Quando ouvimos algo novo ou extraordinário, nosso primeiro reflexo é julgar: "Isso faz sentido?" O plausível, no fundo, é uma espécie de conforto intelectual. Ele se apresenta como o que parece lógico, aceitável ou encaixado nas molduras da nossa compreensão. Por outro lado, o implausível é o território do estranho, do disruptivo, o que desafia nossos mapas mentais. Mas será que o implausível é sempre o oposto da verdade?
Lembro
de uma conversa com um amigo que contava como viu alguém no mercado equilibrar
uma pilha enorme de itens no carrinho sem nada cair. Era implausível, mas real.
A narrativa nos leva a pensar: o que determina se algo é plausível ou não? São
os nossos limites, as experiências acumuladas ou algo mais profundo, quase
invisível, que guia nossas crenças?
A
Conexão com a Experiência
O
plausível está enraizado em nossa experiência. Aquilo que vemos, tocamos ou
repetimos frequentemente é aceito como real. Por isso, ouvir que uma pessoa
pode trabalhar 16 horas por dia e ainda encontrar tempo para a família soa
plausível, enquanto a ideia de alguém meditar por dias sem comer nos parece
implausível, embora existam registros históricos e culturais que provem o
contrário.
Maurice
Merleau-Ponty, filósofo francês, argumentava que a percepção é um ato de
co-criação entre nós e o mundo. O que nos parece plausível é, em grande parte,
moldado pelo corpo e pelo contexto. Nosso entendimento do mundo não é absoluto;
ele se constrói em interação com o que vivemos. Assim, o plausível não é uma
verdade fixa, mas um reflexo das nossas experiências acumuladas.
Quando
o Implausível Torna-se Real
O
implausível, apesar de desconfortável, é o motor da mudança. Pense em ideias
que foram rejeitadas no passado: a Terra redonda, os germes invisíveis que
causam doenças, ou a possibilidade de enviar mensagens instantâneas a milhares
de quilômetros. Em cada uma dessas situações, o implausível desafiou o
plausível e, eventualmente, transformou o mundo.
Nietzsche
certa vez disse que "as convicções são inimigas mais perigosas da verdade
do que as mentiras." O implausível, ao desafiar nossas convicções, pode
abrir espaço para novas verdades. Não é um acaso que as inovações
frequentemente nascem da resistência àquilo que parece óbvio.
Plausível
e Implausível no Cotidiano
Na
vida diária, os limites entre plausível e implausível são mais tênues do que
imaginamos. Acreditar em uma segunda chance, na bondade espontânea de um
estranho ou na possibilidade de mudar de carreira aos 50 anos muitas vezes
desafia a lógica do senso comum. Ainda assim, essas coisas acontecem.
É
aqui que a filosofia entra como um farol. Ela nos convida a suspender
julgamentos rápidos e explorar os porquês. Será que rotulamos algo como
implausível porque ele realmente não faz sentido, ou porque nos falta coragem
para reconsiderar nossas crenças?
O
plausível e o implausível não são opostos absolutos; eles dançam na intersecção
da nossa percepção, experiência e imaginação. O que hoje é plausível foi, um
dia, implausível. E o que parece implausível agora pode ser a verdade de
amanhã.
Talvez,
ao invés de tentar categorizar o mundo em caixas seguras, devêssemos nos
permitir abraçar o desconforto do incerto. Porque é nele, nesse território
aparentemente inóspito do implausível, que a humanidade encontra o seu próximo
passo.
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