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quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Atenção Plena

Outro dia, enquanto caminhava pelo bairro, percebi algo que poderia passar despercebido em meio à correria: o som das folhas secas sendo arrastadas pelo vento. Esse pequeno detalhe me fez pensar em como estamos tão imersos no fluxo do dia a dia que nos esquecemos de prestar atenção nas coisas mais simples. Foi um momento que, sem esforço, me trouxe para o presente. Mas por que esses instantes de atenção plena são tão raros?

No cotidiano, estamos sempre correndo — seja para o trabalho, seja para cumprir uma série de compromissos —, e, muitas vezes, isso nos coloca em um estado de “piloto automático”. Você já se pegou atravessando ruas ou fazendo atividades sem realmente estar ali? Isso acontece o tempo todo. Estamos fisicamente presentes, mas a mente já está no próximo compromisso, na próxima tarefa. E é aqui que entra o conceito de mindfulness — ou atenção plena.

Mindfulness é justamente o contrário desse estado automático. Ele propõe a prática de estar completamente no presente, observando as coisas como elas são, sem julgamentos ou tentativas de alterar o momento. Pode ser algo tão simples quanto sentir o gosto do café pela manhã, prestar atenção ao som da água correndo enquanto lavamos a louça ou perceber a textura dos lençóis antes de dormir.

Nas nossas rotinas, existem muitas oportunidades para praticar mindfulness. No trânsito, ao invés de reclamar da lentidão, podemos observar a nossa respiração e tentar relaxar os músculos que estão tensos. No trabalho, podemos tirar um momento entre as tarefas para apenas respirar e sentir os pés no chão. E até nas conversas do dia a dia, podemos ouvir verdadeiramente o que o outro está dizendo, sem antecipar respostas ou distrações.

O filósofo Thich Nhat Hanh, monge budista vietnamita, é um dos grandes proponentes da prática de mindfulness. Ele sugere que cada ação do nosso cotidiano pode ser uma oportunidade de meditação. Ele diz que “não precisamos entrar em uma sala de meditação para estar em paz. Basta estarmos presentes em cada ato que fazemos, como lavar os pratos ou varrer o chão, com plena atenção.” Para ele, essas pequenas tarefas não são interrupções em nossas vidas, mas oportunidades de estar completamente no aqui e agora.

E essa prática não é apenas uma técnica de relaxamento; ela pode mudar a maneira como nos relacionamos com o mundo. Ao estarmos atentos, percebemos mais nuances nas situações e nas pessoas ao nosso redor. A raiva, por exemplo, não explode com a mesma força quando estamos conscientes dela. A ansiedade diminui quando focamos no presente, e o estresse do futuro perde a força quando percebemos que só temos o agora.

No fim, a prática de mindfulness no cotidiano não é sobre evitar compromissos ou escapar da vida agitada. Pelo contrário, é sobre viver esses momentos de forma mais profunda e consciente.


terça-feira, 26 de novembro de 2024

Anjo e Demônio

O tempo, esse anjo invisível que nos acompanha constantemente, é uma força poderosa que molda nossas vidas de maneiras sutis e profundas. Embora não possamos vê-lo ou tocá-lo, suas marcas são inegáveis em cada aspecto do nosso cotidiano. Vamos pensar sobre como o tempo atua em nossas vidas diárias e refletir sobre a sabedoria que ele nos oferece.

O Tempo e a Rotina Matinal

Cada manhã, ao despertar, somos lembrados da passagem do tempo. O sol nasce, iluminando o início de um novo dia, e com ele vem a nossa rotina matinal. Levantar da cama, tomar um café e se preparar para as atividades do dia são pequenos rituais que nos conectam ao fluxo contínuo do tempo.

Esses momentos matinais, por mais simples que pareçam, são oportunidades para refletir sobre como escolhemos gastar nosso tempo. Será que estamos dedicando tempo suficiente para cuidar de nós mesmos e de nossos entes queridos?

O Tempo e as Relações

Nossas relações pessoais também são moldadas pelo tempo. Pense nas amizades que resistiram ao teste do tempo, enriquecendo-se com cada ano que passa. Esses relacionamentos se aprofundam e se fortalecem à medida que compartilhamos experiências, superamos desafios e criamos memórias juntos.

