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quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Sarcasmo da Alegria

Tem dias que a alegria aparece com um riso que não é dela. Chega estampada demais, forçada, com brilho demais nos olhos e um entusiasmo que beira o deboche. É a alegria que chega como sarcasmo — não porque queira enganar, mas porque, talvez, seja o único jeito de não desaparecer de vez.

Quem nunca disse "tô ótimo" com um sorriso que mais parecia um pedido de socorro? Ou soltou um "que maravilha!" enquanto o mundo desabava em silêncio? O sarcasmo da alegria é esse tom irônico que a gente usa quando a felicidade ficou cara demais, ou quando ser sincero exigiria um nível de coragem que naquele momento está em falta.

Na mesa do escritório, alguém anuncia: “mais uma reunião? Que delícia!”, e todos riem, sabendo que ali há mais resignação do que humor. No jantar de família, quando alguém pergunta como está a vida, vem aquele “ah, tudo lindo”, seguido de um gole mais longo do que o normal. O sarcasmo, aqui, é o disfarce mais sofisticado da tristeza que não quer se expor.

O filósofo espanhol Miguel de Unamuno dizia que “o riso é o rosto da tragédia visto de costas”. Talvez o sarcasmo da alegria seja isso: uma forma torta de continuar rindo para não desmontar. Um modo elegante de dizer que ainda estamos aqui, mesmo sem saber bem por quê.

Mas também há uma potência nisso. Porque, se ainda conseguimos rir — mesmo que com ironia — é porque há uma parte de nós que resiste. O sarcasmo da alegria é o escudo de quem se recusa a ceder ao desespero. É uma piada contada no meio da tempestade. E, às vezes, é essa piada que nos impede de afundar.

No fim das contas, rir com sarcasmo pode ser um gesto de amor-próprio. Como quem diz: “eu sei que tá tudo desandando, mas olha só que gracinha eu fingindo que não.” E nessa brincadeira entre o que sentimos e o que mostramos, talvez a verdadeira alegria esteja esperando só um pouco de silêncio para se revelar — dessa vez, sem ironia.


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