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quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Dia de Santo Agostinho - Filósofo e Teólogo - padroeiro dos teólogos dos impressores e até dos cervejeiros

 

“É preciso compreender para crer, e crer para compreender.”

Começamos bem! Começamos com um pensamento de Agostinho que dá a liga entre a filosofia e a teologia, ele foi um dos filósofos da época medieval que desejava unir dois conceitos distintos: fé e razão. Dessa forma, para ele, só haveria entendimento sobre o mundo se fosse possível crer em um ser divino que o criou, que deu ao ser humano o poder de ser racional e desenvolver ideias.

A densidade da obra de Santo Agostinho é imensa indo além do preconceito de que trata apenas de assuntos religiosos, sua obra é tida como patrimônio universal. Dada a sua importância, mesmo aqueles que não professam a fé cristã, o têm em grande estima, tanto por seu valor filosófico como por seu valor literário.

Desde o momento que o professor José Luiz Novaes (IPA/2006) me apresentou a filosofia de Santo Agostinho me interessei pelas obras e inicialmente li “Confissões”, a partir daí me senti agostiniano, não deixo de ler algum trecho de suas obras, sinto que lá tem encaixe para muito do que vivemos. 

Agostinho fala muito ao homem atual, sua linguagem, seu modo de ser e de se colocar, torna sua filosofia muito atual. Ele fala ao coração das pessoas, a carência de afeto e a necessidade de segurança que a sociedade de hoje sente falta.

As Confissões e A Cidade de Deus (principais obras) são tidas como obras-modelo por biógrafos, teólogos, historiadores, filósofos e autores diversos.

 

Santo Agostinho narra sua história de conversão no livro Confissões. Enquanto estava sentado embaixo de uma árvore, ele ouviu uma voz que dizia: “Toma e lê”. Foi então que Santo Agostinho, ao ler Romanos 13.13-14, converteu-se definitivamente ao cristianismo.

Padroeiro dos cervejeiros
 

Santo Agostinho nasceu provavelmente em 13 de novembro de 354 (354-430), em Tagaste, na Numídia, atual Souk Ahrais, na Argélia. Filho de Patrício e de Santa Mônica, Santo Agostinho tinha dois irmãos, Navílio e Perpétua.

A corrente filosófica que Agostinho seguiu e defendeu com dedicação é a Patrística, suas principais obras são Confissões; Cidade de Deus; Sobre a Doutrina Cristã; Sobre a Trindade.

A “Patrística” é a denominação para a filosofia cristã formulada pelos padres da Igreja nos primeiros cinco séculos de nossa era, buscando combater a descrença e o paganismo por meio de uma apologética da nova religião, calcando-se freq. em argumentos e conceitos procedentes da filosofia grega.

Ler “Confissões” é prazeroso, a leitura flui com leveza, mas com seriedade, pincei duas amostras para degustação, são trechos de dois capítulos, um trata da memória e outro sobre o tempo.

Capitulo 8 – Palácios da Memória

“Quando lá entro mando comparecer diante de mim todas as imagens que quero. Umas apresentam-se imediatamente, outras fazem-me esperar por mais tempo, até serem extraídas, por assim dizer, de certos receptáculos ainda mais recônditos. Outras irrompem aos turbilhões e, enquanto se pede e se procura uma outra, saltam para o meio, como que a dizerem: "Não seremos nós?" Eu, então, com a mão do espírito, afasto-as do rosto da memória, até que se desanuvie o que quero e do seu esconderijo a imagem apareça à vista.”

Capitulo 14 – O que é o tempo?

“O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.”

Biografia

Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta (hoje Suk Ahras), na Argélia. Estudou retórica em Cartago e seguiu várias linhas filosóficas, como de início o maniqueísmo, corrente baseada no conflito entre o bem e o mal, e o ceticismo. Ao ler a vida de António do Deserto, de Atanásio de Alexandria, Agostinho decide se converter ao cristianismo católico e abandonar toda sua antiga vida de conforto e hedonismo para servir a Deus. A conversão de Agostinho ocorreu também sob a influência do bispo de Milão, Santo Ambrósio, sendo batizado em 387. Foi nomeado bispo de Hipona (atual Annaba), na Argélia, onde morreu aos 75 anos.

