Já se perguntou qual o sentido e direção que decidiu tomar nas decisões a que é exigido seguir? Afinal, qual o sentido da vida que levamos? Assim, num devaneio comecei a me perguntar, que desígnio intrínseco estaria contido dentro de mim? O conceito de "desígnio intrínseco" nos leva a refletir sobre a existência de uma direção ou propósito natural dentro de cada ser, como uma espécie de bússola interna. Quando falamos de desígnio, costumamos imaginar algo externo, uma missão atribuída, um objetivo a ser cumprido. Mas o que acontece quando esse propósito não é algo que vem de fora, mas que já está presente em nossa essência desde o início?
Imagine
uma semente. Não importa onde ela seja plantada, desde que as condições mínimas
sejam atendidas, ela crescerá em direção ao que ela já estava destinada a ser.
Uma semente de laranjeira não precisa de uma ordem externa para saber que deve
dar laranjas. É o seu desígnio intrínseco. Da mesma forma, muitos de nós
carregamos esse potencial dentro de si, um chamado que é silencioso, mas
constante, como um rio subterrâneo que eventualmente encontrará uma forma de
emergir à superfície.
Na
vida cotidiana, podemos sentir esse desígnio intrínseco como uma espécie de
inquietude, uma sensação de que algo dentro de nós deseja se manifestar. Isso
pode se revelar na forma de talentos, paixões ou mesmo no desejo por certos
tipos de experiências. Muitas vezes, a confusão vem do fato de que estamos
cercados de expectativas externas – o que a sociedade, a família, ou as
circunstâncias nos dizem que devemos ser ou fazer. Nessa pressão, é fácil
perder de vista aquele sentido interior que nos guia.
No
entanto, há momentos em que, por mais que tentemos nos afastar de nosso próprio
desígnio, algo nos puxa de volta. É como se estivéssemos ligados a ele por uma
corda invisível. Um exemplo disso pode ser visto em pessoas que, após anos em
carreiras ou relacionamentos que parecem satisfatórios para todos ao redor, de
repente decidem fazer uma mudança radical. Esses movimentos são frequentemente
descritos como "voltar a ser eu mesmo" ou "encontrar minha
verdadeira vocação", indicando que o desígnio estava lá o tempo todo,
aguardando o momento certo para ser seguido.
O
filósofo brasileiro Vilém Flusser argumenta que a liberdade está profundamente
conectada à nossa capacidade de perceber e seguir nossos próprios desígnios.
Para ele, a verdadeira liberdade não é simplesmente fazer o que queremos em
qualquer momento, mas sim nos alinhar com aquilo que já está presente dentro de
nós, aquilo que de alguma forma nos define e nos chama para além das
contingências da vida. Ele sugere que, ao seguirmos esse caminho, podemos
escapar da superficialidade da vida moderna, que frequentemente nos desvia com
promessas de realização em áreas que, no fundo, não ressoam com nosso ser mais
íntimo.
Essa
ideia também dialoga com as tradições filosóficas orientais, onde o conceito de
"dharma" é visto como o desígnio natural de cada ser, o caminho único
que cada indivíduo deve trilhar. Cumprir o seu dharma, de certa forma, é estar
em harmonia com o universo, permitindo que aquilo que você é intrinsecamente se
manifeste de maneira plena.
Na
vida prática, o desígnio intrínseco pode aparecer em situações banais. Você já
experimentou aquela sensação de estar tão envolvido em uma atividade que o
tempo parece passar sem que você perceba? Esses momentos de "fluxo",
como os chamaria o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, são sinais de que estamos
agindo de acordo com o que é natural para nós. É nesse estado que nossa
produtividade, criatividade e sensação de bem-estar se encontram.
Porém,
seguir esse desígnio nem sempre é fácil. A vida contemporânea, com sua ênfase
no sucesso material e nas realizações externas, muitas vezes cria uma névoa que
encobre nossa visão interna. A voz do nosso desígnio pode se tornar difícil de
ouvir em meio ao ruído das exigências diárias. Mas, para aqueles que se
comprometem a seguir esse chamado, o caminho pode levar a uma sensação de
plenitude que transcende o conceito de sucesso convencional.
O
desígnio intrínseco é uma manifestação da nossa essência. É aquilo que somos,
antes mesmo de sermos moldados pelas influências externas. Nossa tarefa,
talvez, seja escutar esse chamado, mesmo que, em muitos momentos, ele seja
abafado pelas expectativas do mundo ao nosso redor. Ao fazer isso, podemos não
apenas encontrar realização pessoal, mas também contribuir de forma única para
o mundo, já que nosso desígnio, ao ser cumprido, tem o potencial de inspirar e
transformar o ambiente que nos cerca.
Assim
como a semente que cresce para ser o que sempre foi destinada a ser, talvez nós
também estejamos aqui para nos tornarmos aquilo que já está inscrito em nossa
natureza, esperando apenas a chance de florescer.
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