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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Dialética do Iluminismo

Certa vez, conversando com um amigo, ele soltou uma frase que ficou na minha cabeça: "A gente achou que estava indo para a frente, mas talvez só esteja correndo em círculos". O comentário veio depois de discutirmos sobre os avanços da ciência, a tecnologia e as promessas de um mundo melhor que, curiosamente, parecem sempre acompanhadas por novas formas de opressão, alienação e violência. Foi aí que lembrei de Adorno e Horkheimer e da "Dialética do Iluminismo".

Os dois filósofos da Escola de Frankfurt escreveram essa obra em um contexto muito específico: fugindo do nazismo e observando os desdobramentos do fascismo e do totalitarismo no século XX. Mas sua crítica vai além dos eventos da época. Eles questionam algo mais profundo: será que a razão, essa mesma razão exaltada pelo Iluminismo como motor do progresso humano, não acabou se transformando em um instrumento de dominação? Em outras palavras, será que a busca pelo esclarecimento não gerou, paradoxalmente, novas formas de escuridão?

Adorno e Horkheimer argumentam que a racionalidade instrumental, aquela que mede tudo em termos de eficiência e controle, acabou engolindo os próprios ideais iluministas. Em vez de libertar a humanidade, a razão foi capturada pelo sistema econômico e político, tornando-se um meio de exploração. O Iluminismo, ao buscar libertar os homens da superstição e da ignorância, acabou por construir novas mitologias – só que agora sob a forma de progresso técnico e produtividade. Em resumo, o projeto iluminista gerou monstros, e um de seus principais frutos foi a barbárie da modernidade.

Esse paradoxo se reflete em nosso cotidiano de maneira brutal. Temos acesso a uma quantidade infinita de informações, mas a desinformação nunca foi tão poderosa. A tecnologia nos conecta, mas também nos aliena e nos vigia. O discurso da eficiência transformou o mundo do trabalho em uma máquina de esgotamento físico e mental. O Iluminismo prometia autonomia, mas vivemos presos a sistemas que ditam nossos desejos, pensamentos e comportamentos.

O que fazer diante dessa contradição? Adorno e Horkheimer não oferecem respostas fáceis, mas apontam para a necessidade de uma reflexão crítica permanente. Para eles, a emancipação só é possível quando questionamos os próprios meios que deveriam nos libertar. Em vez de aceitar a racionalidade instrumental como algo natural e inevitável, precisamos confrontá-la e buscar outras formas de pensar e agir no mundo.

Talvez meu amigo estivesse certo. Talvez estejamos apenas correndo em círculos. Mas se há algo que a "Dialética do Iluminismo" nos ensina, é que não basta aceitar esse destino passivamente. Se quisermos realmente sair desse labirinto, precisamos questionar as próprias luzes que nos guiam. Quem sabe, no meio da escuridão, descubramos um outro caminho.


quinta-feira, 27 de junho de 2024

Hegel e a Verdade Absoluta

Quando falamos sobre Hegel, um dos conceitos mais profundos e complexos que emergem é o da "Verdade Absoluta". A filosofia hegeliana é conhecida por sua densidade e por sua tentativa de compreender a realidade como um todo coerente e dinâmico. Mas o que significa Verdade Absoluta em Hegel e como podemos relacionar isso com situações do nosso dia a dia? Vamos procurar analisar isso de maneira informal e mais simples possível.

A Verdade Absoluta em Hegel

Para Hegel, a Verdade Absoluta não é algo estático ou fixo, mas um processo dinâmico de desenvolvimento e realização. Em seu sistema filosófico, Hegel propõe que a Verdade Absoluta se revela através da dialética, um processo de tese, antítese e síntese. Isso significa que a verdade não é algo que encontramos de uma vez por todas, mas algo que se desenvolve e se desdobra ao longo do tempo.

Hegel vê a realidade como um todo orgânico e interconectado, onde cada parte só pode ser verdadeiramente compreendida em relação ao todo. A Verdade Absoluta, portanto, é a totalidade dessa interconexão, onde todas as contradições são reconciliadas.

