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domingo, 8 de junho de 2025

Pensa Porque Fala

Vamos refletir sobre consciência e invenção de si

A gente costuma pensar que primeiro se pensa, depois se fala. Como se as palavras fossem meros mensageiros de um conteúdo pronto, esperando pacientemente para ser dito. Mas, e se for o contrário? E se a fala for, ela mesma, o que nos permite pensar? Aquela conversa no banho, o desabafo com um amigo, até mesmo o murmúrio no trânsito – seriam momentos em que a linguagem constrói a consciência, e não o contrário?

Essa ideia, embora pareça surpreendente, já vinha sendo intuída por alguns pensadores e hoje é retomada por estudos contemporâneos de neurociência e linguística. Neste ensaio, vamos explorar essa inversão provocadora: o sujeito pensa porque fala. A fala não apenas expressa o pensamento – ela o inventa, o organiza, o edita. E mais: ao falar, criamos a nós mesmos.

O pensamento nu não existe

Imagine um bebê que ainda não fala. Seus gestos e emoções são vivos, intensos, mas sua capacidade de pensar sobre o que sente é limitada. É só quando ele começa a adquirir palavras que consegue distinguir o medo da fome, o desejo da dor. O filósofo Vygotsky já dizia que o pensamento e a linguagem se desenvolvem em um entrelaçamento mútuo. O pensamento é uma névoa até que a palavra o condense.

A neurociência contemporânea reforça essa visão: regiões do cérebro relacionadas à linguagem (como a área de Broca e de Wernicke) estão intimamente conectadas com redes de atenção, memória e planejamento. Falar é como esculpir o que estava apenas esboçado em sensação. Pensamos melhor quando escrevemos, quando conversamos, quando argumentamos. O silêncio pode ser fértil, mas é quase sempre a palavra que transforma intuição em ideia.

Falar como forma de se tornar

Cada vez que contamos algo de nós mesmos a alguém, organizamos a narrativa da nossa identidade. Não se trata apenas de informar. Estamos, ali, construindo sentido. “Naquela época eu era muito impulsivo” – ao dizer isso, estamos não só refletindo sobre o passado, mas nos diferenciando dele, assumindo um novo lugar no tempo. A linguagem verbaliza a mudança interior.

A filósofa Hannah Arendt dizia que a ação só se torna política quando é acompanhada da fala. O ser humano se revela ao mundo pelo que diz, mais do que pelo que pensa. Assim, o dizer é um ato de criação subjetiva. Falando, nos tornamos visíveis – e, ao nos ouvirmos falar, também nos vemos.

Linguagem como ferramenta inventiva

A estrutura da linguagem molda a estrutura do pensamento. Idiomas diferentes oferecem visões de mundo distintas. Para os esquimós, existem muitas palavras para “neve”. Para alguns povos indígenas da Amazônia, o tempo não é dividido em passado, presente e futuro. A forma como se fala determina o que se pode pensar.

No cotidiano, isso aparece quando buscamos uma palavra exata para nomear o que sentimos – e, só quando a encontramos, conseguimos agir. O mal-estar vira “ciúme”, ou “angústia”, ou “pressentimento”. Dar nome é mapear o território interno. Wittgenstein já dizia: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.”

Pensar com a boca

Existe uma sabedoria na fala espontânea. Às vezes, a gente só entende o que pensa quando começa a explicar. Isso é comum em sessões de terapia, aulas, ou mesmo numa conversa de bar. O pensamento se desdobra conforme a fala se articula. Como se a mente esperasse a boca para ter coragem de se revelar.

Numa perspectiva neurolinguística, esse processo envolve uma retroalimentação entre as zonas cerebrais responsáveis pela formulação verbal e aquelas que coordenam emoções, memória e juízo. O que dizemos influencia o que sentimos, e o que sentimos influencia o que conseguimos dizer. Um circuito vivo.

A fala é o útero do pensamento

Ao contrário do que se pensa, a fala não é filha do pensamento – é sua mãe. Sem linguagem, o pensamento se esvai em intuições fugidias. Com a linguagem, ele ganha corpo, história, direção. Pensamos porque falamos, e falamos para nos tornar.

Talvez por isso conversar seja tão essencial à saúde mental. Ou por isso, quando estamos confusos, dizemos: “preciso botar pra fora.” Ao falar, damos forma ao informe. Ao ouvir a nós mesmos, nos compreendemos melhor. A linguagem é, no fundo, um espelho falante – e talvez seja nela que finalmente nos encontramos.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Premonições e Pressentimentos

Você já teve aquele sentimento estranho de que algo estava para acontecer, mesmo sem nenhuma evidência concreta? Ou talvez tenha experimentado um vislumbre vívido do futuro, como se estivesse assistindo a um filme em sua mente? Agora, você já teve aquela sensação de déjà vu, quando jurava ter vivido algo antes mesmo de acontecer? Ou talvez tenha tido um sonho tão vívido que parecia prever o futuro? Bem-vindo ao intrigante e muitas vezes inexplicável mundo das experiências de premonição, onde o tempo se dobra e a causalidade parece mais uma sugestão do que uma regra.

Os sonhos sempre foram portadores de mistérios, mas alguns afirmam que eles vão além de meras projeções do subconsciente. Os sonhos premonitórios, como são chamados, são como pequenos vislumbres do futuro que invadem nosso sono, deixando-nos com a sensação de que algo está prestes a acontecer. Mas será que estamos realmente vislumbrando o futuro ou apenas interpretando retrospectivamente eventos que, por acaso, coincidem com nossos sonhos?

