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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Autenticidade Virtual

Filosofia da Identidade e Autenticidade no Mundo Virtual

Imagine uma cena cotidiana: você está num café, entre amigos, quando alguém pergunta casualmente: “Quem somos no mundo virtual?” A questão parece simples à primeira vista. Logo surgem respostas: "Somos o que queremos mostrar" ou "somos uma versão melhorada de nós mesmos". Contudo, para além das selfies e das descrições cuidadosamente elaboradas, essa pergunta toca num ponto profundo – e talvez até desconfortável. Afinal, será que a identidade que construímos no ambiente virtual reflete quem realmente somos? Ou será que nos tornamos prisioneiros de uma imagem projetada?

Na era digital, o conceito de identidade se expande e se transforma, assumindo nuances que ainda estamos aprendendo a decifrar. Para explorarmos essa relação entre identidade e autenticidade no mundo virtual, é preciso compreender como moldamos nossa presença digital e questionar o quanto ela realmente nos representa.

Identidade e Autenticidade: A Máscara Digital

O mundo virtual nos dá a liberdade de nos apresentar como quisermos. Ali, não existem as mesmas restrições físicas ou contextuais do mundo offline. Esse fenômeno lembra o conceito de "persona", termo utilizado por Carl Jung para descrever a "máscara" social que usamos para nos adaptar ao meio. No ambiente digital, essa persona torna-se mais fluida e moldável, permitindo que selecionemos e aprimoramos aquilo que mostramos ao mundo.

No entanto, existe uma linha tênue entre a expressão legítima de quem somos e a criação de uma versão idealizada que distorce nossa identidade. O filósofo canadense Charles Taylor, em sua obra sobre a busca pela autenticidade, destaca que o desejo de sermos fiéis a nós mesmos é uma marca do nosso tempo. Contudo, essa autenticidade é desafiada quando a sociedade – e agora o mundo virtual – impõe padrões e expectativas. Na rede, o que pode parecer uma expressão autêntica muitas vezes é apenas uma adaptação às “regras” não ditas, como a busca por curtidas, seguidores e validação.

Essa construção digital, impulsionada pelas redes sociais, pode ser comparada ao conceito de “sociedade do espetáculo”, proposto por Guy Debord. Nessa sociedade, a aparência se sobrepõe à realidade. A identidade, que deveria refletir quem somos, passa a ser uma série de performances cuidadosamente elaboradas para atender expectativas e obter reconhecimento. Quando nos vemos na tela, estamos nos vendo ou apenas vendo uma projeção que criamos para agradar?

A Ilusão da Autenticidade: Somos Mesmo o que Mostramos?

Ao pensarmos na autenticidade no mundo virtual, enfrentamos um paradoxo. Em busca de mostrar quem somos, editamos e ajustamos nossa imagem até atingir uma versão satisfatória. Mesmo que tentemos ser sinceros, é quase inevitável “melhorar” alguns aspectos. Afinal, quem não já usou um filtro para corrigir uma imperfeição ou escolheu uma foto que favorece o ângulo certo? Esse hábito de moldar nosso “eu virtual” cria uma ilusão de autenticidade, algo que parece verdadeiro, mas que é polido, ensaiado e controlado.

Além disso, o conceito de autenticidade na rede é constantemente redefinido pelas tendências e pelo comportamento coletivo. A antropóloga digital Sherry Turkle explora como o ambiente virtual permite que experimentemos diferentes versões de nós mesmos. Para alguns, essa liberdade oferece um espaço para autoconhecimento e até desenvolvimento pessoal. Para outros, o efeito é contrário: eles se veem presos a uma identidade que precisa ser mantida e valorizada pela aprovação externa, levando a uma dependência emocional das interações e validações online.

A Busca por Identidade no Mundo Virtual

O filósofo Zygmunt Bauman, em suas reflexões sobre a modernidade líquida, argumenta que a identidade é hoje um processo fluido, constantemente em construção e repleto de incertezas. No mundo virtual, essa fluidez se intensifica. O “eu” digital é editado, aprimorado e, muitas vezes, fragmentado. Mudamos de identidade de acordo com as plataformas, nos adaptamos aos públicos e aos propósitos de cada uma: LinkedIn para o profissional, Instagram para o aspiracional, Twitter para o polêmico.

