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terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Caminhos para o novo ano


A cada virada de ano sentimos que estamos diante de uma nova jornada, sabemos que os novos caminhos dependem de nossos passos, cada passo é importante, que passo se transforme em passada com olhar de curiosidade de uma criança, deste modo tudo será novidade, quantas vezes ouvimos dizerem que a beleza da caminhada está presente no valor que damos a vida e ao viver, de sentir prazer de estar aqui neste mundão, do coração batendo, pulmões respirando, a mente pulsante pelas vibrações da mãe vida, esta percepção são palavras de profundo conhecimento vivido, de tempo presente bem aproveitado.

Dê valor ao seu tempo, valorize cada dia, pense que qualquer tempo que já passou pertence apenas ao que fomos, o presente é um presente do ser e do virá a ser.

Aproveitemos todas as horas, não deixe tudo para o futuro, o futuro é um tempo incerto, O tempo passa...e como passa, a vida se vai, todas as coisas são alheias, o cotidiano é muito exigente, nada é indispensável, só o tempo é nosso, o nosso tempo. Sempre que penso neste tema me lembro de Sêneca, quem não lembra?, afinal este grande filósofo é uma das portas de entrada para pensar o bem viver a boa vida.

Se acredita em simpatias, faça, cada simpatia um foco e um lance de luz no presente, faça de corpo e alma, sopre canela, pule ondinhas, tome banho de ervas, faça o presente ter significado, só não fique adiando, crendice para alguns, crença para outros, não queira saber demais da vida dos outros, saiba mais de sua própria vida, tome as rédeas da própria vida, isto é, se quiser ser verdadeiramente livre, a vida é longa se for plenamente vivida.

Não podemos confundir saber mais com saber demais, saber demais leva a curiosidade sobre a vida alheia e sobre coisas inúteis, isto é fetiche das redes sociais, nas redes sociais se encontra pouca verdade, lá se encontra o desejo do parecer.

Um bom modo de saber mais é debruçar-se sobre estudos de assuntos que são mais preciosos, para mim a filosofia e seus temas exercem um fascínio reiteradamente fomentados pelos pontos, contrapontos, teses, antíteses e sínteses que muitas vezes nos dão um nó no pensamento.

A medida que os estudos avançam, vão aguçando nosso olhar e nossos ouvidos, assuntos que antes passavam sem qualquer reflexão como palavras ao vento, como pandorga sem rabo, agora são retidos e analisados, muitas vezes ficamos contrariados com a indiferença e descaso das palavras soltas, o tempo perdido do proferir das palavras sem o sentido adequado ferem os ouvidos, tornamo-nos chatos e até inconvenientes, porque as vezes nos damos ao direito de tentar corrigir, afinal de que serviria a palavra se ela não tiver sentido, Wittigenstein já nos alertava sobre isto, o que se pode dizer pode ser dito claramente; e aquilo de que não se pode falar tem de ficar no silêncio.

Nossos passos, tornam-se passadas, o presente torna-se passado, certas coisas só se mostram para quem está no presente, nossa arena é o cotidiano, nele percebemos apenas parte do todo que vivemos, a maioria das pessoas não deliberam antes das ações, vivem no automático, as palavras ditas são também como passos nos conduzindo ao futuro de consequências, as palavras certas e com sentido terão um resultado próximo ao esperado, as palavras soltas sem domínio, serão como pandorga sem rabo, sem direção, sem domínio e as consequências geralmente inesperadas.

O tempo em nossas vidas é elemento crucial, nele foram escritas experiências e hábitos as quais carregamos e herdamos geneticamente de nossos antepassados, nossas famílias são como constelações, deles trazemos as maneiras de vermos a vida, de sentirmos o presente, replicamos quase que automaticamente hábitos indesejados.

Nosso olhar procura e encontra semelhanças que nos encorajam a replicar situações desconfortáveis, neste caso viver o presente talvez precise da análise do passado ancestral para poder nos libertar de hábitos indesejados, as palavras bem ditas e mal ditas fazem parte desta construção, nossos filhos e netos também dependerão em parte da herança genética que estaremos deixando, então alguns ciclos de maus hábitos deverão ser quebrados, quem sabe aprimorando os estudos não estejamos construindo novas formas de pensamento?

