"Fazer de conta que não vê" é uma arte sutil que todos nós praticamos em algum momento. Seja na fila do supermercado, onde o caixa passa por cima do item mais caro sem registrá-lo, ou no escritório, quando percebemos aquele pequeno erro no relatório do colega, mas escolhemos não mencioná-lo. Esse comportamento parece nos proteger de conflitos desnecessários, criando uma camada de paz aparente em nossa rotina.
A prática de "fazer de conta que não vê"
é especialmente comum em situações sociais delicadas. Imaginemos uma festa de
família. A tia, com suas opiniões um tanto controversas, faz um comentário que
poderia gerar uma discussão acalorada. O que fazemos? Fingimos que não ouvimos.
Mantemos o sorriso e desviamos o olhar para o prato, como se nada tivesse
acontecido. Nesse momento, evitamos o conflito direto, preservamos o ambiente
amigável e mantemos a harmonia.
Mas, e se essa prática se estender para além de
pequenas cortesias sociais? Quando "fazer de conta que não vê" começa
a moldar nosso comportamento de maneira mais significativa, podemos estar
ignorando aspectos importantes de nossa vida. Evitar enfrentar questões sérias,
como problemas no trabalho ou desafios pessoais, pode levar a uma complacência
perigosa.
O filósofo francês Jean-Paul Sartre falava sobre a
"má-fé," uma forma de autoengano onde as pessoas escolhem não
reconhecer certas verdades sobre si mesmas. Fazer de conta que não vê, quando
levado ao extremo, pode se assemelhar a essa má-fé, onde nos iludimos ao pensar
que os problemas desaparecem ao evitá-los. Ao nos recusarmos a encarar certas
realidades, nos afastamos da autenticidade e da possibilidade de crescimento
pessoal.
Então, quando estivermos tentados a "fazer de
conta que não vemos," talvez seja útil perguntar a nós mesmos: estamos
evitando um conflito passageiro ou estamos negligenciando algo que merece
atenção? Pode ser que a escolha entre confrontar ou ignorar nos diga muito
sobre como lidamos com as nuances da vida. Afinal, ignorar o que está à nossa
frente pode nos poupar de desconfortos imediatos, mas também pode nos afastar
de uma vida mais plena e consciente.