No entanto, essa fragmentação pode nos levar a uma crise de identidade. Quando nos adaptamos demais a cada contexto virtual, corremos o risco de perder a coesão de quem realmente somos. E quanto mais dependemos da validação externa para manter essa imagem, mais frágeis nos tornamos. A identidade deixa de ser uma expressão genuína e se transforma numa mercadoria, algo que precisa ser continuamente promovido e aceito.

É Possível Ser Autêntico no Mundo Virtual?

Diante de tantos desafios, surge a pergunta: é possível ser autêntico no mundo virtual? A resposta não é simples. Ser autêntico exige coragem para ser vulnerável, mostrar falhas e aceitar imperfeições. No entanto, a própria natureza do ambiente digital, onde tudo é documentado e potencialmente acessível a todos, torna essa exposição um risco. Muitos preferem a segurança da máscara à incerteza de se mostrar como realmente são.

Para alguns pensadores, a autenticidade no mundo virtual pode ser uma meta possível, mas não sem esforço e autorreflexão. Exige uma abordagem crítica, uma disposição para reconhecer as limitações do meio e aceitar que, por mais que tentemos, nunca seremos exatamente os mesmos na rede e fora dela. O filósofo brasileiro Vilém Flusser oferece uma perspectiva interessante ao lembrar que a comunicação digital, ao invés de refletir nossa essência, é apenas uma versão tecnicamente manipulada de nós mesmos.

A identidade e autenticidade no mundo virtual são temas desafiadores que nos confrontam com uma versão de nós mesmos que, muitas vezes, não reconhecemos. A liberdade para nos reinventar e experimentar diferentes identidades é um aspecto fascinante da vida digital, mas vem com um preço: a potencial perda de uma conexão genuína com quem realmente somos.

A autenticidade, nesse contexto, pode ser vista como um exercício de consciência, de reconhecer as armadilhas da máscara digital e se questionar constantemente sobre a veracidade das nossas próprias projeções. Talvez, a resposta para sermos mais autênticos no mundo virtual esteja menos em tentar transpor fielmente nosso “eu” offline para a rede e mais em entender que a identidade, tanto online quanto offline, é sempre uma construção, um processo em constante mudança. Assim, a grande questão não é tanto “quem somos no mundo virtual”, mas “quem queremos ser” e como podemos, ao menos, ser honestos conosco nesse processo. 

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Era das Simulações

Na era das simulações, onde o real e o virtual se entrelaçam em uma dança de imagens e experiências artificiais, a questão da consciência e da realidade toma um novo significado. A possibilidade de que vivamos em uma simulação é hoje tema de estudo e especulação. Este conceito – impulsionado por teorias como as de Nick Bostrom – suscita perguntas profundas sobre o que constitui o real e o que significa ser consciente.

Historicamente, filósofos como Platão, no "Mito da Caverna", já questionavam a realidade percebida, sugerindo que aquilo que vemos e sentimos pode ser apenas sombras de uma verdade maior. Mas, ao contrário da caverna platônica, onde a libertação leva ao conhecimento da "verdadeira luz", a era das simulações sugere que talvez não haja uma luz final, uma verdade última a ser alcançada. Vivemos entre sombras – ou, melhor dizendo, entre pixels.

Consciência: A Narradora de uma Realidade Incerta

A consciência é, para muitos, o centro da experiência humana, o "eu" que percebe, raciocina e sente. Mas o que significa ser consciente em um mundo onde a realidade é questionável? Se estivermos em uma simulação, a consciência seria uma construção programada? Ou ela teria uma natureza mais essencial, algo que transcende a própria simulação?

Alguns estudiosos sugerem que, se estivermos dentro de uma simulação, nossa consciência poderia ser um mero reflexo das limitações dessa programação. No entanto, se assumirmos que nossa consciência é capaz de questionar e investigar sua própria condição simulada, isso indicaria que existe algo inerente a ela que supera o controle de uma simulação. Em outras palavras, o simples fato de nos perguntarmos sobre a natureza da realidade indica uma profundidade de pensamento que transcende os limites de uma programação predeterminada.

Realidade: O Campo das Simulações e a Percepção do Real

A realidade, na era das simulações, é um conceito fluido. Com o avanço da inteligência artificial, da realidade virtual e da realidade aumentada, estamos imersos em mundos criados digitalmente que simulam experiências quase indistinguíveis daquelas que consideramos "reais". O filme Matrix, por exemplo, explora um mundo onde as pessoas vivem sem saber que suas experiências são geradas artificialmente. A questão que emerge, então, é: se nossa experiência do mundo pode ser recriada de forma perfeita, o que diferencia a realidade da simulação?

