Enquanto ouvia mantras refletia a respeito de algo divino como a dadiva do existir.
Link
dos mantras: https://www.youtube.com/watch?v=bOZdXEvEflA
A dádiva do existir é algo que nem sempre
percebemos no dia a dia, mas está presente em cada respiração, em cada passo, e
até nos momentos mais comuns, como uma xícara de café que tomamos sem pensar
muito. Existir, por si só, é uma experiência tão vasta e misteriosa que se
reflete nas pequenas e grandes coisas. É o que o filósofo francês Jean-Paul
Sartre chamou de "facticidade" — o simples fato de estarmos aqui,
jogados no mundo, sem que tenhamos pedido por isso, mas tendo a liberdade de
moldar nossas vidas.
Essa dádiva, entretanto, não é algo que se abre
para nós em momentos de calmaria. Muitas vezes, só notamos a profundidade de
estar vivo quando somos forçados a confrontar nossa existência — seja por meio
de uma crise pessoal, uma perda, ou uma mudança drástica. Nesses momentos, a
dádiva se revela como algo frágil e, ao mesmo tempo, poderoso.
No dia a dia, podemos esquecer essa preciosidade,
sufocados pela rotina, pela pressa, pelos prazos. Mas a verdadeira dádiva está
nas brechas dessas atividades — quando, por um breve instante, olhamos para o
céu, percebemos o vento no rosto ou nos perdemos em um sorriso inesperado de
alguém. Nessas pausas, a existência se manifesta como um presente, algo que,
mesmo sem explicação, pulsa com uma vitalidade que transcende a banalidade do
cotidiano.
O filósofo Martin Heidegger nos convida a pensar no
"ser" como algo que se revela a partir do silêncio. Segundo ele,
existimos em um mundo de preocupações e distrações, mas é no
"estar-no-mundo" que encontramos nossa essência. O simples ato de
existir é uma oportunidade de sermos, de nos encontrarmos, de estarmos
presentes no aqui e agora. Heidegger vê essa dádiva como uma abertura — uma
janela para a autenticidade, para o real sentido de ser.
A dádiva do existir, portanto, é algo que nos
escapa se não pararmos para sentir. Ela está no cotidiano, nas pequenas
escolhas, nas reflexões que fazemos ao final do dia, na sensação de pertença ou
de estranheza. O segredo está em desacelerar, em se permitir estar com a
própria presença, reconhecendo que, no fundo, existir é um presente imenso que
nos é dado sem qualquer garantia ou explicação.
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