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sábado, 26 de fevereiro de 2022

Portal do Dragão

No oceano há um local chamado Portal do Dragão, onde imensas ondas surgem incessantemente. Sem falta, todos os peixes que por aí passam se tornam dragões, misteriosamente. Suas escamas não mudam e seus corpos parecem os mesmos, mas se tornam dragões. As imensas ondas não são diferentes das de outros locais e a água também é água salgada comum.

O caminho do Zen é assim. Quem entrar num local de prática — embora este não seja especial — se tornará um ser iluminado.

 

 

Apenas um verdadeiro dragão reconhece outro dragão. Pode parecer uma pessoa comum, sem nada de especial, mas, se atravessou o portal sem portas do Zen, se seguiu os ensinamentos e continua praticando incessantemente, algo fundamental mudou.

Surpreendi-me recentemente ao abrir um livro que encontrei casualmente no aeroporto. Estava embrulhado em papel transparente e o comprei porque era fino e não seria pesado para carregar durante a viagem.

Era realmente um livro leve e profundo, que iniciava contando a história de Buda como exemplo de que só será possível a sobrevivência humana no planeta Terra se houver a mudança de consciência que o Zen propõe. Concordo plenamente. Espero que o maior número de pessoas possa atravessar o Portal do Dragão, meditar e penetrar o samádi dos samádis, despertar e, assim, sair do ser ou não ser para penetrar o Interser.

Que todos os seres se tornem iluminados.

 

Fonte: Coen, Monja 1947- 108 contos e parábolas orientais / Monja Coen. - 1. ed. - São Paulo : Planeta, 2015.

 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

As Desculpas (Sutra de Chuang Tzu)

Quando um homem pisa no pé de um estranho

No mercado,

Desculpa-se educadamente

E oferece uma explicação

“Este lugar está

Tão abarrotado de gente!”

 

Se um irmão mais velho

Pisa no pé do irmão mais moço,

Diz: “Desculpe!”

E fica por isso mesmo.

 

Quando um pai

Pisa no pé do filho,

Não lhe diz nada.

 

A mais perfeita polidez

Está livre de qualquer formalidade.

A perfeita conduta

Está livre de preocupação.

A perfeita sabedoria

Não é premeditada.

O perfeito amor

Dispensa demonstrações.

A perfeita sinceridade não oferece

Nenhuma garantia.

Conforme o pensamento de Osho, as desculpas são necessárias porque não há nenhum relacionamento, o outro é um estranho. A explicação é necessária porque não há amor. Se existe amor então não há necessidade de uma explicação, o outro vai compreender. Se existe amor, não há necessidade do pedido de desculpas, o outro vai entender — o amor sempre entende. Portanto, não há moral mais elevada do que o amor, não pode haver. O amor é a lei suprema, mas, se ele não estiver presente, então são necessários substitutos. Se alguém pisar no pé de um estranho no mercado, é necessário um pedido de desculpas e uma explicação também:

“Este lugar está

Tão abarrotado de gente!”

Em referência a isso, uma coisa tem de ser entendida. No Ocidente, até um marido ofereceria um pedido de desculpas, uma esposa ofereceria uma explicação. Isso significa que o amor desapareceu. Isso significa que todo mundo se tornou um estranho, que não existe mais um lar, todo lugar se tornou um mercado. No Oriente, é impossível conceber isso, mas acho que os ocidentais acham que os orientais são rudes. Um marido nunca irá dar uma explicação — não há necessidade, porque não somos estranhos e o outro pode compreender. Só quando o outro não consegue entender é que o pedido de desculpas é necessário. E, se o amor não pode entender, que bem um pedido de desculpas pode fazer?

Se o mundo tornar-se um lar, todas as desculpas vão desaparecer, todas as explicações vão desaparecer. Você dá explicações porque não está certo com relação ao outro. A explicação é um truque para evitar o conflito, o pedido de desculpas é um dispositivo para evitar conflitos. Mas o conflito está lá, e você tem medo dele.

