Nas palavras do filósofo pós-moderno Jean Baudrillard:
A própria definição do real se torna: aquilo
de que é possível fazer uma reprodução equivalente... No limite desse processo
de reprodutibilidade, o real não é só aquilo que pode ser reproduzido, mas
aquilo que já está sempre reproduzido. O hiper-real... transcende a
representação... apenas porque está inteiramente em simulação... O artificio
existe no próprio coração da realidade. Baudrillard em Matrix Pg. 256
O tema da realidade virtual cada
vez mais desperta a curiosidade popular, especialmente por causa de seu apelo
tecnológico e suas aplicações inovadoras em várias áreas da vida cotidiana. A
realidade virtual é frequentemente considerada como uma das tecnologias mais
avançadas e interessantes do mundo moderno, e muitas pessoas têm curiosidade em
explorar suas possibilidades.
As pessoas têm curiosidade em
experimentar a sensação de estar completamente imerso em ambientes virtuais. A
ideia de se transportar para outros lugares, mundos ou experiências através da
realidade virtual é intrigante e fascinante.
Muitas pessoas estão curiosas
sobre os jogos e experiências de entretenimento oferecidos pela realidade
virtual. Jogos em realidade virtual podem proporcionar uma experiência de jogo
mais intensa e interativa, atraindo a atenção de gamers e entusiastas de
tecnologia.
O uso da realidade virtual em
treinamento e educação também desperta curiosidade. As pessoas estão
interessadas em saber como essa tecnologia pode ser aplicada para melhorar o
aprendizado e a formação de habilidades em diversas áreas profissionais.
A realidade virtual aplicada em
terapias e tratamentos médicos é outro ponto de interesse para muitas pessoas.
A ideia de usar tecnologia avançada para melhorar a saúde e o bem-estar é
atraente e gera curiosidade, mas também suscita perguntas sobre seus desafios e
limitações. As pessoas podem se perguntar sobre a possibilidade de efeitos
colaterais, questões de segurança ou até onde essa tecnologia pode chegar no
futuro.
A curiosidade sobre o
desenvolvimento futuro da realidade virtual é comum. As pessoas estão
interessadas em saber como a tecnologia continuará avançando e quais serão suas
aplicações no futuro, sua crescente adoção em várias indústrias e setores está
alimentando ainda mais o fascínio do público em relação a essa tecnologia.
A afirmação de que "a
realidade virtual é tão metafisicamente real quanto a realidade não
simulada" é uma questão filosófica complexa que tem sido objeto de debates
e discussões há décadas. A questão de como consideramos a realidade virtual em
comparação com a realidade não simulada levanta várias questões importantes na
filosofia da mente e da ontologia.
A realidade virtual refere-se a
ambientes simulados criados por computadores, nos quais os usuários podem
interagir por meio de interfaces digitais, como óculos de realidade virtual,
luvas ou controles. Esses ambientes podem ser projetados para serem muito
imersivos, dando a sensação de presença e interação com um mundo virtual.
Por outro lado, a
"realidade não simulada" ou "realidade física" é o mundo
que percebemos e experimentamos em nosso cotidiano, independentemente de
qualquer meio de simulação.
Alguns argumentam que a
realidade virtual não é tão real quanto a realidade não simulada porque é uma
criação artificial, uma simulação, e não faz parte do mundo objetivo e físico.
Ainda que os ambientes virtuais possam ser imersivos, eles ainda são produtos
de tecnologia e não existem independentemente das pessoas e dos dispositivos
que os criam.
Por outro lado, há aqueles que
defendem que a realidade virtual pode ser considerada tão real quanto a
realidade não simulada em um sentido experiencial ou subjetivo. Eles argumentam
que, quando estamos imersos em um ambiente virtual, nossas percepções e
experiências são tão vívidas e reais quanto em nosso mundo físico. Para o
usuário imerso, a realidade virtual pode ser tão "real" quanto a
realidade física.
Então, a questão de qual é mais
"real" ou "metafisicamente real" é uma discussão filosófica
que depende de diferentes perspectivas e abordagens filosóficas. Além disso, a
própria definição de "real" pode variar dependendo do contexto e da
teoria filosófica que se está adotando.
No fim das contas, essa é uma
questão que provavelmente não terá uma resposta definitiva, mas é fascinante
explorar as implicações filosóficas e ontológicas da realidade virtual e do
mundo não simulado. Cada pessoa pode formar sua própria opinião com base em sua
compreensão da natureza da realidade e da consciência.
Historicidade: Vários filósofos
ao longo da história têm abordado questões relacionadas à realidade virtual e à
natureza da realidade em geral, pesquisando encontramos alguns filósofos que
têm contribuído para o debate sobre a relação entre a realidade virtual e a
realidade não simulada, o primeiro e bem conhecido é René Descartes
(1596-1650): Descartes é famoso por seu ceticismo metodológico e sua busca pela
certeza absoluta. Ele levantou questões sobre a natureza da realidade e a
confiabilidade das percepções sensoriais. Sua famosa frase "Cogito, ergo
sum" ("Penso, logo existo") reflete sua preocupação em encontrar
um ponto de partida indubitável para construir seu sistema de conhecimento.
