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sexta-feira, 25 de abril de 2025

Mundo Insensato



Sabe aqueles dias em que o mundo parece um teatro do absurdo? Você olha ao redor e percebe que as pessoas estão correndo em direções aleatórias, defendendo causas que nem entendem, seguindo regras que ninguém se lembra por que existem. Parece um grande espetáculo sem roteiro, onde todos fingem que faz sentido. Bem-vindo ao mundo insensato.

O mundo continua em guerra aqui, lá e acolá, as guerras deste mundo insensato assumem muitas formas—bélicas, econômicas, culturais, tecnológicas e até psicológicas—mas todas compartilham a mesma lógica de confronto, dominação e destruição. Se Clausewitz via a guerra como a política por outros meios, hoje ela se manifesta também como a guerra da desinformação, das narrativas que moldam a realidade ao gosto do poder. Mesmo na esfera íntima, há guerras silenciosas: batalhas contra o tempo, contra si mesmo, contra um mundo que exige produtividade sem pausa. Nietzsche diria que a guerra é inerente à vida, um campo de forças em disputa; mas a questão é se podemos transformá-la de um embate cego para um conflito criativo, onde o atrito não destrói, mas gera novos sentidos. Camus diria que vivemos num mundo do absurdo!

A insensatez do mundo pode ser vista na forma como nos apegamos a convenções arbitrárias, como se fossem verdades absolutas. Se você não usa um terno em determinada ocasião, é visto como inadequado; se não responde imediatamente a uma mensagem, pode ser considerado rude. Mas quem escreveu essas regras? E, mais importante, quem disse que elas fazem sentido?

Desde a Grécia Antiga, os filósofos tentam entender esse caos organizado. Heráclito já dizia que tudo está em constante fluxo, e talvez seja essa mudança incessante que faz com que o mundo nunca pareça totalmente coerente. Schopenhauer, por sua vez, enxergava a existência como um jogo de forças irracionais – uma vontade cega nos arrastando por caprichos inexplicáveis. E Nietzsche, sempre provocador, nos alertou sobre o perigo de aceitar verdades impostas sem questioná-las. Afinal, o que chamamos de "sentido" pode ser apenas uma ilusão útil para manter a ordem.

No cotidiano, a insensatez se manifesta nos pequenos detalhes. Nos telejornais, cada crise é tratada como um evento apocalíptico, mas esquecida na semana seguinte. Pessoas passam anos da vida em trabalhos que odeiam, apenas para sustentar um estilo de vida que não escolheram conscientemente. A publicidade nos convence de que precisamos de coisas que nunca sentimos falta antes. Tudo isso é racional? Ou apenas seguimos o fluxo, como folhas num rio sem destino definido?

Talvez a chave para sobreviver ao mundo insensato não seja tentar organizá-lo, mas aprender a dançar com o caos. Em vez de buscar verdades definitivas, podemos aceitar a complexidade e o paradoxo como parte da experiência humana. Como diria Camus, a única resposta genuína ao absurdo da existência é a revolta – mas não a revolta destrutiva, e sim a recusa em se deixar levar por uma lógica que não é nossa.

Então, o que fazer diante desse espetáculo desconcertante? Talvez a resposta esteja em rir um pouco mais, questionar um pouco mais e, sobretudo, escolher o próprio caminho, mesmo que ele pareça insensato para os outros. Afinal, se o mundo não faz sentido, por que não criar o nosso próprio?

domingo, 20 de abril de 2025

Koan Zen

Outro dia, fui fechar a janela do quarto e notei que o vento tinha espalhado umas folhas pelo chão. Nada demais. Só que, enquanto recolhia as folhas, uma pergunta estalou na mente como se tivesse vindo com o vento: “Qual era o meu rosto antes de eu nascer?”. Simplesmente assim, sem cerimônia. Parei com a folha na mão, como quem segura um enigma. E aí me lembrei: isso é um koan.

Os koans são aquelas perguntas malucas (mas estranhamente lúcidas) do Zen budismo, feitas para arrebentar as amarras da lógica comum. Tipo: “Qual o som de uma palma só?” ou “Se você encontrar o Buda pelo caminho, mate-o.” Não é poesia, nem enigma para decifrar com inteligência. É mais como uma pedrinha lançada no lago da mente — o objetivo não é responder, mas desinstalar o programa racional.

O enigma que não quer resposta

Koans não têm respostas claras. E é exatamente isso que os torna tão potentes. Eles não querem ser compreendidos, querem ser vividos. Como uma crise existencial às três da manhã. Como um pôr do sol que te faz chorar sem saber por quê.

Diferente dos dilemas da filosofia ocidental, que muitas vezes tentam organizar o pensamento e encontrar uma saída lógica, os koans são implosões. Eles colocam a gente diante de um limite — o ponto em que o raciocínio tropeça. E nesse tropeço, abre-se o chão. Quem cai, acorda. Pelo menos é o que dizem os mestres Zen.

