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sábado, 5 de outubro de 2024

Desígnio Intrínseco

Já se perguntou qual o sentido e direção que decidiu tomar nas decisões a que é exigido seguir? Afinal, qual o sentido da vida que levamos? Assim, num devaneio comecei a me perguntar, que desígnio intrínseco estaria contido dentro de mim? O conceito de "desígnio intrínseco" nos leva a refletir sobre a existência de uma direção ou propósito natural dentro de cada ser, como uma espécie de bússola interna. Quando falamos de desígnio, costumamos imaginar algo externo, uma missão atribuída, um objetivo a ser cumprido. Mas o que acontece quando esse propósito não é algo que vem de fora, mas que já está presente em nossa essência desde o início?

Imagine uma semente. Não importa onde ela seja plantada, desde que as condições mínimas sejam atendidas, ela crescerá em direção ao que ela já estava destinada a ser. Uma semente de laranjeira não precisa de uma ordem externa para saber que deve dar laranjas. É o seu desígnio intrínseco. Da mesma forma, muitos de nós carregamos esse potencial dentro de si, um chamado que é silencioso, mas constante, como um rio subterrâneo que eventualmente encontrará uma forma de emergir à superfície.

Na vida cotidiana, podemos sentir esse desígnio intrínseco como uma espécie de inquietude, uma sensação de que algo dentro de nós deseja se manifestar. Isso pode se revelar na forma de talentos, paixões ou mesmo no desejo por certos tipos de experiências. Muitas vezes, a confusão vem do fato de que estamos cercados de expectativas externas – o que a sociedade, a família, ou as circunstâncias nos dizem que devemos ser ou fazer. Nessa pressão, é fácil perder de vista aquele sentido interior que nos guia.

No entanto, há momentos em que, por mais que tentemos nos afastar de nosso próprio desígnio, algo nos puxa de volta. É como se estivéssemos ligados a ele por uma corda invisível. Um exemplo disso pode ser visto em pessoas que, após anos em carreiras ou relacionamentos que parecem satisfatórios para todos ao redor, de repente decidem fazer uma mudança radical. Esses movimentos são frequentemente descritos como "voltar a ser eu mesmo" ou "encontrar minha verdadeira vocação", indicando que o desígnio estava lá o tempo todo, aguardando o momento certo para ser seguido.

O filósofo brasileiro Vilém Flusser argumenta que a liberdade está profundamente conectada à nossa capacidade de perceber e seguir nossos próprios desígnios. Para ele, a verdadeira liberdade não é simplesmente fazer o que queremos em qualquer momento, mas sim nos alinhar com aquilo que já está presente dentro de nós, aquilo que de alguma forma nos define e nos chama para além das contingências da vida. Ele sugere que, ao seguirmos esse caminho, podemos escapar da superficialidade da vida moderna, que frequentemente nos desvia com promessas de realização em áreas que, no fundo, não ressoam com nosso ser mais íntimo.

Essa ideia também dialoga com as tradições filosóficas orientais, onde o conceito de "dharma" é visto como o desígnio natural de cada ser, o caminho único que cada indivíduo deve trilhar. Cumprir o seu dharma, de certa forma, é estar em harmonia com o universo, permitindo que aquilo que você é intrinsecamente se manifeste de maneira plena.

Na vida prática, o desígnio intrínseco pode aparecer em situações banais. Você já experimentou aquela sensação de estar tão envolvido em uma atividade que o tempo parece passar sem que você perceba? Esses momentos de "fluxo", como os chamaria o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, são sinais de que estamos agindo de acordo com o que é natural para nós. É nesse estado que nossa produtividade, criatividade e sensação de bem-estar se encontram.

Porém, seguir esse desígnio nem sempre é fácil. A vida contemporânea, com sua ênfase no sucesso material e nas realizações externas, muitas vezes cria uma névoa que encobre nossa visão interna. A voz do nosso desígnio pode se tornar difícil de ouvir em meio ao ruído das exigências diárias. Mas, para aqueles que se comprometem a seguir esse chamado, o caminho pode levar a uma sensação de plenitude que transcende o conceito de sucesso convencional.

O desígnio intrínseco é uma manifestação da nossa essência. É aquilo que somos, antes mesmo de sermos moldados pelas influências externas. Nossa tarefa, talvez, seja escutar esse chamado, mesmo que, em muitos momentos, ele seja abafado pelas expectativas do mundo ao nosso redor. Ao fazer isso, podemos não apenas encontrar realização pessoal, mas também contribuir de forma única para o mundo, já que nosso desígnio, ao ser cumprido, tem o potencial de inspirar e transformar o ambiente que nos cerca.

Assim como a semente que cresce para ser o que sempre foi destinada a ser, talvez nós também estejamos aqui para nos tornarmos aquilo que já está inscrito em nossa natureza, esperando apenas a chance de florescer.


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