Reflexões sobre a
ansiedade é assim que a dominamos, pensando e falando sobre ela tão humana, em
sua etimologia quer dizer sufocar, apertar, caminho estreio e doloroso visando
alguma coisa que está no futuro da vida, para o qual não nos sentimos
preparados para enfrentar, há muitas expectativas e a relação de nosso momento histórico
dão mais combustível para incendiar-nos, o ser humano esta acostumado com esta
companhia é o que nos faz andar, o primeiro passo é caminhar e a ansiedade esta
presente no dar o primeiro passo, a ansiedade está ali presente, junto a ela
esta o medo, que tanto serve para nos frear ou nos avisar para dirigir com
cuidado, se descontrolada o medo de ter medo é o pânico quando perdemos a
lucidez, o medo da ansiedade é mais pânico do que medo, medo faz parte de quem
tem certo grau de consciência.
Para Freud, a ansiedade
é adaptativa não apenas por preparar o animal para lidar com o perigo por meio
da mobilização de energia psíquica, mas também por auxiliar na detecção
antecipada de novas ocorrências do estado de perigo.
Nossa filósofa Lucia Helena Galvão da Nova Acrópole é
referência para lidar com mais este tema que assola as sociedades, muito do que
ela trata em suas palestras são problemas do cotidiano e a ansiedade é um tema
precioso tratado magistralmente, ouvir o que ela tem a dizer ajuda-nos a pensar
a respeito do que pode ser feito e qual a postura dos ansiosos frente aos medos
que paralisam, a ansiedade não deixa de fora o medo de fracassar, a ideia de
fracasso causa ansiedade que pode ser o gatilho para o fracasso, a falta de
lucidez causado pela ansiedade exagerada se transforma em pânico e a fraqueza
da lucidez.
Uma resposta diante da
vida vem através do conhecimento e através de seu valor intrínseco, as coisas
que tem maior valor em si são as coisas com maior valor na vida, bondade, amor,
lealdade, compaixão, é preciso trabalho para obter momentos de alegria que em
sua multiplicação se transformarão em felicidade, felicidade sólida, a
ansiedade se dobrará a este forte inimigo que é o conhecimento, o conhecimento
nos ensina a saborear a vida em seu tempo presente, o conhecimento junto a
sabedoria nos ensinam a raciocinar e sermos lúcidos sem deixar as emoções
tomarem conta de nosso estado de espírito, nossa lucidez ensina a não
excedermos nossa projeção e expectativas de pé no chão, alguns dissabores são fruto
de nossa falta de cuidado, a expectativa nos tira a lucidez, parece que
alimentamos uma fábrica de ansiedades.
Apóstolo Paulo nos
ensinou:
“Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que
haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir.
Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?
Nosso filósofo, Luis
Felipe Pondé já nos alertou: "A ansiedade é algo sem fim hoje em dia, e
isso não é bom”, ele complementa: "É complicado não ser ansioso em um
mundo em que somos cobrados a todo instante. Em que há um chamado contínuo
dizendo que devemos ser felizes o tempo todo, dar resultados e equilibrar todas
as áreas da sua vida --trabalho, sucesso, amor, sexo, futuro, filhos,
cachorros, férias...... –
Os diversos problemas intimidam,
a mente é suscetível as más notícias, os jornais e noticiários trazem uma gama gigantesca
de más notícias, o foco no catastrófico tiram nosso foco das coisas boas, o
foco mórbido faz com que o homem seja intimidado, então não tem como reagirmos
ao mundo sem ansiedade, porem os sábios sabem que os problemas fazem parte da
vida, então nosso foco deve estar voltado para as coisas boas, a dinâmica da
vida ensina que existem problemas, mas também nos mostra a luz e o equilíbrio.
O estoicismo nos legou sabias
reflexões, um de seus maiores expoentes Sêneca em sua décima terceira carta,
dirigida a seu amigo Lucilio intitulada “Sobre medos infundados”, escreve
sobre a ansiedade e o medo, penso que após sua leitura a impressão é que
deixamos a ficha cair. Vou compartilhar alguns trechos:
Há mais coisas… que podem
nos assustar do que nos esmagar; nós sofremos com mais frequência na imaginação
do que na realidade.
Seu
conselho ao amigo Lucilio e que vale para todos nós:
O
que eu aconselho que faças é não seres infeliz antes da crise chegar; pois pode
ser que os perigos ante os quais estremeceste como se te estivessem a ameaçar,
nunca irão acontecer; certamente ainda não chegaram.
Assim,
algumas coisas atormentam-nos mais do que deveriam; algumas atormentam-nos
antes do que deveriam; e algumas atormentam-nos quando não nos deveriam
atormentar.
É provável que alguns
problemas nos acometam; mas não é um fato presente. Quantas vezes o inesperado
aconteceu! Quantas vezes o esperado nunca acontece! E mesmo que seja ordenado,
o que valerá para se encontrar com o seu sofrimento? Você sofrerá em breve,
quando chegar; por isso espere ansiosamente por coisas melhores.
A
mente às vezes modela para si as formas falsas do mal, quando não há sinais que
apontem para algum mal; interpreta da pior forma alguma palavra de significado
duvidoso; ou imagina algum rancor pessoal ser mais sério do que realmente é,
considerando não quão irritado o inimigo está, mas a que extensão poderá chegar
sua ira.
Mas
a vida não vale a pena ser vivida, e não há limites para nossas dores, se
entregarmos nossos medos ao máximo possível; neste assunto, deixe a prudência
ajudá-lo, e despreze o medo com um espírito resoluto mesmo quando ele está à
vista. Se você não pode fazer isso, combata uma fraqueza com outra, e tempere o
seu medo com esperança.
Não
há nada tão certo nesse assunto de medo como as coisas que tememos darem em
nada e que as coisas as quais esperamos zombarem de nós. Consequentemente, pese
cuidadosamente as suas esperanças, assim como seus temores, e sempre que todos os elementos estiverem em dúvida,
decida em seu favor; acredita no que você preferir.
E
se o medo ganha a maioria dos votos, incline-se na outra direção de qualquer
maneira, e deixe de incomodar sua alma, refletindo continuamente que a maioria
dos mortais, mesmo quando não têm problemas realmente à mão, certamente os têm
esperados no futuro, e tornam-se excitados e inquietos.
Nossas preocupações exageradas
tiram nosso sossego e oportunidade de vivermos plenamente, parte de nossa
sabedoria está contida no conhecimento externo e no autoconhecimento, ambos são
os inimigos do medo e da ansiedade, são eles que controlam as emoções de forma lúcida, a paz de espírito nos permite olhar os detalhes da caminhada e a dar o
primeiro passo com coragem.
As cartas de Sêneca escritas para seu amigo Lucilio também podem estar dirigidas a nós e obviamente ficaram para a posteridade, sua mensagem é para ser lida e degustada pausadamente, assim como degustamos um chocolate pedaço a pedaço deixando dissolver na boca, nos causam enorme sensação de prazer.
Fontes:
Sêneca, Lúcio Aneu. CARTAS DE UM ESTOICO, Volume I - Um guia para a Vida Feliz /
Sêneca; seleção, introdução, tradução e notas de Alexandre Pires Vieira. – São Paulo, SP: Montecristo
Editora, 2017.
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2018/07/12/sera-que-sofremos-mais-com-a-ansiedade-hoje-do-que-sofriamos-antigamente.htm