Pensei, um jeito prosaico de fazer um ensaio pode ser por começar pegando um tema cotidiano que parece simples à primeira vista, mas que, quando olhado com mais profundidade, revela camadas escondidas de significado. Vamos pegar o ato de caminhar, por exemplo. Quem nunca saiu para uma caminhada sem rumo, só para espairecer, tentando organizar os pensamentos ou, simplesmente, se deixar levar pelas pernas?
Nesse
movimento, o caminhar se transforma numa metáfora poderosa para a vida. Você
pode até saber o destino final, mas o caminho entre os pontos A e B nunca é
linear. Às vezes, uma rua sem saída nos força a voltar e buscar outra rota.
Outras vezes, uma curva inesperada nos revela algo novo. Esse ato simples de
caminhar reflete nossas escolhas, os desvios e os recomeços que marcam nossa
trajetória.
Agora,
trazendo um filósofo para o debate, Jean-Paul Sartre cai como uma luva. Sartre
falava sobre a liberdade radical, a ideia de que estamos sempre escolhendo,
mesmo que não queiramos. Cada passo na caminhada é uma decisão – seguir em
frente, mudar de direção ou parar. No entanto, essa liberdade também traz o
peso da responsabilidade, porque cada escolha, cada passo dado, tem uma
consequência.
É
aí que o caminhar deixa de ser apenas um ato físico e se torna um reflexo do
existencialismo sartreano. Não há garantias de que o caminho que escolhemos é o
certo, mas somos responsáveis por ele. Caminhamos em meio à incerteza, mas é
essa liberdade de movimento que nos define.
Sartre diria que, mesmo sem um destino claro, a caminhada em si já é um ato de criação. Criamos a nossa vida a cada escolha, a cada encruzilhada que aparece no percurso. No fundo, caminhar é existir, e existir, segundo Sartre, é estar condenado a ser livre – o que, apesar de paradoxal, carrega uma profundidade filosófica imensa. Então, da próxima vez que sair para uma caminhada, lembre-se: você está escrevendo o seu caminho com cada passo, como se fosse uma metáfora da vida, sem mapa certo, mas com infinitas possibilidades.
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