Às vezes, não é preciso estar dormindo para ter uma visão do que está por vir. Algumas pessoas relatam ter "sentido" eventos futuros, como se a intuição fosse um sexto sentido que alerta sobre o que está por vir. Seria isso apenas um caso de mente aguçada captando sutilezas no ambiente, ou há algo mais misterioso em jogo? Eu mesmo já tive meus vislumbres e premonições, procuro sempre dar atenção aos “avisos” do universo, caso os contrarie possivelmente estarei contrariando a natureza que trabalha a nosso favor.

Quem nunca teve a sensação estranha de estar revivendo um momento, mesmo que seja a primeira vez que ele ocorre? O déjà vu, com sua atmosfera de familiaridade em situações novas, é frequentemente associado a experiências premonitórias. Será que estamos realmente testemunhando eventos que já aconteceram em um sonho anterior, ou isso é apenas o cérebro brincando com as linhas do tempo?

As premonições e os pressentimentos são como primos distantes no reino das experiências psíquicas. Enquanto as premonições são como visões detalhadas do futuro, os pressentimentos são mais como palpites ou intuições vagas sobre o que está por vir. Imagine isso: uma premonição é como assistir a um trailer de um filme ainda não lançado, enquanto um pressentimento é como sentir o arrepio antes de uma tempestade, sem saber exatamente quando ou onde ela irá ocorrer.

Céticos argumentam que as experiências de premonição muitas vezes podem ser reduzidas a coincidências, a interpretação retroativa de eventos ou até mesmo um viés de confirmação. Será que estamos simplesmente atribuindo significados a eventos aleatórios para satisfazer nossa necessidade de encontrar padrões e ordem no caos?

Agora, vamos trazer isso para o nosso cotidiano. Imagine-se dirigindo para o trabalho em uma manhã ensolarada, quando de repente um pensamento intrusivo surge em sua mente: "Devo mudar minha rota usual hoje?" Você ignora, mas aquele sentimento persiste, quase como um aviso sutil. Mais tarde, você descobre que houve um acidente grave na sua rota usual, e você se vê agradecendo por ter seguido sua intuição.

Ou talvez você tenha tido um sonho estranho sobre encontrar um amigo de infância que não vê há anos. Você acorda com uma sensação peculiar, e no mesmo dia, recebe uma ligação dessa pessoa, que deseja marcar um encontro. Coincidência? Ou uma premonição leve, mostrando uma conexão entre mentes que transcende a lógica comum?

Quando se trata de explorar os mistérios das premonições e pressentimentos, os pensadores e filósofos têm muito a dizer. Um dos mais notáveis é Carl Jung, o renomado psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica. Jung estava fascinado pela ideia do inconsciente coletivo - a ideia de que todos nós compartilhamos uma camada profunda de consciência que se estende além do individual. Para Jung, as premonições e pressentimentos eram exemplos intrigantes dessa conexão oculta entre as mentes humanas.

Independentemente de sermos crentes fervorosos ou céticos convictos, o fascínio em torno das experiências de premonição persiste. Elas nos levam a questionar a natureza do tempo, o papel do inconsciente e a possibilidade de eventos futuros já estarem, de alguma forma, registrados em nossa mente. Então, da próxima vez que um pressentimento sutil ou um sonho intrigante tomar conta, talvez possamos abraçar o mistério em vez de buscar explicações definitivas. Afinal, em um mundo onde o tempo é relativo e a causalidade é uma dançarina caprichosa, quem pode dizer o que o amanhã nos reserva?

Sigmund Freud, aquele cara da psicanálise que adorava explorar os cantos escuros da mente humana, não tinha exatamente um capítulo dedicado a premonições ou pressentimentos, mas suas ideias jogam uma luzinha nesse assunto. Ele falava muito sobre o inconsciente, aquela parte da mente onde nossos pensamentos e desejos escondidos se escondem, então, quem sabe, esses sentimentos de premonição vêm de lá, tipo um alerta que a mente manda sem a gente perceber. E os sonhos? Ah, pra Freud, eles eram como um grande telão onde nossos desejos secretos e medos se projetam, então talvez algumas premonições dêem o ar da graça durante uma noite agitada. E tem ainda os mecanismos de defesa, aquelas estratégias que a mente usa para se proteger de coisas que não quer encarar. Quem sabe os pressentimentos não são uma dessas defesas, uma maneira meio torta do ego se preparar para o que está por vir, mesmo que a gente não saiba direito o que é? É, Freud pode não ter falado diretamente sobre isso, mas suas ideias jogam um pouco de luz nesse misterioso assunto dos pressentimentos e premonições.

Enquanto continuamos a desbravar os mistérios do universo, as premonições e pressentimentos permanecem como lembranças constantes de que nosso conhecimento do mundo está longe de ser completo. À medida que navegamos pelas águas desconhecidas do futuro, pode ser útil honrar esses lampejos de insight, mantendo uma mente aberta para as possibilidades que se desenrolam diante de nós.

Então, quando você sentir aquele arrepio na espinha ou tiver um vislumbre do que está por vir, saiba que você está se conectando a algo maior do que a simples realidade cotidiana - está tocando nas correntes profundas do universo, onde o passado, o presente e o futuro se entrelaçam em uma dança eterna de mistério e maravilha.