A física quântica já nos sugere que a realidade material é, em certa medida, uma construção da mente observadora – fenômenos quânticos podem mudar de comportamento dependendo de quem os observa. Assim, se a realidade depende da percepção, a diferença entre uma simulação e o mundo físico talvez não seja tão grande quanto imaginamos. Afinal, seria o universo físico uma simulação criada pela mente humana, ou mesmo uma projeção de consciências coletivas?

A Filosofia e a Necessidade de uma Nova Ontologia

A filosofia, ao longo dos séculos, tem revisitado o conceito de "ser" e "realidade", mas a era das simulações traz uma urgência para que pensemos em uma ontologia – o estudo do ser – que acomode essa nova possibilidade. Jean Baudrillard, em seu conceito de "simulacro e simulação", já argumentava que nossa sociedade moderna está cercada por representações que substituem o real. Segundo ele, vivemos um tempo em que as simulações não apenas representam a realidade, mas substituem a experiência do real. Em sua visão, o simulacro não é uma mera cópia da realidade, mas sim uma nova forma de realidade, mais potente do que o próprio mundo físico.

A ontologia da era das simulações não pode mais depender de um "real" fixo e absoluto. Precisamos de uma compreensão da realidade que considere tanto as percepções individuais quanto as coletivas, e que aceite o fato de que o que chamamos de "realidade" pode ser uma interface, uma máscara.

O Significado de "Real" na Vida Cotidiana

No cotidiano, a ideia de que podemos estar em uma simulação pode soar desconcertante, mas também libertadora. Ao percebermos que a "realidade" pode ser uma construção, temos a oportunidade de questionar o que, afinal, queremos construir para nós mesmos. Em última instância, se nossa experiência pode ser moldada de acordo com nossas percepções e interpretações, então somos, em alguma medida, programadores de nossas próprias simulações.

As redes sociais, por exemplo, são pequenos mundos simulados onde apresentamos versões de nós mesmos que não necessariamente correspondem ao que somos "no real". Nessa arena digital, moldamos a percepção de nossa realidade e muitas vezes acreditamos nela tanto quanto nas experiências fora da tela. Esse tipo de simulação nos lembra que, em muitos aspectos, a realidade é aquilo que a consciência escolhe experienciar.

A era das simulações nos coloca em um lugar filosófico inquietante e transformador, onde a realidade é ao mesmo tempo suspeita e familiar. Se vivemos em uma simulação, nossa tarefa talvez não seja escapar dela, mas explorar suas camadas, entender que a consciência humana pode ser a chave para transitar entre o virtual e o real, o físico e o digital. Mesmo que não haja uma resposta definitiva para o que é "real", o questionamento em si pode ser o que nos torna verdadeiramente humanos – conscientes em meio ao desconhecido.


sexta-feira, 28 de julho de 2023

A realidade virtual é tão metafisicamente real quanto a realidade não simulada?



Nas palavras do filósofo pós-moderno Jean Baudrillard:

A própria definição do real se torna: aquilo de que é possível fazer uma reprodução equivalente... No limite desse processo de reprodutibilidade, o real não é só aquilo que pode ser reproduzido, mas aquilo que já está sempre reproduzido. O hiper-real... transcende a representação... apenas porque está inteiramente em simulação... O artificio existe no próprio coração da realidade. Baudrillard em Matrix Pg. 256

O tema da realidade virtual cada vez mais desperta a curiosidade popular, especialmente por causa de seu apelo tecnológico e suas aplicações inovadoras em várias áreas da vida cotidiana. A realidade virtual é frequentemente considerada como uma das tecnologias mais avançadas e interessantes do mundo moderno, e muitas pessoas têm curiosidade em explorar suas possibilidades.

As pessoas têm curiosidade em experimentar a sensação de estar completamente imerso em ambientes virtuais. A ideia de se transportar para outros lugares, mundos ou experiências através da realidade virtual é intrigante e fascinante.

Muitas pessoas estão curiosas sobre os jogos e experiências de entretenimento oferecidos pela realidade virtual. Jogos em realidade virtual podem proporcionar uma experiência de jogo mais intensa e interativa, atraindo a atenção de gamers e entusiastas de tecnologia.

O uso da realidade virtual em treinamento e educação também desperta curiosidade. As pessoas estão interessadas em saber como essa tecnologia pode ser aplicada para melhorar o aprendizado e a formação de habilidades em diversas áreas profissionais.