Em seguida, no final do século
XVII encontramos George Berkeley (1685-1753): Berkeley foi um idealista e
defendia que a realidade física dependia da mente. Ele argumentou que a
realidade era composta de ideias percebidas por mentes, e a existência das
coisas materiais dependia da percepção contínua de uma mente divina. Essa
abordagem pode ter implicações interessantes para a realidade virtual, onde a
experiência é construída através da mente do usuário.
No século XVIII encontramos
nosso velho conhecido Immanuel Kant (1724-1804): Kant desenvolveu uma filosofia
transcendental que examinava as condições da experiência possível. Ele
argumentou que nossa mente molda a experiência da realidade, ao mesmo tempo em
que essa realidade é independente de nós. Kant distinguiu entre
"númeno" (a coisa-em-si) e "fenômeno" (a coisa como aparece
para nós), o que poderia ser relevante para compreender a realidade virtual
como um fenômeno construído pela mente do usuário.
No século XX temos Martin
Heidegger (1889-1976): Heidegger explorou a questão da ontologia, a natureza do
ser. Ele analisou como os seres humanos existem no mundo e como a tecnologia
pode moldar nossa compreensão da realidade. Heidegger discutiu a influência da
tecnologia em nossa relação com o mundo, e a realidade virtual pode ser vista
como um exemplo de como a tecnologia altera nossa experiência do ser-no-mundo.
E, finalmente temos o autor de
nossa menção de abertura, Jean Baudrillard (1929-2007): Baudrillard era um
filósofo pós-moderno que explorou a natureza da sociedade de consumo e a
relação entre a realidade e a simulação. Ele discutiu a ideia de que a
sociedade contemporânea estava saturada de simulacros, representações sem
referentes reais. Nesse contexto, a realidade virtual poderia ser vista como
uma forma extrema de simulação, onde a distinção entre o real e o simulado se
torna difusa.
Existem muitos outros filósofos
e teorias que abordam essas questões de diferentes perspectivas, e a
compreensão da relação entre a realidade virtual e a realidade "real"
continua a ser uma questão em constante evolução na filosofia contemporânea.
Atualmente estamos cada vez mais
envolvidos com esta questão, à medida que vamos avançando tecnologicamente
nossa dependência é crescente, em nosso cotidiano não faltam exemplos deste
envolvimento, um exemplo simples de realidade virtual no cotidiano é um jogo de
videogame. Vamos considerar um jogo de corrida de carros em que o jogador
utiliza um conjunto de óculos de realidade virtual para entrar em uma
experiência imersiva.
Imagine que você coloca os
óculos de realidade virtual e se vê dentro do carro de corrida, enxergando o
volante, o painel de instrumentos e a pista à sua frente. À medida que você
gira a cabeça para os lados, pode ver os retrovisores virtuais e acompanhar o
movimento dos outros carros competindo na corrida.
Enquanto você joga, os óculos de
realidade virtual rastreiam os movimentos da sua cabeça e adaptam a cena de
acordo, proporcionando a sensação de que você realmente está dentro do carro,
participando da corrida. Ao pisar no acelerador ou freio com os controles, você
sente a resposta do carro virtual, como se estivesse realmente dirigindo.
Esse é um exemplo simples de
realidade virtual no cotidiano, em que a tecnologia cria uma simulação imersiva
de uma experiência que não é possível no mundo físico. A realidade virtual em
jogos e entretenimento é amplamente acessível atualmente, e existem muitas
outras aplicações em áreas como educação, treinamento, terapia e turismo, onde
a realidade virtual é utilizada para criar experiências envolventes e
educativas.
Um outro exemplo de realidade
virtual no cotidiano que não envolve um jogo é Treinamento em Realidade Virtual
para Profissionais de Saúde:
Muitos profissionais de saúde,
como cirurgiões, paramédicos e enfermeiros, podem se beneficiar do treinamento
em realidade virtual. A realidade virtual permite a simulação de cenários
médicos complexos e realistas, proporcionando aos profissionais de saúde uma
oportunidade de praticar procedimentos médicos e situações de emergência em um
ambiente seguro e controlado.
Por exemplo, cirurgiões podem
realizar simulações de procedimentos cirúrgicos específicos, como uma cirurgia
laparoscópica, em um ambiente virtual. (Laparoscopia é uma abordagem cirúrgica destinada ao tratamento de diversas doenças na
região abdominal e pélvica). Eles podem usar um
conjunto de óculos de realidade virtual e controladores para simular o manuseio
de instrumentos cirúrgicos e a execução dos passos da operação. Isso ajuda os
cirurgiões a melhorarem suas habilidades, aperfeiçoarem técnicas e se
prepararem para casos mais desafiadores.
Da mesma forma, paramédicos
podem praticar situações de resgate e primeiros socorros em ambientes virtuais,
onde eles precisam tomar decisões rápidas e precisas em situações de alto
estresse.
