Quando a vulgaridade toma conta: o silêncio como refúgio
Hoje
em dia, parece que tudo grita. Redes sociais gritam, os anúncios gritam, até as
conversas casuais andam carregadas de performance. É como se o gosto — aquilo
que molda o belo, o justo, o sensato — tivesse sido esmagado por um rolo
compressor de urgências vazias. Quando a vulgaridade vira norma, o sensível
vira exceção. E é justamente nesse ponto que os antigos escolhiam o caminho
oposto: o do retiro silencioso.
O
filósofo romano Sêneca, em sua carta a Lucílio, aconselhava: “Retira-te
para dentro de ti mesmo, tanto quanto puderes.” Para ele, o barulho do
mundo era mais que uma distração — era um perigo para a alma. E essa ideia,
longe de ultrapassada, talvez nunca tenha sido tão atual. Em tempos de excesso,
o verdadeiro luxo é o silêncio. Em tempos de exposição constante, o verdadeiro
gesto revolucionário pode ser desaparecer por um tempo, não para fugir, mas
para recuperar-se.
O
retiro, nesse sentido, não é um isolamento arrogante, mas uma reaproximação
humilde. É como voltar para casa depois de ter se perdido numa cidade ruidosa.
Lá dentro, no silêncio do que somos, longe do gosto massificado e da repetição
cansada, podemos voltar a sentir o que realmente nos toca. A vulgaridade não se
combate com briga — mas com recuo. Porque às vezes é preciso sair da festa para
lembrar por que ela começou.
O
gosto, então, talvez não morra — apenas adormeça. E o retiro, seja ele um
quarto calmo, um banco no parque ou um mergulho no próprio pensamento, é o
lugar onde ele acorda.