Por outro lado, o tempo também pode revelar a fragilidade de certas conexões. Amizades que se enfraquecem ou amores que se desvanecem mostram como o tempo pode ser tanto um construtor quanto um destruidor. Ao valorizar o tempo que passamos com aqueles que amamos, estamos reconhecendo sua importância em nossa jornada emocional.

O Tempo e o Trabalho

No ambiente de trabalho, o tempo é um recurso precioso. Prazos, reuniões e metas estabelecem um ritmo que devemos seguir. A gestão do tempo se torna essencial para equilibrar produtividade e bem-estar.

Mas além das tarefas e compromissos, o tempo no trabalho também nos ensina paciência e perseverança. Projetos longos e complexos exigem dedicação contínua e uma visão a longo prazo. O tempo nos ajuda a entender que grandes realizações raramente acontecem da noite para o dia.

O Tempo e o Crescimento Pessoal

Nosso crescimento pessoal é talvez onde o impacto do tempo é mais evidente. Desde a infância até a idade adulta, o tempo nos transforma, trazendo aprendizado, experiência e sabedoria. A cada ano, nos tornamos versões mais complexas e enriquecidas de nós mesmos.

Essa evolução contínua é um lembrete de que o tempo, embora invisível, está sempre presente, guiando nosso desenvolvimento e nos incentivando a aproveitar cada momento para crescer e aprender.

O Tempo: Anjo e Demônio

No entanto, o tempo também pode ser visto como um demônio, especialmente quando se trata da nossa identidade. À medida que envelhecemos, o tempo tende a subverter quem pensamos ser. Nossas crenças, valores e até a nossa aparência podem mudar, muitas vezes de maneiras que não esperamos ou desejamos.

Essa subversão da identidade pode ser desafiadora. Imagine alguém que, ao longo dos anos, se vê afastado dos seus sonhos de juventude, assumindo papéis e responsabilidades que nunca imaginou. Ou alguém que, ao envelhecer, se sente desconectado de sua aparência jovem e vital. Essas mudanças forçadas pelo tempo podem causar um sentimento de perda e alienação.

O Filósofo Fala: Henri Bergson e a Duração

Henri Bergson, um filósofo francês, explorou profundamente a natureza do tempo. Ele introduziu o conceito de "duração" (durée), que se refere à experiência subjetiva do tempo, diferente do tempo cronológico medido pelos relógios. Para Bergson, a duração é o tempo vivido, o fluxo contínuo e indivisível de nossas experiências internas.

O anjo invisível chamado tempo é um companheiro constante e silencioso que nos guia através das muitas fases da vida. Seja na rotina matinal, nas relações, no trabalho ou no crescimento pessoal, o tempo está sempre presente, moldando nossas experiências e ensinando-nos valiosas lições.

Mas é crucial reconhecer que o tempo também tem um lado sombrio. Ele pode subverter nossa identidade e forçar mudanças que não esperávamos.

Ao reconhecer e valorizar o papel multifacetado do tempo em nossas vidas, podemos viver de maneira mais consciente e plena, apreciando cada momento e enfrentando as mudanças com resiliência. Afinal, é através desse anjo invisível que encontramos o ritmo e o significado de nossa existência, aceitando tanto suas bênçãos quanto seus desafios.

sábado, 9 de novembro de 2024

Inticando o Destino

Se “inticar o destino” é, de certo modo, “cutucar” o destino, a imagem muda. Em vez de uma busca silenciosa e introspectiva, estamos lidando com um gesto ativo, provocador – quase uma tentativa de desafiar o destino, de instigá-lo para que se revele. Inticar o destino significa, então, tirar a vida de seu curso seguro, empurrá-la para zonas desconhecidas, com a esperança de que alguma verdade maior ou caminho inesperado se desdobre a partir daí.

