Inicialmente vamos entender um
pouco a respeito do tema imortalidade
e reencarnação e em seguida vamos
conversar com Kant e ver o que ele tem a nos dizer sobre isto.
Imortalidade e reencarnação são
conceitos que têm sido discutidos em várias culturas e sistemas de crenças ao
longo da história. A imortalidade refere-se à ideia de que a alma ou o espírito
de uma pessoa pode existir eternamente após a morte física do corpo. Por outro
lado, a reencarnação é a crença de que a alma é reencarnada em outro corpo após
a morte, continuando assim seu ciclo de existência.
Essas crenças estão
frequentemente relacionadas com questões morais e éticas. A forma como as
pessoas compreendem a imortalidade e a reencarnação pode influenciar
profundamente suas ações e escolhas na vida, por esta razão é interessante
abordarmos algumas perspectivas.
Alguns sistemas de crenças
ensinam que as ações de uma pessoa em uma vida têm consequências para sua
próxima encarnação. Nesse contexto, a moralidade desempenha um papel
fundamental, pois as ações de uma pessoa podem influenciar sua vida futura e
determinar a qualidade de sua próxima existência. Isso pode levar as pessoas a
serem mais responsáveis e cuidadosas em suas ações, buscando viver de acordo
com princípios morais elevados.
Em algumas crenças, como o
hinduísmo e o budismo, a reencarnação está ligada ao conceito de karma, que é a
lei de causa e efeito. O karma refere-se às consequências das ações de uma
pessoa, que podem se refletir em futuras vidas. Nesse contexto, a moralidade é
essencial, pois a busca por boas ações e intenções é vista como uma forma de
acumular bom karma para uma vida futura mais positiva.
Algumas crenças na reencarnação
sustentam que o objetivo final é alcançar a evolução espiritual e transcender o
ciclo de nascimento e morte. Nesse sentido, a moralidade pode ser vista como
uma ferramenta para crescimento e autodescoberta, permitindo que a pessoa se
liberte de apegos terrenos e atinja níveis mais elevados de consciência.
A crença na reencarnação pode
levar as pessoas a questionarem o significado de suas vidas e a se concentrarem
em valores e propósitos mais profundos. Isso pode levar ao desenvolvimento de
uma ética pessoal baseada em compaixão, amor e compreensão em relação a si
mesmo e aos outros.
As visões e perspectivas sobre a
imortalidade, reencarnação e moral podem variar significativamente de acordo
com as crenças religiosas, filosóficas e culturais de cada indivíduo. Cada
sistema de crenças pode oferecer uma perspectiva única sobre como esses
conceitos interagem e afetam as escolhas morais de uma pessoa. Além disso, nem
todas as pessoas acreditam nesses conceitos, e as escolhas morais também podem
ser influenciadas por outras motivações, como valores sociais, ética secular e
senso de empatia.
Agora vamos buscar esclarecimentos
a respeito deste tema junto ao filosofo alemão Immanuel Kant.
Immanuel Kant (1724-1804), um dos filósofos mais
influentes da história, teve uma abordagem única e distinta em relação à
moralidade. É importante observar que Kant não acreditava em imortalidade ou
reencarnação no sentido tradicional. No entanto, ele desenvolveu uma teoria
moral conhecida como "ética deontológica" ou "ética do
dever", que é relevante para discutir a relação entre moralidade e
imortalidade/reencarnação.
Para Kant, a moralidade não é baseada nas
consequências das ações ou em qualquer forma de recompensa ou punição após a
morte. Em vez disso, ele acreditava que a moralidade deve ser baseada na razão
prática e no dever moral incondicional. Sua teoria ética, também conhecida como
"imperativo categórico", tem como fundamento a ideia de agir de
acordo com princípios universais que possam ser aplicados a todos os seres
racionais.
De acordo com o imperativo categórico, um indivíduo
deve agir de tal maneira que sua ação possa ser transformada em uma lei
universal, sem contradição. Em outras palavras, a moralidade para Kant não se
baseia em possíveis recompensas ou punições futuras, mas na obrigação de agir
de acordo com princípios racionais que respeitem a dignidade da humanidade como
um todo.
Dado que Kant não aceitava a imortalidade ou
reencarnação, suas considerações morais estão ancoradas no contexto da vida
atual. Ele acreditava que, para ser moralmente correto, os indivíduos devem
agir com base em suas responsabilidades presentes e universais,
independentemente de qualquer ideia de vida após a morte.