Já pensou que ninguém sai desta vida como entrou? Nós seres humanos vamos despertando da ignorância a medida que o conhecimento vai nos envolvendo, chegamos num ponto que devemos fazer escolhas entre deixar a vida me levar ou decidir em tomar as rédeas dela, o conhecimento que nos ilumina é como nossos pais que nos conduzem pela vida quando ainda somos jovens, com eles tivemos os primeiros ensinamentos de como funciona a linguagem, este jogo de palavras, a comunicação oral ligada a comunicação corporal são nossos primeiros contatos com o conhecimento, assim vamos aprendendo como funciona o código das palavras e gestos. Bem ou mal vamos aprendendo a falar e a nos comunicar e é a partir do conhecimento familiar que é replicado ano após ano, de geração para geração, isto até chegar o momento em que procuramos decodificar o verdadeiro conceito das palavras e seus sentidos, para isto escolhemos nossas profissões e interesses de estudos, obviamente a caminhada que iniciamos com o primeiro passo nos transformou e determinou que não sairemos desta vida como entramos.

Nosso tempo muitas vezes é desprezado, o desprezo se dá pela falsa ideia que a morte é algo muito distante, quase inatingível, optamos muitas vezes pelo desperdício de tempo ampliado  e vivido por nossa inconstância e falta de foco, isto retarda nosso crescimento nesta breve vida, cada excitação nos obriga a recomeçar constantemente, sem darmo-nos conta vamos vivendo a vida em pedacinhos e módulos, viver uma breve vida fracionada é viver uma vida sem reflexão, filosofar nesta hora é importante pelas revelações do que realmente importa ser vivido, nossa emancipação das supostas necessidades criadas pela modernidade meritocracia é uma escolha pelo domínio sobre nós mesmos e sem pensamentos vagos e agitados que fomentam a inconstância. 

A natureza já se encarregou sabiamente de proporcionar aos seres humanos seu desenvolvimento psicodinâmico em ciclos, ciclos da vida humana identificados por Erikson e Eizirik como estágios, que vão desde a infância (criança), latência, puberdade, adolescência, adultos jovens, meia-idade, velhice e a morte, neste universo existem uma imensa complexidade de crises psicossociais, cada fase carrega sua própria consciência e desejos conforme a maturidade, o olhar muda conforme a fase, as ideias a respeito das coisas e do tempo também, certamente na velhice não temos mais os desejos de criança e vice-versa, a ideia de tempo na velhice é diferente da ideia de tempo vivido na juventude, na velhice cada dia é vivido como a vida toda, sem que deixemo-nos apegar a ele como se fosse o último, mas o contemplamos como se pudesse também ser o último.

O tempo é importante, nele nos aquietamos e nos entregamos aos nossos pensamentos e meditamos sobre alguma coisa útil, ensinar aos jovens a aquietar a mente, contemplar, meditar, é importante no seu desenvolvimento, a dispersão é um mal verificado nos jovens, muitos são diagnosticados com algum tipo de TDAH, levados a tomar medicamentos na tentativa de lhes proporcionar atenção e foco, filosofar sobre coisas do cotidiano pode ser uma boa formula para os jovens focarem nas situações que vivem, muitas emoções e sentimentos são responsáveis por seu comportamento responsável consigo mesmo e a sociedade, faz toda diferença no presente e em suas fases da vida, suas passadas nesta caminhada poderá ser mais saudavel.

 

Uma boa escolha nestas passadas é o estudo de Filosofia, penso que todos deveriam dar uma passada neste mundo de reflexão, nela podemos encontrar todo o tipo de discussão e orientações daqueles que já estiveram aqui antes de nós, os autores são como parentes que deixaram por escrito formulas e experiências muito profundas. Ler é sempre um bom hábito, nele o tempo presente é bem aproveitado.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

  O Coração do Homem Moderno

Sempre gostei das coisas que só acontecem dentro de mim, como por exemplo tecer fatos na minha imaginação, vivendo seus detalhes por um tempo e dando-lhes fim quando eu quiser, esta é uma forma que se tem para nos resguardarmos dos acontecimentos do exterior, assim é com a maioria das pessoas, penso eu, no entanto esta formula está mudando, a satisfação dos desejos mundanos do homem moderno não está mais em seu coração, ele procura sua satisfação no ambiente externo, lá no lado de fora garantias de uma constante satisfação e felicidades, seja na sua lógica de trabalho, produtividade e consumo, infelizmente estamos aderindo a ideia de satisfação pelo consumo e seu fim descartável, com menor culpa se possível biodegradável, se possível reutilizável, reciclável, no entanto quando as coisas do coração acontecem percebe que a fragilidade de suas decisões o deixaram inapto a entender a lógica da vivencia das emoções e sentimentos, enfim, despreparado para enfrentar quaisquer decisões humanas, pois elas têm um componente emocional e lógico, maturidade nas emoções e sentimentos nas decisões não estão à disposição em prateleiras, muito menos ao alcance do cartão do banco, quando muito o cartão do banco será usado para pagar sessões de terapias e analises.