Koan no cotidiano: a contradição que revela

Imagine que você está esperando um ônibus que está sempre atrasado. Vem aquela raiva. Você pensa: “Por que sempre comigo?” — e já começa a se armar contra o mundo. Mas, de repente, alguém do lado diz: “O ônibus chega quando você parar de esperar.” Parece piada, mas é quase um koan. É uma afirmação que não quer te consolar, mas quebrar o eixo da sua espera ansiosa. E se o ônibus, ou qualquer outra coisa, só chega quando a gente se esvazia da expectativa?

Um amigo me contou que, quando estava se recuperando de uma separação, uma senhora japonesa da vizinhança disse apenas: “O bambu entorta, mas não quebra.” Ele riu, achou bonito, mas só meses depois entendeu. Não com a mente, mas com o corpo, com o tempo, com o sentir.

Filosofia do absurdo lúcido

Dá pra pensar os koans como aquilo que o filósofo francês Albert Camus chamaria de “o absurdo”. Mas ao invés de se angustiar com o silêncio do universo, o Zen sorri para ele. O koan é esse sorriso, desconcertante e silencioso.

O brasileiro Huberto Rohden, em sua ponte entre mística oriental e filosofia ocidental, falava da necessidade de uma “inteligência intuitiva”, capaz de perceber além dos conceitos. Os koans vivem exatamente aí — onde a mente se rende, e o coração começa a ouvir.

Quando o koan vira espelho

A mágica (ou o terror) de um koan é que ele sempre devolve a pergunta pra você. “Quem está ouvindo este som?” “Quem você é quando não está sendo ninguém?” — São perguntas que não apontam para fora, mas fazem o espelho se transformar em abismo.

E talvez o mais inovador seja isso: o koan é uma anti-filosofia que filosofa por choque, por quebra, por vazio. É como se dissesse: “Enquanto você tentar entender, não vai perceber.” É um chamado para estar, não para saber.

Conclusão? Nem pensar.

No espírito dos koans, talvez o melhor seja terminar este ensaio com um vazio. Ou com outra pergunta:

Se você fechar os olhos agora, onde você está?

Talvez a resposta venha com o vento. Ou com a folha que escapou pela janela.


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Balela

O Eco do Nada no Cotidiano

Ah, a balela... essa palavra que soa como o balançar de folhas ao vento, mas que ao mesmo tempo carrega a leveza de algo que não se sustenta. No fundo, é a essência daquilo que parece ser, mas não é; do que promete sentido, mas entrega o vazio.

Imagine a cena: você está no trabalho, rodeado por colegas que discutem animadamente sobre as buzzwords do mês. “Precisamos pivotar a estratégia”, alguém anuncia com um olhar triunfante. Outro emenda: “Mas sem perder o foco no core business”. Você ouve, acena, mas, por dentro, já sabe que nada de concreto sairá dali. Balela pura. Um espetáculo de palavras que giram em torno de si mesmas, mas que no fim só ocupam espaço.

Mas não precisamos ir tão longe. Pense naquele grupo de WhatsApp da família, onde surgem correntes que prometem milagres. “Passe limão no pé e cure sua ansiedade em 24 horas.” É balela em estado bruto, mas, curiosamente, encontra solo fértil. Talvez porque em meio ao caos da modernidade, até o absurdo reconforta.

O Cotidiano da Balela

A balela vive nos detalhes:

No chefe que diz “a empresa é uma família” enquanto corta benefícios.

No amigo que jura “qualquer coisa, estou aqui” e some quando você precisa de ajuda.

Na política, onde slogans vazios prometem mudanças impossíveis.

O mais curioso é que a balela não só sobrevive, mas prospera. Ela seduz, porque entrega um simulacro de verdade sem exigir esforço. A realidade é complexa e árdua; a balela, por outro lado, oferece atalhos fáceis para a mente cansada.

Filosofando Sobre a Balela

Quem melhor para nos guiar aqui do que Sócrates, o homem que foi condenado por desmascarar balelas da sua época? Ele andava pelas ruas de Atenas fazendo perguntas incômodas, desnudando certezas alheias até que o interlocutor admitisse: “Afinal, não sei de nada.” Sócrates entendia que a balela é um escudo contra o desconforto da ignorância.

Mas e hoje? Vivemos na era da informação, onde o acesso ao conhecimento nunca foi tão amplo. Ainda assim, a balela prospera. Talvez porque, como apontou o filósofo Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos: tudo é rápido, efêmero e sem profundidade. A balela é o reflexo perfeito dessa liquidez, pois se molda às expectativas momentâneas sem nunca se fixar em algo sólido.

Resistindo à Balela

O antídoto para a balela não é ignorá-la, mas confrontá-la. No trabalho, pergunte: “Como isso se traduz em ações práticas?” No grupo do WhatsApp, envie um link confiável que desmascare a corrente. Na política, exija transparência e coerência.

Mas, acima de tudo, observe-se. Quantas vezes nos rendemos à balela para evitar conflitos ou alimentar ilusões? Reconhecer isso é o primeiro passo para não apenas resistir à balela alheia, mas também à nossa própria. Afinal, como diria Nietzsche, “Não são as dúvidas que nos enlouquecem, mas as certezas.” E muitas dessas certezas, quando olhadas de perto, não passam de balelas bem embrulhadas.