A realidade virtual aplicada em terapias e tratamentos médicos é outro ponto de interesse para muitas pessoas. A ideia de usar tecnologia avançada para melhorar a saúde e o bem-estar é atraente e gera curiosidade, mas também suscita perguntas sobre seus desafios e limitações. As pessoas podem se perguntar sobre a possibilidade de efeitos colaterais, questões de segurança ou até onde essa tecnologia pode chegar no futuro.

A curiosidade sobre o desenvolvimento futuro da realidade virtual é comum. As pessoas estão interessadas em saber como a tecnologia continuará avançando e quais serão suas aplicações no futuro, sua crescente adoção em várias indústrias e setores está alimentando ainda mais o fascínio do público em relação a essa tecnologia.

A afirmação de que "a realidade virtual é tão metafisicamente real quanto a realidade não simulada" é uma questão filosófica complexa que tem sido objeto de debates e discussões há décadas. A questão de como consideramos a realidade virtual em comparação com a realidade não simulada levanta várias questões importantes na filosofia da mente e da ontologia.

A realidade virtual refere-se a ambientes simulados criados por computadores, nos quais os usuários podem interagir por meio de interfaces digitais, como óculos de realidade virtual, luvas ou controles. Esses ambientes podem ser projetados para serem muito imersivos, dando a sensação de presença e interação com um mundo virtual.

Por outro lado, a "realidade não simulada" ou "realidade física" é o mundo que percebemos e experimentamos em nosso cotidiano, independentemente de qualquer meio de simulação.

Alguns argumentam que a realidade virtual não é tão real quanto a realidade não simulada porque é uma criação artificial, uma simulação, e não faz parte do mundo objetivo e físico. Ainda que os ambientes virtuais possam ser imersivos, eles ainda são produtos de tecnologia e não existem independentemente das pessoas e dos dispositivos que os criam.

Por outro lado, há aqueles que defendem que a realidade virtual pode ser considerada tão real quanto a realidade não simulada em um sentido experiencial ou subjetivo. Eles argumentam que, quando estamos imersos em um ambiente virtual, nossas percepções e experiências são tão vívidas e reais quanto em nosso mundo físico. Para o usuário imerso, a realidade virtual pode ser tão "real" quanto a realidade física.

Então, a questão de qual é mais "real" ou "metafisicamente real" é uma discussão filosófica que depende de diferentes perspectivas e abordagens filosóficas. Além disso, a própria definição de "real" pode variar dependendo do contexto e da teoria filosófica que se está adotando.

No fim das contas, essa é uma questão que provavelmente não terá uma resposta definitiva, mas é fascinante explorar as implicações filosóficas e ontológicas da realidade virtual e do mundo não simulado. Cada pessoa pode formar sua própria opinião com base em sua compreensão da natureza da realidade e da consciência.

Historicidade: Vários filósofos ao longo da história têm abordado questões relacionadas à realidade virtual e à natureza da realidade em geral, pesquisando encontramos alguns filósofos que têm contribuído para o debate sobre a relação entre a realidade virtual e a realidade não simulada, o primeiro e bem conhecido é René Descartes (1596-1650): Descartes é famoso por seu ceticismo metodológico e sua busca pela certeza absoluta. Ele levantou questões sobre a natureza da realidade e a confiabilidade das percepções sensoriais. Sua famosa frase "Cogito, ergo sum" ("Penso, logo existo") reflete sua preocupação em encontrar um ponto de partida indubitável para construir seu sistema de conhecimento.

Em seguida, no final do século XVII encontramos George Berkeley (1685-1753): Berkeley foi um idealista e defendia que a realidade física dependia da mente. Ele argumentou que a realidade era composta de ideias percebidas por mentes, e a existência das coisas materiais dependia da percepção contínua de uma mente divina. Essa abordagem pode ter implicações interessantes para a realidade virtual, onde a experiência é construída através da mente do usuário.

No século XVIII encontramos nosso velho conhecido Immanuel Kant (1724-1804): Kant desenvolveu uma filosofia transcendental que examinava as condições da experiência possível. Ele argumentou que nossa mente molda a experiência da realidade, ao mesmo tempo em que essa realidade é independente de nós. Kant distinguiu entre "númeno" (a coisa-em-si) e "fenômeno" (a coisa como aparece para nós), o que poderia ser relevante para compreender a realidade virtual como um fenômeno construído pela mente do usuário.