A Dialética no Cotidiano

Podemos ver a dialética hegeliana refletida em diversas situações cotidianas. Considere, por exemplo, uma discussão comum entre amigos sobre um tema controverso, como política ou esporte. Inicialmente, cada pessoa apresenta sua tese, sua visão particular sobre o assunto. Em resposta, outra pessoa oferece uma antítese, um ponto de vista oposto ou contraditório. Através do diálogo, os participantes começam a perceber aspectos da verdade na posição do outro, e eventualmente, podem chegar a uma síntese, uma nova compreensão que integra elementos de ambas as posições.

Essa interação é um reflexo da dialética hegeliana. A verdade não está puramente na tese nem na antítese, mas no processo contínuo de integração e superação de contradições.

Exemplos Práticos

Educação e Aprendizado: Imagine um estudante que inicialmente tem uma compreensão simplista de um conceito matemático (tese). Ao enfrentar problemas complexos e cometer erros (antítese), ele é forçado a revisar e expandir seu entendimento. O aprendizado verdadeiro (síntese) emerge desse processo dialético de enfrentamento e superação de dificuldades.

Relacionamentos Pessoais: Nos relacionamentos, é comum que casais enfrentem conflitos (antítese) após a fase inicial de paixão (tese). Através da comunicação e do compromisso, eles podem desenvolver uma relação mais profunda e madura (síntese), onde aprendem a apreciar e integrar as diferenças um do outro.

Tomada de Decisão: No ambiente de trabalho, ao tomar decisões importantes, um líder pode enfrentar opiniões divergentes de sua equipe. Inicialmente, ele tem uma ideia (tese), mas ao considerar as perspectivas opostas (antítese), pode chegar a uma solução mais equilibrada e eficaz (síntese).

A Verdade Absoluta em Hegel nos ensina que a verdade não é um ponto final, mas um processo contínuo de desenvolvimento e reconciliação de contradições. Essa perspectiva pode nos ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano com uma mente aberta e um coração disposto a integrar diferentes pontos de vista. Em vez de buscar respostas definitivas e imutáveis, podemos abraçar a complexidade e a evolução constante da realidade, tanto nas grandes questões filosóficas quanto nas pequenas interações diárias.


domingo, 8 de abril de 2018

Dialética do Esclarecimento



διαλεκτική Αποσαφήνιση

Dialectics of the explanation

Dialektik Aufklarung



        Esclarecimento é uma palavra muito cara para filosofia, um dos objetivos da filosofia é construir esclarecimento acerca do mundo, sendo a dialética do esclarecimento expressão utilizada por Adorno e Horkheimer para indicar a alternância histórica da civilização ocidental, que procura designar a linha do pensamento “burguês”, começa com a saída da cultura grega do estado mítico, identificando-se com a práxis da civilização e da sua lógica de domínio.

        Para Kant, o esclarecimento [Aufklärung] é visto da seguinte forma:



Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [Aufklärung]. (Resposta, p.100, grifos do autor).



        Conforme Kant, as principais causas que impedem o esclarecimento estão no comodismo, na preguiça e na covardia. Com tais causas, o homem permanecerá sempre em sua menoridade. Para as pessoas acostumadas a ‘receberem as coisas nas mãos’ (Kant enumera alguns: ter um livro que faz as vezes de nosso entendimento; um diretor espiritual que tem consciência em nosso lugar; um método que decide a nossa dieta; etc.), torna-se difícil e perigoso renunciar sua menoridade. Isto está tão enraizado em sua vida, em seu cotidiano, em todos seus trabalhos, que se torna natural, cômodo. Por isso é que os homens não sabem como lidar com a liberdade quando a têm e os impede de utilizar seu entendimento. Mas, para tanto, sempre há uma primeira tentativa, e é essa a exortação de Kant em sua resposta à pergunta proposta.

