A gente vive cheio de crenças, mesmo que nem sempre perceba. Algumas delas são simples, como acreditar que o café vai te dar um ânimo extra pela manhã. Outras são mais profundas, como aquelas que moldam a nossa visão de mundo, do que é certo ou errado, do que nos faz felizes. Mas o que acontece quando tentamos questionar ou, melhor ainda, refutar essas crenças que parecem tão fundamentais? Será que dá pra convencer alguém de que aquilo que sempre acreditou pode estar errado? Ou será que, no fundo, algumas crenças são inabaláveis? Neste ensaio, vamos explorar o que significa refutar uma crença e até onde isso é possível.
Refutar o elemento fundamental das crenças pode
parecer uma tarefa complicada, porque crenças, de modo geral, sustentam muito
do que chamamos de realidade. Mas antes de adentrar o que significa
"refutar" as crenças, é importante definir o que entendemos por
"elemento fundamental das crenças". Isso se refere àquilo que serve
como alicerce para a estrutura da crença, o ponto de apoio no qual uma ideia se
ergue e se torna significativa para quem a sustenta.
O
que são crenças?
As crenças são convicções ou suposições que tomamos
como verdadeiras, quer sejam sustentadas por evidências racionais, experiências
pessoais ou tradições culturais. Elas formam a base da nossa compreensão do
mundo e influenciam a maneira como tomamos decisões. No entanto, nem todas as
crenças são baseadas em evidências verificáveis; algumas são, na verdade,
sustentadas por confiança ou fé.
Tomemos como exemplo crenças religiosas, que
frequentemente dependem de uma narrativa de fé, não de evidências científicas.
O elemento fundamental aqui é uma confiança no transcendente, naquilo que não
pode ser provado empiricamente. Já crenças científicas são geralmente
fundamentadas na observação e repetição de resultados, com seu elemento base
sendo a experiência e a experimentação verificável.
Refutar:
É possível?
A refutação de uma crença só é possível quando sua
estrutura permite um exame crítico. Quando falamos de crenças baseadas em
evidências, é mais fácil propor refutações, porque existem parâmetros
verificáveis. Se alguém acredita que a Terra é plana, por exemplo, isso pode
ser testado e, consequentemente, refutado com base em evidências científicas.
Por outro lado, refutar crenças subjetivas ou
espirituais é muito mais difícil, porque elas não dependem de parâmetros
objetivos que possam ser medidos ou analisados de maneira convencional. Aqui
entramos na famosa citação de Wittgenstein: “Onde não se pode falar, deve-se
calar”. Ele reflete sobre os limites da linguagem e da lógica ao lidar com
coisas como crenças religiosas ou metafísicas, que escapam ao domínio do que
pode ser refutado ou verificado.
O
problema da "Verdade"
A questão central ao refutar uma crença é que a
própria ideia de “verdade” é frequentemente relativa ao ponto de vista do
indivíduo. Aquilo que é verdadeiro para um crente pode ser considerado ilusório
para outro. O filósofo francês Michel Foucault, por exemplo, argumentava que a
verdade não é algo universal, mas sim o produto de relações de poder e discurso
dentro de uma sociedade. Refutar uma crença, nesse sentido, é também desafiar o
sistema que a sustenta.
Assim, quando tentamos refutar uma crença
fundamental, o que estamos fazendo é, na verdade, desafiando o sistema inteiro
de valores, práticas e narrativas que a constroem. Isso não é apenas um ato de
negação, mas um ato de subversão da realidade percebida. Quando alguém deixa de
acreditar em algo, não está apenas mudando de opinião, mas, de certo modo,
alterando sua própria realidade.
A
Fé e o Inatacável
Algumas crenças se estabelecem de tal maneira que
se tornam inatacáveis, pelo menos para quem as professa. Pense em como a fé é
vista por aqueles que a têm: ela transcende o campo do questionamento racional.
C. S. Lewis, em Mero Cristianismo, fala sobre como a fé não é só acreditar em
algo, mas também persistir nessa crença mesmo quando as emoções ou
circunstâncias nos impelem a abandoná-la. A fé, portanto, resiste à refutação
porque se coloca além da razão.
Refutando
crenças cotidianas
Em contextos mais mundanos, crenças sobre o
funcionamento do mundo também podem ser desafiadas. Por exemplo, alguém pode
ter a crença de que a felicidade só vem com o sucesso material. Essa crença
pode ser refutada a partir de exemplos da vida cotidiana, mostrando que muitas
pessoas encontram satisfação em outros aspectos da vida, como em relações
pessoais ou na autorrealização.
Aqui, o que estamos refutando é a ideia de que há uma conexão necessária entre riqueza e felicidade. No entanto, para quem sustenta essa crença, pode não ser uma refutação simples, pois toda a sua visão de mundo e suas ações estão ancoradas nessa premissa.
Refutar o elemento fundamental das crenças exige um desafio direto ao sistema que sustenta essas crenças. No caso de crenças baseadas em evidências, esse processo pode ser mais claro e direto. Já no caso de crenças subjetivas, espirituais ou ligadas à fé, a tarefa é muito mais complexa e, talvez, até impossível. O ato de refutar, nesse sentido, não é só um exercício de lógica, mas um enfrentamento da própria realidade que as pessoas constroem para si. E, como tal, a refutação não é um ato de destruição simples, mas sim de questionamento profundo, que mexe com a própria percepção do que é real e do que vale a pena acreditar.
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