gustav. O segredo da flor de ouro: um livro de vida chinês/ C.G.Jung, R. Wilhelm; tradução de Dora Ferreira da Silva e Maria Luiza Appy. 15.ed.-Petrópolis, RJ ; Vozes, 2013