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sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Paradoxo da Efemeridade

Às vezes, me pego refletindo sobre os pequenos gestos do cotidiano, aqueles que parecem não ter grande impacto. É como o hábito de arrumar a cama todas as manhãs, sabendo que à noite ela será desfeita novamente, ou como varrer folhas secas do quintal, apenas para vê-las retornarem com o próximo vento. Esses atos, à primeira vista, parecem esforços insignificantes e efêmeros. No entanto, são eles que compõem boa parte do nosso dia a dia.

O que nos motiva a continuar? Será que são apenas questões de hábito, ou existe algo mais profundo no ato de insistir, mesmo quando o resultado é passageiro? Há uma certa beleza em fazer algo sabendo que seu efeito será temporário, como se essas pequenas ações fossem uma forma de resistir ao caos do mundo, uma tentativa silenciosa de criar ordem, ainda que fugaz.

Nietzsche, ao falar do eterno retorno, parece abordar esse ciclo de repetição. Ele sugere que, se tivéssemos que reviver nossa vida infinitamente, com todos os seus altos e baixos, nós a aceitaríamos da mesma forma? Se tivéssemos a garantia de que nossos esforços insignificantes se repetiriam para sempre, continuaríamos a agir da mesma maneira? Talvez o que hoje vemos como insignificante ganhasse outra perspectiva, mais plena e valorosa.

Ao mesmo tempo, há algo de profundamente humano em se engajar em ações que sabemos serem transitórias. Esse é o paradoxo da efemeridade: tudo o que fazemos, no fundo, pode ser considerado passageiro, mas ainda assim buscamos significado. Um exemplo é a jardinagem. Um jardineiro planta flores sabendo que elas murcharão em algumas semanas, mas o prazer e a dedicação estão na própria jornada, não no resultado final. A natureza cíclica da vida nos ensina que o valor de algo não está necessariamente em sua durabilidade, mas na presença e no cuidado dedicado àquele momento.

O filósofo brasileiro Rubem Alves certa vez comentou sobre a efemeridade ao dizer que a beleza da vida está no fato de que ela não dura para sempre. Talvez seja essa finitude que dá sentido às nossas ações. Não fazemos as coisas porque elas durarão para sempre, mas porque, justamente por serem efêmeras, elas merecem nossa atenção.

Em um mundo que valoriza tanto o permanente e o duradouro, os esforços insignificantes e efêmeros podem ser uma forma de reconectar com o que é essencial. Eles nos lembram que, em última instância, a vida não é sobre acumular feitos eternos, mas sobre viver intensamente os momentos transitórios, aqueles que desaparecem no instante seguinte.

Assim, ao varrer as folhas do quintal ou arrumar a cama, estamos, de certa forma, reafirmando nossa presença no mundo, afirmando que, mesmo em meio ao caos e à transitoriedade, nossas ações, por mais simples que sejam, têm seu valor. E talvez, no final das contas, não seja o que fazemos que importa, mas o simples fato de fazermos, de nos engajarmos, de resistirmos. Afinal, como Alves sugeria, é na efemeridade que encontramos a beleza da existência.


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