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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Dadiva do Existir

Enquanto ouvia mantras refletia a respeito de algo divino como a dadiva do existir.

Link dos mantras: https://www.youtube.com/watch?v=bOZdXEvEflA

A dádiva do existir é algo que nem sempre percebemos no dia a dia, mas está presente em cada respiração, em cada passo, e até nos momentos mais comuns, como uma xícara de café que tomamos sem pensar muito. Existir, por si só, é uma experiência tão vasta e misteriosa que se reflete nas pequenas e grandes coisas. É o que o filósofo francês Jean-Paul Sartre chamou de "facticidade" — o simples fato de estarmos aqui, jogados no mundo, sem que tenhamos pedido por isso, mas tendo a liberdade de moldar nossas vidas.

Essa dádiva, entretanto, não é algo que se abre para nós em momentos de calmaria. Muitas vezes, só notamos a profundidade de estar vivo quando somos forçados a confrontar nossa existência — seja por meio de uma crise pessoal, uma perda, ou uma mudança drástica. Nesses momentos, a dádiva se revela como algo frágil e, ao mesmo tempo, poderoso.

No dia a dia, podemos esquecer essa preciosidade, sufocados pela rotina, pela pressa, pelos prazos. Mas a verdadeira dádiva está nas brechas dessas atividades — quando, por um breve instante, olhamos para o céu, percebemos o vento no rosto ou nos perdemos em um sorriso inesperado de alguém. Nessas pausas, a existência se manifesta como um presente, algo que, mesmo sem explicação, pulsa com uma vitalidade que transcende a banalidade do cotidiano.

O filósofo Martin Heidegger nos convida a pensar no "ser" como algo que se revela a partir do silêncio. Segundo ele, existimos em um mundo de preocupações e distrações, mas é no "estar-no-mundo" que encontramos nossa essência. O simples ato de existir é uma oportunidade de sermos, de nos encontrarmos, de estarmos presentes no aqui e agora. Heidegger vê essa dádiva como uma abertura — uma janela para a autenticidade, para o real sentido de ser.

A dádiva do existir, portanto, é algo que nos escapa se não pararmos para sentir. Ela está no cotidiano, nas pequenas escolhas, nas reflexões que fazemos ao final do dia, na sensação de pertença ou de estranheza. O segredo está em desacelerar, em se permitir estar com a própria presença, reconhecendo que, no fundo, existir é um presente imenso que nos é dado sem qualquer garantia ou explicação.


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