O termo "idiota", na raiz etimológica grega (idiotés), referia-se àquele que vivia à margem dos assuntos públicos, focado apenas em sua vida privada. Curiosamente, no mundo contemporâneo, ele ganhou uma conotação pejorativa, descrevendo alguém incapaz de compreender ou participar de questões mais amplas. E, nessa trajetória semântica, algo mais se adicionou: a influência externa, que parece moldar e amplificar a idiotice no tecido social.
Pensemos no cotidiano. Alguém assiste a um vídeo
viral onde uma pessoa pula de uma altura considerável para uma piscina rasa. O
ato é imitado, e as consequências muitas vezes trágicas são vistas como
“acidentes”. Não é que a pessoa seja naturalmente idiota, mas foi influenciada
a agir de forma idiota. Redes sociais, grupos de WhatsApp e tendências
culturais criam um ambiente fértil para a proliferação desse comportamento.
O Idiota Sob Influência Social
Jean Baudrillard, ao explorar a ideia da
hiper-realidade, argumenta que vivemos em um mundo onde os símbolos substituem
o real. Em termos práticos, ser idiota hoje não é apenas ser desinformado ou
fazer escolhas ruins; é viver de forma influenciada por construções sociais que
celebram o raso e o espetáculo. Quando alguém compartilha fake news ou
participa de desafios absurdos, não o faz por estupidez intrínseca, mas porque
foi atraído para uma narrativa convincente — uma simulação que parece mais real
que o real.
Outro filósofo que nos ajuda a entender esse
fenômeno é Byung-Chul Han. Em A Sociedade do Cansaço, ele descreve como o
excesso de informações e exigências de performance transforma indivíduos em
produtos de sua própria desconexão. O idiota por influência é, então, um
resultado da sobrecarga: sem tempo para refletir ou questionar, absorve e
reproduz comportamentos padronizados.
Exemplos do Cotidiano
Opiniões sem Base: Fulano acredita firmemente que a
Terra é plana porque viu um vídeo “didático” no YouTube. Ele não investiga, não
questiona. Apenas replica. A influência aqui é direta: a narrativa simplista
encontra terreno fértil em mentes cansadas de complexidade.
Compras Impulsivas: Quem nunca comprou algo
absolutamente inútil porque um influenciador digital recomendou? Não era uma
necessidade; era a força da sugestão.
Seguir o Rebanho: Em reuniões de trabalho, aquele
que concorda com tudo, mesmo sem entender, não o faz porque é naturalmente
tolo, mas porque o ambiente corporativo premia o conformismo.
Resistir à Influência Idiota
Platão, ao descrever o mito da caverna, já alertava
sobre os perigos da ignorância coletiva. A luz da sabedoria, que nos liberta
das sombras da caverna, requer esforço. E talvez a maior proteção contra a
idiotice por influência seja o hábito de questionar: Por que estou acreditando
nisso? Por que estou agindo assim?
N. Sri Ram, em A Beleza da Vida, destaca que a
verdadeira inteligência não é acumulativa, mas intuitiva. Ela nasce de uma
percepção profunda do todo, algo que requer um estado de atenção. Ou seja,
resistir ao idiota por influência é um trabalho diário de auto-observação.
Um Chamado à Reflexão
Ser idiota por influência não é uma condição
permanente, mas um estado passageiro, fruto da desconexão com a reflexão
crítica. Se o mundo moderno nos empurra para a superficialidade, talvez a
solução esteja em recuperar o silêncio, o pensamento independente e a
capacidade de discernir entre o verdadeiro e o ilusório.
E você, já parou para pensar em quantas vezes agiu
como um idiota, não por escolha, mas por influência?