Vivemos em uma era onde a visibilidade se tornou uma espécie de moeda social. Ser visto é, para muitos, sinônimo de existir. As redes sociais transformaram esse desejo em um comportamento quase naturalizado: postar, esperar a reação, medir a aceitação pelo número de curtidas ou comentários. Mas o que está por trás dessa ansiedade para ser visto? É uma busca por validação, reconhecimento ou algo mais profundo?
A Necessidade de Reconhecimento
O filósofo alemão Axel Honneth, em sua teoria do
reconhecimento, sugere que o ser humano só se realiza plenamente em sua
individualidade quando é reconhecido pelos outros. Isso inclui o reconhecimento
amoroso, jurídico e social. A ansiedade para ser visto, então, pode ser
entendida como uma tentativa de garantir esse reconhecimento, mesmo que
superficial.
No entanto, Honneth também alerta para os perigos
de um reconhecimento distorcido, que se limita ao que aparece na superfície.
Quando a visibilidade se torna um fim em si mesma, o sujeito corre o risco de
se perder em uma identidade construída apenas para agradar os outros,
esquecendo-se de quem realmente é.
Ser e Aparecer
Platão já nos alertava sobre a diferença entre ser
e parecer. No mito da caverna, aqueles que veem apenas as sombras na parede
confundem as aparências com a realidade. A ansiedade de ser visto, muitas
vezes, se encaixa nesse paradigma: queremos ser vistos não como somos, mas como
imaginamos que os outros esperam que sejamos. A selfie perfeita, o ângulo
ideal, o texto comovente – tudo isso é cuidadosamente calculado para garantir
uma impressão específica.
Mas, assim como no mito de Platão, há uma
libertação possível: sair da caverna e buscar a verdade, mesmo que ela não seja
tão atraente ou "instagramável".
Ansiedade como Sintoma
A ansiedade para ser visto pode ser vista como um
sintoma de uma sociedade que valoriza mais o espetáculo do que a substância.
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, argumenta que tudo na modernidade se
tornou mercadoria, inclusive as pessoas. Ser visto não é apenas uma necessidade
emocional, mas uma forma de provar valor em um sistema que monetiza a atenção.
No entanto, a busca incessante por atenção tem um
custo: o esvaziamento da experiência genuína. Quantas vezes deixamos de
aproveitar um momento porque estávamos preocupados em registrá-lo? Quantas
conexões reais foram interrompidas por notificações de "curtidas"?
A Solução: Olhar para Dentro
Para contrabalançar essa ansiedade, talvez
precisemos voltar à introspecção. O filósofo brasileiro Mário Ferreira dos
Santos, em sua obra Filosofia Concreta, fala da importância de reconhecer a si
mesmo antes de buscar o reconhecimento dos outros. Segundo ele, o ser humano
deve encontrar sua essência no interior, naquilo que é eterno e verdadeiro, e
não naquilo que é efêmero e passageiro.
Esse processo exige coragem, porque olhar para
dentro significa confrontar as partes de nós mesmos que preferiríamos esconder.
Mas é também libertador, porque nos permite ser vistos de forma autêntica, sem
a necessidade de máscaras ou filtros.
A ansiedade para ser visto é, em última análise, um
reflexo de nossa condição humana: queremos ser aceitos, amados, reconhecidos.
Mas essa busca só terá sentido se partirmos do autoconhecimento. Ser visto não
é suficiente; é preciso ser compreendido – e isso começa por compreender a si
mesmo.
No fim, talvez a pergunta não devesse ser
"Quem está me vendo?", mas "Quem realmente me conhece?".
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