Tem dias que a alegria aparece com um riso que não é dela. Chega estampada demais, forçada, com brilho demais nos olhos e um entusiasmo que beira o deboche. É a alegria que chega como sarcasmo — não porque queira enganar, mas porque, talvez, seja o único jeito de não desaparecer de vez.
Quem
nunca disse "tô ótimo" com um sorriso que mais parecia um pedido de
socorro? Ou soltou um "que maravilha!" enquanto o mundo desabava em
silêncio? O sarcasmo da alegria é esse tom irônico que a gente usa quando a
felicidade ficou cara demais, ou quando ser sincero exigiria um nível de
coragem que naquele momento está em falta.
Na
mesa do escritório, alguém anuncia: “mais uma reunião? Que delícia!”, e todos
riem, sabendo que ali há mais resignação do que humor. No jantar de família,
quando alguém pergunta como está a vida, vem aquele “ah, tudo lindo”, seguido
de um gole mais longo do que o normal. O sarcasmo, aqui, é o disfarce mais
sofisticado da tristeza que não quer se expor.
O
filósofo espanhol Miguel de Unamuno dizia que “o riso é o rosto da
tragédia visto de costas”. Talvez o sarcasmo da alegria seja isso: uma forma
torta de continuar rindo para não desmontar. Um modo elegante de dizer que
ainda estamos aqui, mesmo sem saber bem por quê.
Mas
também há uma potência nisso. Porque, se ainda conseguimos rir — mesmo que com
ironia — é porque há uma parte de nós que resiste. O sarcasmo da alegria é o
escudo de quem se recusa a ceder ao desespero. É uma piada contada no meio da
tempestade. E, às vezes, é essa piada que nos impede de afundar.
No
fim das contas, rir com sarcasmo pode ser um gesto de amor-próprio. Como quem
diz: “eu sei que tá tudo desandando, mas olha só que gracinha eu fingindo que
não.” E nessa brincadeira entre o que sentimos e o que mostramos, talvez a
verdadeira alegria esteja esperando só um pouco de silêncio para se revelar —
dessa vez, sem ironia.
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