É considerado o maior teólogo do cristianismo e o maior filósofo desde Aristóteles. Agostinho realizou a primeira grande sistematização do pensamento cristão, incorporando as ideias de Platão ao cristianismo. Seu sofisticado pensamento serviu como base para toda a teologia cristã ocidental.

A filosofia de Santo Agostinho é essencialmente uma fusão das concepções cristãs com o pensamento platônico. Subordinando a razão à fé, Agostinho de Hipona afirma existirem verdades superiores e inferiores, sendo as primeiras compreendidas a partir da ação de Deus.



 

Livro: Cidade de Deus

“A civitas Dei [Cidade de Deus] ficou tão intimamente ligada à situação [histórica] que a filosofia da história e da política quase se converte numa crítica sociológica da civilização romano-cristã, com o sentimento fatalista ultrapassando a vontade de ordem espiritual. Mas o que quer que a civitas Dei tenha sofrido como sistema de política cristã, não se pode esperar que o homem das Confissões, fascinado com o crescimento histórico da sua própria vida, se liberte da estrutura íntima da sua personalidade e não se deixe impressionar profundamente pelos determinantes da situação política à medida que estas cresceram historicamente.”

A Cidade de Deus de Agostinho é uma reflexão filosófica, teológica e política, dali podemos aprender como uma sociedade como a romana se tornou fraca e tenha caído nas mãos dos bárbaros, Agostinho traz a luz as causas da queda de Roma, ele afirma que foi causada pela corrupção dos costumes, a sociedade ficou frágil deixando-se levar pelas paixões humanas, seguiu mais as paixões do que propriamente a razão e inteligência. Tenho a impressão de que nossa sociedade segue os mesmos passos de Roma quando foi saqueada em 546 caindo nas mãos dos Godos.

Pensamentos de Santo Agostinho

Agostinho parte da noção de um Deus que habita nossa alma: “Deus é mais íntimo a nós do que nós em nós mesmos”. Nesse sentido, o exercício da fé, para esse filósofo, se processa de maneira bastante pessoal, como se percebe pela leitura de suas Confissões, na qual ele diz que Deus estava “dentro de mim, e eu lá fora a procurar-te”.

A teoria da iluminação é a teoria agostiniana, a qual afirma ser a ação de Deus que leva o homem a atingir as verdades superiores, Agostinho, de maneira alguma desvaloriza a razão; mas, para ele, a Verdade plena só é encontrada se o pensamento humano estiver iluminado por essa fé que, como vimos, habita no interior de nossa alma.

Em sua máxima, “Conhece-Te, Aceita-Te e Supera-Te!”, Agostinho, apresenta-nos um caminho, um caminho que poderá ser trilhado por nós seres humanos joias raras. 

Quando queremos ter conhecimento é necessário inicialmente analisar – é o conhece-te, apontando os pontos fracos e pontos fortes; aceita-te é estar ciente da realidade atual; supera-te é a iniciativa em ser proativo superando os pontos fracos e as ameaças, trabalhando as oportunidades.

A máxima é um convite ao autoconhecimento ao alcance de cada um de nós. Através do autoconhecimento poderá ser obtido de forma natural através da experiência de vida e dos bons hábitos, principalmente o de se auto indagar, serão como ferramentas que irão proporcionar a iluminação para uma vida melhor sendo está uma das razões de estarmos neste mundo.

Há pessoas que não conseguem se olhar no espelho, isto é ocasionado por algo interno que não vai bem, a baixa autoestima se expressa nas atitudes, sentimentos e pensamentos, o tempo todo a ficar remoendo a insegurança e o vazio, muitos não conseguem ficar sozinhos sem sentir angustia.

Agostinho entendia bem das paixões e enganos do ser humano, ele sabia que no fundo da alma habita o medo da tristeza e do fracasso, inevitáveis quando se é mortal. Atualmente a sociedade vive uma exposição exagerada nas redes sociais, a internet e a redes sociais que vieram para facilitar nossas vidas, estão sendo usados desenfreadamente criando problemas como a dependência da constante aprovação da curtida. 