No século XX temos Martin Heidegger (1889-1976): Heidegger explorou a questão da ontologia, a natureza do ser. Ele analisou como os seres humanos existem no mundo e como a tecnologia pode moldar nossa compreensão da realidade. Heidegger discutiu a influência da tecnologia em nossa relação com o mundo, e a realidade virtual pode ser vista como um exemplo de como a tecnologia altera nossa experiência do ser-no-mundo.

E, finalmente temos o autor de nossa menção de abertura, Jean Baudrillard (1929-2007): Baudrillard era um filósofo pós-moderno que explorou a natureza da sociedade de consumo e a relação entre a realidade e a simulação. Ele discutiu a ideia de que a sociedade contemporânea estava saturada de simulacros, representações sem referentes reais. Nesse contexto, a realidade virtual poderia ser vista como uma forma extrema de simulação, onde a distinção entre o real e o simulado se torna difusa.

Existem muitos outros filósofos e teorias que abordam essas questões de diferentes perspectivas, e a compreensão da relação entre a realidade virtual e a realidade "real" continua a ser uma questão em constante evolução na filosofia contemporânea.

Atualmente estamos cada vez mais envolvidos com esta questão, à medida que vamos avançando tecnologicamente nossa dependência é crescente, em nosso cotidiano não faltam exemplos deste envolvimento, um exemplo simples de realidade virtual no cotidiano é um jogo de videogame. Vamos considerar um jogo de corrida de carros em que o jogador utiliza um conjunto de óculos de realidade virtual para entrar em uma experiência imersiva.

Imagine que você coloca os óculos de realidade virtual e se vê dentro do carro de corrida, enxergando o volante, o painel de instrumentos e a pista à sua frente. À medida que você gira a cabeça para os lados, pode ver os retrovisores virtuais e acompanhar o movimento dos outros carros competindo na corrida.

Enquanto você joga, os óculos de realidade virtual rastreiam os movimentos da sua cabeça e adaptam a cena de acordo, proporcionando a sensação de que você realmente está dentro do carro, participando da corrida. Ao pisar no acelerador ou freio com os controles, você sente a resposta do carro virtual, como se estivesse realmente dirigindo.

Esse é um exemplo simples de realidade virtual no cotidiano, em que a tecnologia cria uma simulação imersiva de uma experiência que não é possível no mundo físico. A realidade virtual em jogos e entretenimento é amplamente acessível atualmente, e existem muitas outras aplicações em áreas como educação, treinamento, terapia e turismo, onde a realidade virtual é utilizada para criar experiências envolventes e educativas.

Um outro exemplo de realidade virtual no cotidiano que não envolve um jogo é Treinamento em Realidade Virtual para Profissionais de Saúde:

Muitos profissionais de saúde, como cirurgiões, paramédicos e enfermeiros, podem se beneficiar do treinamento em realidade virtual. A realidade virtual permite a simulação de cenários médicos complexos e realistas, proporcionando aos profissionais de saúde uma oportunidade de praticar procedimentos médicos e situações de emergência em um ambiente seguro e controlado.

Por exemplo, cirurgiões podem realizar simulações de procedimentos cirúrgicos específicos, como uma cirurgia laparoscópica, em um ambiente virtual. (Laparoscopia é uma abordagem cirúrgica destinada ao tratamento de diversas doenças na região abdominal e pélvica). Eles podem usar um conjunto de óculos de realidade virtual e controladores para simular o manuseio de instrumentos cirúrgicos e a execução dos passos da operação. Isso ajuda os cirurgiões a melhorarem suas habilidades, aperfeiçoarem técnicas e se prepararem para casos mais desafiadores.

Da mesma forma, paramédicos podem praticar situações de resgate e primeiros socorros em ambientes virtuais, onde eles precisam tomar decisões rápidas e precisas em situações de alto estresse.

Além do treinamento, a realidade virtual também é usada para fins terapêuticos. Por exemplo, na terapia de exposição para pacientes com transtornos de ansiedade, a realidade virtual pode ser usada para expor o paciente a situações que desencadeiam ansiedade de forma controlada, ajudando-os a enfrentar seus medos gradualmente.

Esses exemplos mostram como a realidade virtual pode ser aplicada em campos além dos jogos, trazendo benefícios significativos para profissionais de saúde e pacientes, melhorando a eficácia do treinamento e das terapias.