        Há pessoas, no entanto, que são o contrário. São aqueles “indivíduos capazes de pensamento próprio”. Esses indivíduos devem espalhar o espírito de avaliação racional de cada homem. Todavia, existem pessoas que acabam tirando proveito da situação, obrigando as demais pessoas a viverem sob seu domínio.  A educação oriunda de pessoas com pensamento político enviesado a própria realidade capitalista que vivem, em seus discursos pregam e impõem com paixão o socialismo da esquerda caviar, acabam por destruir a capacidade crítica dos jovens, justamente num período de formação psicológica que acabara culminando num retrocesso onde o mito socialista retrógrado e incompetente fulminou com populações sem resolver nada daquilo que prometeram, assim tais jovens acabam sendo concretados na vala do pensamento na menoridade.


A verdadeira revolução deve ser a mudança de pensamento das pessoas. Essa mudança traz benefícios muito maiores que a de uma revolução política, em que apenas se trocam algumas pessoas do poder, mas a dominação continua. Uma revolução assim, que derruba um governo despótico, «nunca produzirá a verdadeira reforma do modo de pensar».

O esclarecimento exige liberdade. Uma liberdade não limitada, não condicionada, que favoreça apenas aos que têm o “poder” nas mãos. Também o uso privado da razão, apesar de ser limitado, pode ajudar consideravelmente no progresso do esclarecimento.  Por Anderson Rodrigo de Oliveira


        O esclarecimento ao ter como objetivo a superação do homem frente a alienação imposta “pela natureza afins de” se auto-conserva e ao lhe colocar na perspectiva de senhor para dominação, se vê pela própria lógica imposta pelo esclarecimento atrelado ao próprio horror mítico que tanto lhe assustava. Na medida em que o seu pensamento foi objetivado e estruturado segundo a ordem do calculável e do matematizado, a razão transforma-se num mero instrumento, ela se objetiva inclusive em relação a própria subjetividade o homem tornando-se um elemento autônomo de dominação, o homem se aliena frente a própria sociedade.

        "A Dialética do Esclarecimento" é uma obra escrita pelos filósofos alemães Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, publicada pela primeira vez em 1947. É um texto fundamental da Escola de Frankfurt, que aborda a relação entre a Ilustração (ou Esclarecimento) e a emergência da sociedade moderna.

        "A Dialética do Esclarecimento" é um mergulho profundo e crítico na nossa própria sociedade moderna. Imagine um olhar no espelho, mas um espelho que mostra além da nossa aparência física, revelando as estruturas e ideias que moldam nosso mundo.

        Os autores, Max Horkheimer e Theodor Adorno, desmontam a ilusão do progresso inquestionável proporcionado pela racionalidade e pela ciência. Eles argumentam que a mesma luz da razão que nos trouxe avanços incríveis também nos cega para as formas sutis de opressão e alienação presentes na sociedade moderna.

        Aqui, a razão é como uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que nos permite entender e controlar o mundo, ela também nos escraviza. E essa escravidão não é apenas física, é mental e cultural. Somos aprisionados em um ciclo de consumo, tecnologia e conformidade, perdendo nossa verdadeira essência e liberdade.

        Os autores examinam a indústria cultural, a dominação da natureza e a reificação das relações humanas. Eles apontam como a cultura de massa, a arte, a publicidade e a mídia moldam nossa visão de mundo de maneiras que muitas vezes nem percebemos. Vivemos em uma sociedade que vende a ilusão de liberdade, enquanto, na verdade, estamos cada vez mais enredados em sistemas de controle e conformidade.

        "A Dialética do Esclarecimento" nos desafia a questionar nossas crenças e a repensar o conceito de progresso. Ela nos lembra que a busca por conhecimento e poder deve ser acompanhada de uma reflexão crítica sobre como estamos usando esse poder e em que direção estamos indo como sociedade. Em última análise, é um chamado para uma verdadeira emancipação, onde possamos realmente ser livres em um sentido mais profundo e autêntico.      




Bibliografia:

Adorno e Horkheimer, Dialética do Esclarecimento (Prefácio e Conceito de Esclarecimento) Texto: ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Prefácio. In: Dialética do Esclarecimento.

Trad.: Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor: 1985



https://grupocriticaedialetica.files.wordpress.com/2013/05/adorno-e-horkheimer-de.pdf

https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-esclarecimento-kantiano.htm