“Se gostou dá um like”, este termo contemporâneo viralizou, surgiu com a sacada de alguém atento ao interesse da sociedade em se tornar cada vez mais visível, agora é um negócio lucrativo, onde sempre tem alguém querendo mostrar alguma coisa, seja de sua produção ou até do compartilhamento, fake News ou não. Isto reflete a forma exagerada e perigosa que a sociedade está se envolvendo, a internet é vista como a maior praça pública do mundo, este é um mundo real refletido no mundo virtual, mas é real, assim se não curtiram sua publicação não tem porque sentir o vazio ou pensar que o estão criticando por que deixaram de curtir.

A exposição exagerada geralmente está associada a um sentimento da necessidade de admiração e aprovação, aguardamos a aprovação do outro até por conta da aparência estética, vivemos na era do silicone, botox, peeling, nada contra, desde que isto não sirva para preencher espaços que só cabem energias imateriais pertinentes ao processo de aperfeiçoamento do ser humano, vai chegar o momento que nenhum destes paliativos irão dar conta do processo de envelhecimento.

A vaidade e orgulho são parte de nossas emoções humanas, são necessários no processo de bem-estar, no entanto, o exagero contamina nossa alma, o exagero alimenta o demônio narcisista que está em vigília habitando dentro de cada um.

Traçando um paralelo com os tempos atuais, podemos dizer que vivemos numa era marcada pela vaidade, defensiva e por pouca humildade. As pessoas ignoram as críticas e rebatem até mesmo suas piores posições, em uma tentativa desesperada de manter seu orgulho. Santo Agostinho, conhecido em sua época como uma das grandes mentes pensantes, nos dá um exemplo de humildade quando reconhece que suas palavras foram, às vezes, imprecisas, destemperadas ou imprudentes. Alguns anos antes de sua morte, ele fez algumas correções de seus comentários sobre as Escrituras, publicou “Retratações” que é uma coleção de reflexões sobre suas obras, observando que passou a compreender melhor a Bíblia em sua velhice.

Se quiser se libertar destas amarras, converse com Agostinho, ele já dizia que: se você quiser ser livre, ame. E é amando que seremos amados por aquilo que somos, é deixando de ser egoísta que afastaremos a solidão.

Esta máxima é um convite ao trabalho com início imediato e sua iluminação levara uma vida inteira, trata-se de uma proposta de trabalhar em cima de nossas qualidades e defeitos, com desejo de superação e crescimento. Cientes que somos falhos como humanos, nossa motivação é o desejo de superação, ao buscar o melhor de nós, poderemos nos tornar a cada dia um pouquinho mais raras joias humanas.

"Minha memória contém meus sentimentos. Não da mesma forma que estão presentes na mente quando os experimenta, mas de uma maneira bastante diferente. Isso está de acordo com os poderes especiais da memória. Pois, mesmo quando estou infeliz, lembro dos tempos quando fiquei alegre. E quando eu sou alegre, posso lembrar a infelicidade passada. Posso lembrar os medos passados, e ainda assim não tenho medo e quando lembro que, uma vez que queria algo, posso fazê-lo sem querer obtê-lo agora.
Às vezes, a memória pode induzir a sensação oposta. Pois posso me alegrar ao lembrar a tristeza que acabou e foi processada. E lamento lembrar a felicidade que chegou ao fim.", este pensamento é tão atual que foi citado no final da primeira temporada da série "Marte" da Netflix!

“Não há dúvida de que a memória é como o ventre da alma. A alegria, porém, e a tristeza são o seu alimento, doce ou amargo.”

“O orgulho é a fonte de todas as fraquezas, porque é a fonte de todos os vícios.”

“A medida do amor é amar sem medida.”

“Ninguém faz bem o que faz contra a vontade, mesmo que seja bom o que faz.”

Sugestão de cinebiografia de Agostinho de Hipona é o filme (DVD) do diretor italiano Roberto Rosselini (Roma, Cidade Aberta), com áudio original em italiano e opção de dublagem em português, tem duração de 115 min., colorido produzido em 1972, comercializado pela Paulinas.

Fontes:

Agostinho, Santo. Confissões / De Magistro; tradução de J. Oliveira Santos, S.J., e Ambrósio de Pina, S.J. - Angelo Ricci; São Paulo: Abril S.A, 1973 - Coleção Pensadores

Agostinho, Santo. A Cidade de Deus (Contra os pagãos). Petrópolis/São Paulo:Vozes/Federação Agostiniana Brasileira, 2001.