Portanto, para Kant, a moralidade não depende de
qualquer noção de reencarnação ou imortalidade, mas é baseada na razão e na
obrigação moral de agir de acordo com princípios universais e racionais em
nossa existência presente.
Immanuel Kant foi um filósofo alemão do século
XVIII conhecido por suas contribuições em várias áreas do conhecimento, como
filosofia, ética, epistemologia e estética. Quanto à sua religião, Kant era
luterano, o que significa que ele fazia parte da Igreja Luterana, uma das
principais denominações cristãs protestantes.
Apesar de ter sido criado em um ambiente luterano e
de manter uma identidade religiosa formalmente vinculada ao luteranismo, Kant
desenvolveu uma abordagem filosófica distinta em relação à moralidade e à
religião. Ele enfatizava a importância da razão prática e defendia uma ética secular,
centrada na obrigação moral incondicional e na universalidade dos princípios
morais.
Kant foi crítico em relação a certos aspectos da
religião institucionalizada, especialmente em relação às abordagens dogmáticas
e ao uso da religião para fins políticos e de controle social. No entanto, ele
também reconheceu a importância da religião como uma força motivadora para o
comportamento moral em algumas pessoas.
Em suas obras, como "Crítica da Razão
Pura", "Crítica da Razão Prática" e "Religião nos Limites da
Simples Razão", Kant explorou questões filosóficas relacionadas à
religião, abordando temas como a existência de Deus, a imortalidade da alma e a
relação entre fé e razão. Sua filosofia influenciou o pensamento de muitos
teólogos e filósofos religiosos, e seu legado é sentido até hoje em debates
sobre ética, religião e filosofia da religião.
Pensando bem é coerente concordarmos com Kant, para
alguém cumprir seu destino como um ser moral, precisa abandonar a crença na
morte e o medo da morte, o postulado da imortalidade é necessário para a pessoa
moralmente comprometida, porque encerrado nos limites do tempo de uma vida,
nenhum individuo consegue realizar seu dever supremo: trazer o advento do Maior
Bem, o objetivo moral de trazer o Maior Bem diz respeito ao nosso mundo, não a
outro.
Embora Kant não tenha explorado
diretamente as crenças específicas de imortalidade e reencarnação em seus
escritos, suas obras tratam de questões fundamentais de moralidade, ética e
razão prática que são relevantes para a discussão desses temas em um contexto
filosófico mais amplo.
No cotidiano, os temas da
imortalidade, reencarnação e moral geralmente se manifestam por meio das
crenças e práticas religiosas, bem como nas ações e decisões baseadas em
valores éticos e morais das pessoas.
Na
pratica e no cotidiano: “Fazer o bem sem ver a quem”
No cotidiano usamos com frequência a expressão
"fazer o bem sem ver a quem", geralmente implica que uma pessoa
realiza boas ações sem levar em consideração a identidade, posição social,
religião, raça ou qualquer outra característica pessoal daqueles que recebem o
benefício da ação. Essa ideia está em consonância com a ética kantiana,
especialmente com o conceito do imperativo categórico, que enfatiza a
universalidade e a imparcialidade das ações morais.
Na ética de Kant, o imperativo categórico é um
princípio que requer que uma ação seja realizada com base na sua aceitabilidade
como uma lei universal. Em outras palavras, para que uma ação seja moralmente
correta, ela deve ser aplicável a todos os seres racionais sem contradição.
Ao agir de acordo com o imperativo categórico, uma
pessoa considera a ação em si e seus princípios gerais, independentemente de
quem seja afetado por ela. Isso significa que a pessoa não faz exceções ou
discriminações arbitrárias na hora de fazer o bem.
A ideia de "fazer o bem sem ver a quem" é
compatível com a ética kantiana, pois se alinha com o princípio da
universalidade e imparcialidade das ações morais. Ao realizar boas ações com
base em princípios racionais e universais, a pessoa age de maneira ética e
responsável, independente das características individuais das pessoas que são
beneficiadas por suas ações.
Fonte
Kant,
Emmanuel. Crítica da Razão Pratica. Traduzido por Monique
Hulshof. Editora
Vozes; 1ª edição. Petrópolis-RJ, 2016
________Fundamentação
da Metafisica dos Costumes e Outros Escritos. Traduzido por Leopoldo Holzbach. Editora Martin
Claret – São Paulo, 2006
________Religião nos
Limites da Simples Razão. Traduzido por Artur Morão. Editora EDIÇÕES 70.
Lisboa. 1992