Além do treinamento, a realidade
virtual também é usada para fins terapêuticos. Por exemplo, na terapia de
exposição para pacientes com transtornos de ansiedade, a realidade virtual pode
ser usada para expor o paciente a situações que desencadeiam ansiedade de forma
controlada, ajudando-os a enfrentar seus medos gradualmente.
Esses exemplos mostram como a realidade
virtual pode ser aplicada em campos além dos jogos, trazendo benefícios
significativos para profissionais de saúde e pacientes, melhorando a eficácia
do treinamento e das terapias.
Outro campo onde a RV (Realidade
Virtual) também é usada é em treinamentos de segurança do trabalho, conforme
artigo de L.A.V. Pereira, entende-se que existe uma maior eficácia na aderência
do conhecimento ao se utilizar o método de RV, a qual se confirma logo após o
treinamento e após 60 dias de sua realização. O treinamento com a RV demonstrou
também ser mais eficaz em termos de aprendizado prático e igualmente eficaz em
termos de aprendizado teórico. Além disso, o uso de sistemas de RV no
treinamento de segurança melhora o envolvimento, o engajamento e, portanto, a satisfação
dos trabalhadores.
A RV na educação
A realidade virtual tem um
potencial significativo para melhorar o treinamento e a educação em todos os
níveis, incluindo o ensino fundamental, médio e a academia. As aplicações em
treinamento e educação podem variar desde aulas virtuais interativas até
simulações imersivas que permitem aos alunos experimentar conceitos e cenários
do mundo real.
A realidade virtual pode
transformar a maneira como os alunos interagem com o conteúdo educacional. Em
vez de simplesmente ler textos ou assistir às aulas em vídeo, os alunos podem
participar de ambientes virtuais interativos que os envolvem em experiências de
aprendizado mais envolventes e imersivas.
A realidade virtual permite
criar simulações que representam ambientes do mundo real. Por exemplo, os
alunos podem explorar a anatomia humana em detalhes, visitar lugares
históricos, simular experimentos científicos e até mesmo participar de
simulações de negócios para aprender conceitos de empreendedorismo.
A realidade virtual é
especialmente útil para a prática de habilidades práticas. Alunos que desejam
aprender habilidades técnicas, como mecânica, eletrônica ou programação, podem
utilizar ambientes virtuais para praticar e aprimorar suas técnicas de forma
segura e controlada.
A realidade virtual pode ser
usada para treinar alunos interessados em profissões específicas, como médicos,
enfermeiros, bombeiros e policiais. Simulações realistas permitem que os alunos
pratiquem procedimentos, tomem decisões críticas e enfrentem desafios típicos
de suas respectivas carreiras.
A realidade virtual pode ser
usada para ajudar os alunos a desenvolverem habilidades sociais e emocionais,
como em programas de treinamento para aprimorar a empatia e a compreensão
emocional.
A realidade virtual pode ampliar
o acesso dos alunos a recursos educacionais e locais remotos. Por exemplo, os
estudantes podem visitar museus e locais históricos em todo o mundo sem sair da
sala de aula.
É importante notarmos que a
implementação da realidade virtual na educação requer investimentos em
infraestrutura e tecnologia, além de treinamento adequado para educadores e
alunos. Além disso, é essencial garantir que a utilização da realidade virtual
seja complementar às metodologias de ensino tradicionais e que seja adequada às
necessidades educacionais específicas de cada aluno. Quando bem integrada, a
realidade virtual pode enriquecer significativamente a experiência de
aprendizado no ensino médio e em outros níveis educacionais.
Mark Zuckerberg, co-fundador do
Facebook e da Oculus VR (empresa de tecnologia de realidade virtual) também
defendeu a utilização da realidade virtual na educação. Ele acredita que a
realidade virtual tem o potencial de criar experiências educacionais imersivas
e acessíveis a estudantes de todo o mundo.
Acredito que a RV já tem espaço
garantido em muitas áreas e ainda estamos explorando as possibilidades da
realidade virtual para melhorar a aprendizagem, sua utilização também poderá
promover experiências educacionais mais ricas e envolventes.
Então, "a realidade virtual
é tão metafisicamente real quanto a realidade não simulada?" como disse, é
uma questão filosófica complexa que tem sido objeto de debates e discussões há
décadas, ainda estamos pensando e discutindo a respeito, tem muito pano para
manga, hoje a resposta é difícil de ser formulada o que dirá daqui a alguns
anos quando a tecnologia tiver avançado mais.
Fontes
Baudrillard
Jean. Simulacros e Simulação. Antropos. Trad. Por Maria João da Costa
Pereira. Ed. Relógio d'Água, Lisboa, 1991
Irwin
William. Matrix – Bem-vindo ao deserto do real. Coletânea. Trad. Por
Marcos Malvezzi Leal. Ed. Madras. São Paulo, 2003
Consulta artigo internet em
26/07/2023:
https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/29689/1/treinamentorealidadevirtualtradicional.pdf
Livro do Pré-Simpósio:
https://pcs.usp.br/interlab/wp-content/uploads/sites/21/2018/01/Fundamentos_e_Tecnologia_de_Realidade_Virtual_e_Aumentada-v22-11-06.pdf