Agostinho, Santo, Bispo de Hipona, 354-430 Retratações / Santo Agostinho; tradução e notas de Agustinho Belmonte. – São Paulo: Paulus, 2019. Coleção Patrística.

https://www.erealizacoes.com.br/blog/santo-agostinho/

https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/santo-agostinho/

https://www.umineiro.com/post/171305998632/minha-mem%C3%B3ria-cont%C3%A9m-meus-sentimentos-n%C3%A3o-da

https://pjnazaresbc.webnode.com.br/products/conhece-te-aceita-te-e-supera-te-disse-santo-agostinho/

http://www.paroquiasantoafonso.org.br/a-licao-de-santo-agostinho-para-a-era-da-internet/

https://escoladepais.org.br/publicacao/limites-e-cuidados-no-uso-das-redes-sociais-os-perigos-da-exposicao-publica/

 

 

 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Bartleby, o escrevente: uma história de Wall Street

 


Um livro instigante, intrigante e provocador que levará o leitor a fazer uma infinidade de interpretações e perguntas, será o leitor que conforme sua interpretação encontrará sua resposta, isto é, se houver resposta, geralmente as boas perguntas não tem respostas, por esta razão a mãe filosofia é fascinante, ela nos abre uma infinidade de ideias com inúmeras perspectivas e possibilidades, vai do relativo ao absoluto.

O significado e a resposta de cada um nos remetem a noção de relativismo, o sofista Protágoras em sua sabedoria disse que "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.", onde cada indivíduo compreende uma coisa de sua forma específica. A frase se fundamenta na teoria do filósofo pré-socrático Heráclito, que fez a descrição do fluir contínuo da realidade, afirmando que o conhecimento pode ser modificado em razão das circunstâncias variáveis da compreensão, o mundo se realiza na contradição, o homem se realiza na contradição, o homem ora ama e odeia simultaneamente!

A mitologia egípcia é genial, em sua linguagem não existe uma palavra para amor e outra para ódio, para eles a palavra é uma só, é “amoródio”, o uso da palavra dependerá do sentimento vivido a cada instante e a aplicação do termo. No Tarô egípcio escolheria o Arcano 16 que representa a “fragilidade”, em sua leitura o valor do temporal se exalta em função do eterno; o perecível tem vital importância no vir-a-ser das coisas. Reciprocidade no amor e no ódio, na indiferença e no cuidado, na traição e a lealdade. Quer definição mais humana? Na leitura proporcionada de Bartleby ele nos fará transitar numa mescla de sentimentos, para nós ocidentais entre o amor e o ódio existem muitos outros sentimentos!

 Arcano 16 “A Fragilidade” – Tarô Egípcio

Essa “estória provinda da Wall Street” descreve um universo de trabalho desumano, cujos habitantes, todos eles, são degradados a animal laborans, quantos de nós não vivemos em situações semelhantes, nos submetemos para um bem maior que é o pão de cada dia? Ruminamos em nossas mentes perecíveis, um misto de lealdade, indiferença, amor da promoção e ódio na traição da demissão.

A novela apresenta-se detalhadamente numa atmosfera sombria, hostil do escritório espessamente rodeado de arranha-céus. A menos de três metros ergue-se “alto o muro de tijolos, que se tornou preto por causa da idade e por estar sempre à sombra”. Ao ambiente de trabalho, que parece uma caixa de água, falta todo e qualquer traço de “vida” (deficiente in what landscape painters call “life”). Ali, toda vida foi apagada. Também Bartleby instala-se nos tombs e morre em total isolamento e solidão.

 

Ele representa ainda um sujeito de obediência. Ele ainda não desenvolve sintomas daquela depressão que é uma marca característica da sociedade do desempenho pós-moderna.

 

Bartleby, ao adotar a negação como filosofia, ele impossibilita o rompimento da redoma que o cerca, através desta atitude podemos correlacionar aos muros e barreiras que nós “humanos” criamos, muros da vergonha, analfabetismos, restrições a populações, tudo muito angustiante criado pela barreira do aço intransponível. As populações resignadas desistem de lutar por mudanças, indivíduos que disciplinadamente vivem na alienação da negação, poderíamos dizer que populações inteiras sofrem “sem saber que sofrem” da Síndrome de Bartleby! A negação de Bartleby é profunda ao ponto de descobrirem que Bartleby morreu - ele "preferiria não" comer e morreu de fome.