O grande desafio do homem moderno está em saber dominar o fluxo de emoções, não é fácil, estamos diante de tantos itens com apelos persuasivos, tudo desenvolvido e pensado para nos envolver, iludir e convencer a consumir, porem quando conseguimos evitar este mar de tentações é porque assumimos estamos num estágio de maior amadurecimento, o ano novo esta ai, quem sabe fazemos diferente e façamos a diferença, sabemos que a responsabilidade de ter olhos e coração no presente é um bom sinal, ainda mais quando percebemos que os outros perderam a visão e o comando do coração, como disse não é fácil chegar a este estágio, Hume já havia nos alertado, sua frase resume como os seres humanos pensam e agem: “a razão é escrava das emoções”.

 

O homem moderno vive numa sociedade que procura oferecer todo o tipo de vantagem e conforto, claro que tudo tem um preço, ai entra o cartão do banco, quanto mais gordo for o saldo do cartão maiores serão as mordomias, o homem flutua entre classes sociais de acordo com o tamanho do número positivo deste saldo, porem trabalhador é trabalhador, trabalhador é a classe social que trabalha para pagar o aluguel, a prestação da casa e do carro, saber exatamente a que classe social pertencemos faz toda a diferença entre o deslocado que pensa ser superior por estar com algum cargo um pouquinho melhor na escala de hierarquia, porem a ilusão desvanece quando come feijão e quer arrotar caviar, veio a decepção, ilusões são produzidas para envolver os seres humanos, é importante saber a diferença entre o real e a ilusão, praticamente não há diferença, vivenciar internamente coisas ilusórias como reais já tornam a ilusão realidade, não demorará muito para passarmos mais tempo enfiados no mundo virtual, vivenciando personagens que no mundo real seria praticamente impossível.

O despertar deste sonho ilusório que a sociedade está se encaminhando ficará muito mais difícil, sair da caverna de Platão será um desafio maior, porque estamos vivendo dentro de uma caverna dentro de outras cavernas, para se chegar a luz do sol, será preciso sair de várias cavernas que estão uma dentro da outra. A humanidade precisará de um guia muito mais convincente, afinal ninguém quer despertar de um sonho que lhe proporciona uma suposta felicidade, dar ouvidos ao guia é um desafio, quem dá ouvidos ao desconhecido? quem os levara para além do cálculo das ciências, o desconhecido que já vislumbrou a verdade da luz do sol já desenvolveu uma linguagem própria, com palavras em sua natureza mental mais pura em idioma próprio, idioma estranho para os cegos sem criatividade e frio nas emoções, quando os olhos já são inúteis porque a mente é cega para o entendimento, cegos vendo, mas não veem, porque não sentem, porque não tem dentro, mas sentem falta pelo vazio no oco de seus corações, este retornar ao interior destas cavernas é doloroso, porque deverá usar uma linguagem dos iludidos.

 


Quem já lecionou, educou, sabe muito bem que o juntar de letras não faz o menor sentido quando a mente não entende e não decifra os códigos formatados e sentidos pela emoção, quem vive nas cavernas não tem mais acesso aos algoritmos humanos, agora voltaram a ser os segredos que a humanidade escondeu de si mesmo, o código ficou secreto, os códigos que nos permitem entender e decifrar as emoções básicas humanas sendo o medo, a tristeza, a alegria, a raiva e o nojo, são os unicos códigos vigentes, não são entendidos e não conseguem encontrar respostas, muito menos remédio interior, o consumo e a ilusão da satisfação passageira enburreceu o ser humano, se fala muito em autoajuda, mas de que adianta mostrar o código se não sabe ler?

 


Um exemplo deste enburrecimento é que atualmente o homem moderno fala muito de amor sem saber exatamente do que se trata, a banalização envolve o pensamento do homem que não sabe mais o sentido, certamente procurara sentido, precisará de coragem para enfrentar a violência da razão da ciência que é o que ele sabe usar, ao invés de usar as razões das emoções que é o que não sabe, o amor este é o sentimento mais forte, é ele que engloba todas as emoções positivas, ele é quem consegue unir sonhos, realidades, ideais e só ele consegue combater outras emoções que solapam o desejo de viver sua liberdade em decidir fora dos padrões do coração, precisará reaprender o códigos das emoções positivas, uma a uma, o caminho de saída das cavernas exigirá que primeiro acredite que existe um mundo melhor com menos coisas, mais conteúdo, mais simplicidade, maior qualidade nas relações pessoais e de trabalho.