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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Plausível e Implausível

Quando ouvimos algo novo ou extraordinário, nosso primeiro reflexo é julgar: "Isso faz sentido?" O plausível, no fundo, é uma espécie de conforto intelectual. Ele se apresenta como o que parece lógico, aceitável ou encaixado nas molduras da nossa compreensão. Por outro lado, o implausível é o território do estranho, do disruptivo, o que desafia nossos mapas mentais. Mas será que o implausível é sempre o oposto da verdade?

Lembro de uma conversa com um amigo que contava como viu alguém no mercado equilibrar uma pilha enorme de itens no carrinho sem nada cair. Era implausível, mas real. A narrativa nos leva a pensar: o que determina se algo é plausível ou não? São os nossos limites, as experiências acumuladas ou algo mais profundo, quase invisível, que guia nossas crenças?

A Conexão com a Experiência

O plausível está enraizado em nossa experiência. Aquilo que vemos, tocamos ou repetimos frequentemente é aceito como real. Por isso, ouvir que uma pessoa pode trabalhar 16 horas por dia e ainda encontrar tempo para a família soa plausível, enquanto a ideia de alguém meditar por dias sem comer nos parece implausível, embora existam registros históricos e culturais que provem o contrário.

Maurice Merleau-Ponty, filósofo francês, argumentava que a percepção é um ato de co-criação entre nós e o mundo. O que nos parece plausível é, em grande parte, moldado pelo corpo e pelo contexto. Nosso entendimento do mundo não é absoluto; ele se constrói em interação com o que vivemos. Assim, o plausível não é uma verdade fixa, mas um reflexo das nossas experiências acumuladas.

Quando o Implausível Torna-se Real

O implausível, apesar de desconfortável, é o motor da mudança. Pense em ideias que foram rejeitadas no passado: a Terra redonda, os germes invisíveis que causam doenças, ou a possibilidade de enviar mensagens instantâneas a milhares de quilômetros. Em cada uma dessas situações, o implausível desafiou o plausível e, eventualmente, transformou o mundo.

Nietzsche certa vez disse que "as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras." O implausível, ao desafiar nossas convicções, pode abrir espaço para novas verdades. Não é um acaso que as inovações frequentemente nascem da resistência àquilo que parece óbvio.

Plausível e Implausível no Cotidiano

Na vida diária, os limites entre plausível e implausível são mais tênues do que imaginamos. Acreditar em uma segunda chance, na bondade espontânea de um estranho ou na possibilidade de mudar de carreira aos 50 anos muitas vezes desafia a lógica do senso comum. Ainda assim, essas coisas acontecem.

É aqui que a filosofia entra como um farol. Ela nos convida a suspender julgamentos rápidos e explorar os porquês. Será que rotulamos algo como implausível porque ele realmente não faz sentido, ou porque nos falta coragem para reconsiderar nossas crenças?

O plausível e o implausível não são opostos absolutos; eles dançam na intersecção da nossa percepção, experiência e imaginação. O que hoje é plausível foi, um dia, implausível. E o que parece implausível agora pode ser a verdade de amanhã.

Talvez, ao invés de tentar categorizar o mundo em caixas seguras, devêssemos nos permitir abraçar o desconforto do incerto. Porque é nele, nesse território aparentemente inóspito do implausível, que a humanidade encontra o seu próximo passo.


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