 

 

“Bartleby, o escrivão” foi publicado anonimamente numa revista americana em 1853 e, desde então, tem gerado entre seus leitores uma infinidade de interpretações. Considerado pelos críticos como a precursora da literatura do absurdo (seguimento da literatura/filosofia que teve em Kafka e Camus seus principais representantes), esta novela é detentora de uma notável riqueza metafórica.

A figura enigmática de Bartleby estende-se para além do romance, capaz de causar-nos, assim como para o narrador, forte incômodo diante de um personagem tão intrigante e insondável. Seu final intenso e impactante torna a obra de Melville um excelente romance psicológico que tirará o leitor de sua zona de conforto. Uma história de rápida leitura, porém, capaz de intrigar o leitor por dias, ou melhor, para sempre!

Bartleby desenvolve sintomas característicos da neurastenia. Vista dessa forma, a sua fórmula “I would prefer not to” não expressa nem a potência negativa do nãopara nem o instinto inibitório que seria essencial para o “caráter espiritual” (Geistigkeit). Representa, ao contrário, a falta de iniciativa e a apatia pela qual Bartleby acaba inclusive sucumbindo.

 

Bartleby nos surpreende com a resposta “I would prefer not to” , “Preferia não fazê-lo”.

Certo dia, quando o narrador pede a Bartleby para revisar um documento, o jovem simplesmente responde: "Eu preferiria não fazer". É a primeira das inúmeras recusas seguintes de Bartleby. Para a consternação do narrador e irritação dos outros escrivães, Bartleby executa cada vez menos suas tarefas no escritório. O narrador tenta por diversas vezes entender Bartleby e aprender sobre ele, mas o jovem repete sempre a mesma frase quando é requisitado a fazer suas tarefas ou dar informações a seu respeito: "Eu preferiria não fazer". 

Há uma atenuante onde Bartleby poderia se negar a fazer outros serviços, Bartleby tinha uma mesa no escritório; que copiava à taxa usual de quatro centavos a lauda (cem palavras); mas que estava para sempre dispensado de conferir o próprio trabalho, tarefa que caberia a Turkey e Nippers, em tributo, sem dúvida, à acuidade superior dos dois; ademais, Bartleby não devia, sob hipótese alguma, executar tarefas próprias de um simples garoto de recados.

Em um fim de semana, quando o narrador passa pelo escritório, ele descobre que Bartleby está morando no lugar. A vida de solidão de Bartleby toca o narrador: à noite e aos domingos, Wall Street é tão desoladora quanto uma cidade fantasma. Ele fica ora com pena, ora com raiva do comportamento bizarro de Bartleby.

Enquanto isso, Bartleby continua a negar os trabalhos que têm para fazer, respondendo sempre com um "Eu preferiria não fazer". Isso continua até chegar ao ponto em que Bartleby não faz absolutamente nada. Mas mesmo assim o narrador não despede o jovem Bartleby. O relutante escrivão tem um estranho domínio sobre seu patrão, e o narrador sente que não pode fazer nada para prejudicar seu desesperado empregado. A urgência aumenta quando os sócios do narrador se perguntam sobre a presença de Bartleby no escritório, reparando que o jovem não faz nada.

Algum tempo depois, o narrador ouve um rumor que desfaz o discernimento da vida de Bartleby. O jovem trabalhava no Dead Letter Office, mas perdeu seu emprego. O narrador percebe que as cartas mortas teriam feito qualquer um com o temperamento de Bartleby se afundar em grande melancolia. As cartas são emblemas de nossa mortalidade e a falha de nossas boas intenções. Através de Bartleby o narrador olhou o mundo como os miseráveis escrivães o veem.

As últimas palavras da história são do narrador: "Oh Bartleby! Oh Humanidade!".

Fontes:

Melville, Herman, 1819-1891. Bartleby, o escrevente: uma história de Wall Street / Herman Melville ; tradução e notas Tomaz Tadeu ; ilustrações Javier Zabala. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.

Han, Byung-Chul. Sociedade do cansaço / Byung-Chul Han ; tradução de Enio Paulo Giachini. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2015.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bartleby,_o_Escriv%C3%A3o