Esse impulso é próprio da natureza humana. Queremos respostas e, muitas vezes, não conseguimos esperar pacientemente que a vida nos revele seu sentido. Assim, experimentamos, testamos possibilidades, tomamos decisões que podem parecer impulsivas ou arriscadas. É como se, em vez de apenas escutar o que a vida nos oferece, quiséssemos ver até onde ela aguenta nossas perguntas e nossas provocações.

Nietzsche, o filósofo alemão, talvez fosse o maior “cutucador de destinos” da filosofia. Ele nos convida a romper com as verdades prontas e com os destinos impostos, a questionar incessantemente quem somos e para onde vamos, até o ponto em que a própria vida se reinventa. Para ele, o destino não é uma estrada pré-determinada, mas algo que se molda em nossa interação com o mundo, nas escolhas que fazemos e nos riscos que decidimos correr. Cutucar o destino, nesse sentido, seria o mesmo que abraçar a aventura de uma vida com coragem e intensidade.

Por outro lado, ao inticar o destino, também corremos o risco de despertar aquilo que preferíamos manter adormecido. Existe uma sabedoria antiga que nos adverte a ser cautelosos com o que pedimos – ou, neste caso, com o que provocamos. Quando instigamos o destino, estamos abrindo portas, nem sempre sabendo o que há do outro lado. Existe uma beleza nisso, mas também uma incerteza. Ao cutucar o destino, ele pode responder de formas inesperadas, colocando-nos em situações que talvez jamais tivéssemos antecipado.

E, no fim, inticar o destino talvez seja um convite a viver uma vida plena e não se deixar levar pela inércia. Ao cutucar, provocamos a nós mesmos a sair do conforto, a testar a firmeza dos nossos desejos e a descobrir quem realmente somos. O destino não responde a quem apenas espera; ele responde, sobretudo, a quem se atreve a desafiá-lo.


terça-feira, 16 de abril de 2024

Morte Anunciada

Se é para morrer, que seja de amor", já dizia Vinicius de Moraes. A morte, tão certa quanto o nascer do sol, é um daqueles temas que todos preferem evitar, mas que não deixam de pairar sobre nossas cabeças, como uma nuvem escura em um dia ensolarado. É como se fosse uma presença constante, nos lembrando da finitude da vida e da nossa própria fragilidade.

No entanto, essa "morte anunciada" não se resume apenas ao fim da vida física. Ela pode se manifestar de diversas formas ao longo da nossa jornada. Às vezes, é a morte de um relacionamento que estava fadado ao fracasso desde o início, mas que insistimos em manter vivo, mesmo sabendo que já não havia mais vida ali. Ou talvez seja a morte de um sonho, aquele que alimentamos com tanto carinho, mas que, por mais que lutemos, nunca parece ganhar vida.

Lembro-me de uma conversa com um amigo certa vez, enquanto tomávamos um café em uma tarde chuvosa. Ele citou as palavras de Albert Camus: "O único problema filosófico realmente sério é o suicídio". Para ele, essa frase ia além do ato físico de tirar a própria vida. Era sobre a aceitação da morte em todas as suas formas. Era sobre como lidamos com o fim, seja ele qual for.

E como não lembrar de Gabriel García Márquez e seu emblemático livro "Crônica de uma Morte Anunciada"? Na trama, a morte do personagem Santiago Nasar é anunciada desde o início, mas ainda assim ninguém consegue evitar o trágico desfecho. É como se estivéssemos todos destinados a seguir um roteiro pré-determinado, mesmo que tentemos lutar contra ele com todas as nossas forças.

No entanto, apesar da inevitabilidade da morte, ainda nos resta o poder de escolha. Podemos escolher como enfrentar os momentos de despedida, como lidar com as perdas e como seguir em frente após a partida de algo ou alguém que amamos. Podemos escolher viver cada dia com intensidade, sabendo que um dia será o último, e assim aproveitar ao máximo cada momento que nos é dado.

Então, que possamos encarar essa "morte anunciada" não como um fardo, mas como um lembrete precioso da efemeridade da vida. Que possamos valorizar cada instante, cada sorriso, cada abraço, como se fossem os últimos. E que, no final, possamos partir deste mundo com a certeza de que vivemos uma vida plena, repleta de amor, alegria e significado.