Outro campo onde a RV (Realidade Virtual) também é usada é em treinamentos de segurança do trabalho, conforme artigo de L.A.V. Pereira, entende-se que existe uma maior eficácia na aderência do conhecimento ao se utilizar o método de RV, a qual se confirma logo após o treinamento e após 60 dias de sua realização. O treinamento com a RV demonstrou também ser mais eficaz em termos de aprendizado prático e igualmente eficaz em termos de aprendizado teórico. Além disso, o uso de sistemas de RV no treinamento de segurança melhora o envolvimento, o engajamento e, portanto, a satisfação dos trabalhadores.

A RV na educação

A realidade virtual tem um potencial significativo para melhorar o treinamento e a educação em todos os níveis, incluindo o ensino fundamental, médio e a academia. As aplicações em treinamento e educação podem variar desde aulas virtuais interativas até simulações imersivas que permitem aos alunos experimentar conceitos e cenários do mundo real.

A realidade virtual pode transformar a maneira como os alunos interagem com o conteúdo educacional. Em vez de simplesmente ler textos ou assistir às aulas em vídeo, os alunos podem participar de ambientes virtuais interativos que os envolvem em experiências de aprendizado mais envolventes e imersivas.

A realidade virtual permite criar simulações que representam ambientes do mundo real. Por exemplo, os alunos podem explorar a anatomia humana em detalhes, visitar lugares históricos, simular experimentos científicos e até mesmo participar de simulações de negócios para aprender conceitos de empreendedorismo.

A realidade virtual é especialmente útil para a prática de habilidades práticas. Alunos que desejam aprender habilidades técnicas, como mecânica, eletrônica ou programação, podem utilizar ambientes virtuais para praticar e aprimorar suas técnicas de forma segura e controlada.

A realidade virtual pode ser usada para treinar alunos interessados em profissões específicas, como médicos, enfermeiros, bombeiros e policiais. Simulações realistas permitem que os alunos pratiquem procedimentos, tomem decisões críticas e enfrentem desafios típicos de suas respectivas carreiras.

A realidade virtual pode ser usada para ajudar os alunos a desenvolverem habilidades sociais e emocionais, como em programas de treinamento para aprimorar a empatia e a compreensão emocional.

A realidade virtual pode ampliar o acesso dos alunos a recursos educacionais e locais remotos. Por exemplo, os estudantes podem visitar museus e locais históricos em todo o mundo sem sair da sala de aula.

É importante notarmos que a implementação da realidade virtual na educação requer investimentos em infraestrutura e tecnologia, além de treinamento adequado para educadores e alunos. Além disso, é essencial garantir que a utilização da realidade virtual seja complementar às metodologias de ensino tradicionais e que seja adequada às necessidades educacionais específicas de cada aluno. Quando bem integrada, a realidade virtual pode enriquecer significativamente a experiência de aprendizado no ensino médio e em outros níveis educacionais.

Mark Zuckerberg, co-fundador do Facebook e da Oculus VR (empresa de tecnologia de realidade virtual) também defendeu a utilização da realidade virtual na educação. Ele acredita que a realidade virtual tem o potencial de criar experiências educacionais imersivas e acessíveis a estudantes de todo o mundo.

Acredito que a RV já tem espaço garantido em muitas áreas e ainda estamos explorando as possibilidades da realidade virtual para melhorar a aprendizagem, sua utilização também poderá promover experiências educacionais mais ricas e envolventes.

Então, "a realidade virtual é tão metafisicamente real quanto a realidade não simulada?" como disse, é uma questão filosófica complexa que tem sido objeto de debates e discussões há décadas, ainda estamos pensando e discutindo a respeito, tem muito pano para manga, hoje a resposta é difícil de ser formulada o que dirá daqui a alguns anos quando a tecnologia tiver avançado mais.

 

Fontes

Baudrillard Jean. Simulacros e Simulação. Antropos. Trad. Por Maria João da Costa Pereira. Ed. Relógio d'Água, Lisboa, 1991

Irwin William. Matrix – Bem-vindo ao deserto do real. Coletânea. Trad. Por Marcos Malvezzi Leal. Ed. Madras. São Paulo, 2003

 

Consulta artigo internet em 26/07/2023:

https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/29689/1/treinamentorealidadevirtualtradicional.pdf

Livro do Pré-Simpósio:

 https://pcs.usp.br/interlab/wp-content/uploads/sites/21/2018/01/Fundamentos_e_Tecnologia_de_Realidade_Virtual_e_Aumentada-v22-11-06.pdf