Outro dia, enquanto caminhava pelo bairro, percebi algo que poderia passar despercebido em meio à correria: o som das folhas secas sendo arrastadas pelo vento. Esse pequeno detalhe me fez pensar em como estamos tão imersos no fluxo do dia a dia que nos esquecemos de prestar atenção nas coisas mais simples. Foi um momento que, sem esforço, me trouxe para o presente. Mas por que esses instantes de atenção plena são tão raros?
No
cotidiano, estamos sempre correndo — seja para o trabalho, seja para cumprir
uma série de compromissos —, e, muitas vezes, isso nos coloca em um estado de
“piloto automático”. Você já se pegou atravessando ruas ou fazendo atividades
sem realmente estar ali? Isso acontece o tempo todo. Estamos fisicamente
presentes, mas a mente já está no próximo compromisso, na próxima tarefa. E é
aqui que entra o conceito de mindfulness — ou atenção plena.
Mindfulness
é justamente o contrário desse estado automático. Ele propõe a prática de estar
completamente no presente, observando as coisas como elas são, sem julgamentos
ou tentativas de alterar o momento. Pode ser algo tão simples quanto sentir o
gosto do café pela manhã, prestar atenção ao som da água correndo enquanto
lavamos a louça ou perceber a textura dos lençóis antes de dormir.
Nas
nossas rotinas, existem muitas oportunidades para praticar mindfulness. No
trânsito, ao invés de reclamar da lentidão, podemos observar a nossa respiração
e tentar relaxar os músculos que estão tensos. No trabalho, podemos tirar um
momento entre as tarefas para apenas respirar e sentir os pés no chão. E até
nas conversas do dia a dia, podemos ouvir verdadeiramente o que o outro está
dizendo, sem antecipar respostas ou distrações.
O
filósofo Thich Nhat Hanh, monge budista vietnamita, é um dos grandes
proponentes da prática de mindfulness. Ele sugere que cada ação do nosso
cotidiano pode ser uma oportunidade de meditação. Ele diz que “não precisamos
entrar em uma sala de meditação para estar em paz. Basta estarmos presentes em
cada ato que fazemos, como lavar os pratos ou varrer o chão, com plena
atenção.” Para ele, essas pequenas tarefas não são interrupções em nossas
vidas, mas oportunidades de estar completamente no aqui e agora.
E
essa prática não é apenas uma técnica de relaxamento; ela pode mudar a maneira
como nos relacionamos com o mundo. Ao estarmos atentos, percebemos mais nuances
nas situações e nas pessoas ao nosso redor. A raiva, por exemplo, não explode
com a mesma força quando estamos conscientes dela. A ansiedade diminui quando
focamos no presente, e o estresse do futuro perde a força quando percebemos que
só temos o agora.
No
fim, a prática de mindfulness no cotidiano não é sobre evitar compromissos ou
escapar da vida agitada. Pelo contrário, é sobre viver esses momentos de forma
mais profunda e consciente.