Desculpas demais, desculpas de menos, afinal quando devemos pedir desculpas? Penso que sempre que julgarmos necessário, até mesmo para nossos amigos, irmãos e esposa, enfim, que seja espontaneamente, é um ato de atenção e ao mesmo de carinho, o pedido deve ser seguido do olhar nos olhos, não da forma banal como nossa sociedade utiliza esta palavra sem que ela tenha alguma importância.

Osho nos conta que ouviu falar de um aldeão simples, que tinha ido à cidade pela primeira vez. Na plataforma da estação, alguém pisou no pé dele e disse: “Desculpe.” Então ele entrou num hotel, alguém novamente trombou com ele e disse: “Desculpe!” Então ele entrou num teatro e alguém quase o derrubou, e disse: “Desculpe.”

O aldeão disse: “Isso é lindo, não conhecíamos esse truque. Faça o que quiser a qualquer um e peça desculpas!” Então ele esmurrou um homem que estava passando e disse: “Desculpe!”

É mais ou menos assim que nossa sociedade lida diariamente com suas mazelas, a banalização tirou a virtude da atitude de pedir desculpas!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

O Barco Vazio de Osho

 

 

"Se um homem estiver atravessando um rio

E um barco vazio colidir com a sua própria embarcação,

Mesmo que ele seja um homem mal-humorado

Não vai ficar muito irritado.

Mas se vir um homem no outro barco, 

Ele vai gritar com ele para que reme direito.

Se o seu grito não for ouvido, ele vai gritar de novo,

E mais uma vez começará a xingar.

Tudo porque há alguém no barco.

Se o barco estivesse vazio, Ele não estaria gritando

Nem ficaria com raiva.

Se você conseguir esvazia o seu barco

Ao atravessar o rio do mundo,

Ninguém vai se opor a você,

Ninguém vai tentar lhe fazer mal.

Quem pode se libertar do sucesso

E da fama, e descer e se perder

Em meio à massa humana?

Esse fluirá com o Tao, invisível,

Avançará com a própria vida

Sem nome e sem lar.

Aparentemente é um tolo.

Seus passos não deixam rastro.

Não tem nenhum poder.

Nada consegue, não tem reputação.

Como não julga ninguém,

Ninguém o julga.

Assim é o homem perfeito:

Seu barco está vazio."

 

Quem alguma vez não sentiu raiva, quem não se rebelou e agiu asperamente simplesmente porque o ego falou mais alto? Isto afeta diretamente nosso comportamento, ler o livro com toda a certeza nos faz refletir sobre estas situações, são situações que nos pegam desprevenidos e nos fazem reagir de maneira áspera, em seguida já com os ânimos amenizados passamos a nos questionar se nos conhecemos realmente, agimos de maneira que não nos reconhecemos em nossas atitudes. Ler é uma forma de refletir e nos preparar para enfrentar situações, antes que possamos fazer algo que venha a nos fazer sentir arrependidos depois.

Quem gosta da literatura de Osho, precisa conhecer o livro O Barco Vazio, é como se fosse uma introdução ao Taoísmo, filosofia antiga da China, vem do tempo de Lao Tsé. Na obra, Osho procura dar vida às mensagens taoistas de mais de 3.000 anos atrás sobre a autorrealização, por meio das histórias do místico chinês Chuang Tzu. Chuang Tzu foi um discípulo direto de Lao Tsé, o grande mestre do Tao, Osho com sua argucia e profundidade nos faz entender as mensagens implícitas.

O Barco Vazio é uma grande oportunidade de aprender sobre o que significa o Tao, ajudando a compreender com mais profundidade os conceitos de Yin e Yang. Desde a primeira vez que li a introdução já simpatizei de cara, ao ler o livro desde o início gostei dele pela sua simplicidade e leveza.