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quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Teoria Sobre Gosto

 


Bem-vindo ao universo provocativo do “Arquiteto do Gosto”, o universo de Pierre Bourdieu, onde o gosto transcende a simplicidade de preferências pessoais e se torna uma intrigante janela para a complexidade das estruturas sociais. Bourdieu desafia a noção tradicional de apreciação estética, propondo uma visão em que o gosto é muito mais do que simples inclinações individuais. Ele nos convida a explorar o "capital cultural", uma força invisível que molda nossas escolhas culturais, criando nuances surpreendentes na forma como definimos o que é "bom gosto". Então vamos questionar nossas próprias preferências e fazer uma análise que revela como o gosto não é apenas uma questão de gosto pessoal, mas um intricado jogo de distinção social e reprodução cultural.

Pierre Bourdieu, um sociólogo e antropólogo francês, é reconhecido por suas contribuições significativas para o entendimento das relações entre cultura, sociedade e poder. Bourdieu introduziu conceitos como "capital cultural" e "distinção social", argumentando que o gosto não é apenas uma preferência individual, mas está profundamente enraizado em estruturas sociais e hierarquias culturais. Suas obras, como "A Distinção: Crítica Social do Julgamento", exploram como as escolhas culturais não apenas refletem, mas também perpetuam desigualdades sociais. O trabalho de Bourdieu continua a influenciar debates acadêmicos sobre cultura e sociedade, desafiando as percepções convencionais sobre o papel do gosto na formação de identidades individuais e coletivas.

Capital Cultural e Hierarquia Social: O Pano de Fundo do Gosto

Em sua teoria, Bourdieu introduz o conceito de "capital cultural" como uma força motriz por trás das preferências individuais. O capital cultural não é apenas o conhecimento adquirido, mas também as habilidades e práticas culturais que uma pessoa acumula ao longo da vida. Nesse contexto, o gosto é muito mais do que simples predileção; é uma expressão de identidade social. Ele argumenta que diferentes grupos sociais possuem diferentes formas de capital cultural, e isso se reflete em suas escolhas estéticas. As elites culturais, por exemplo, têm acesso privilegiado a determinadas formas de conhecimento e arte, moldando assim seus padrões de gosto. Essa hierarquia social influencia diretamente o que é considerado "bom gosto" e estabelece um conjunto de normas culturais que permeiam a sociedade.

Distinção Cultural: O Gosto como Estratégia Social

Para Bourdieu, o gosto é também uma forma de distinção social. As escolhas culturais não são apenas reflexos de preferências pessoais, mas estratégias conscientes ou inconscientes para se diferenciar ou se identificar com determinados grupos. Ao escolher certas formas de cultura, as pessoas buscam estabelecer sua posição na hierarquia social, construindo fronteiras simbólicas entre classes e grupos. Por exemplo, a preferência por certos estilos musicais, obras de arte ou literatura pode servir como um distintivo cultural, indicando afiliações sociais e status. Dessa forma, o gosto não é apenas uma manifestação de apreciação estética, mas um mecanismo complexo de posicionamento social.

A Reprodução Cultural: Gosto como Herança Social

Bourdieu também destaca a importância da reprodução cultural na transmissão do gosto ao longo das gerações. As experiências culturais vivenciadas na infância, a educação formal e informal, tudo contribui para a formação do capital cultural de um indivíduo. Assim, o gosto é frequentemente herdado, criando ciclos que perpetuam as normas culturais dentro de uma sociedade. Para Bourdieu, o gosto transcende a mera apreciação individual. É um fenômeno complexo enraizado nas estruturas sociais, refletindo e perpetuando as hierarquias culturais. Ao considerarmos o gosto como uma expressão de capital cultural e uma ferramenta de distinção social, somos desafiados a questionar nossas próprias escolhas culturais e a reconhecer o papel fundamental que o contexto social desempenha em nossa formação estética.

Vamos considerar um exemplo prático da aplicação das ideias de Pierre Bourdieu sobre o gosto em relação à música. Suponhamos que temos dois grupos sociais distintos: um composto principalmente por membros de classes sociais mais altas, com acesso fácil à educação formal e a eventos culturais elitizados, e outro formado por indivíduos de classes sociais mais baixas, com recursos limitados e experiências culturais menos diversificadas.

No primeiro grupo, as experiências culturais, como a participação em concertos clássicos e a exposição a formas de música erudita desde a infância, contribuem para a acumulação de capital cultural. Assim, as preferências musicais desse grupo podem inclinar-se para gêneros mais "cultos" ou considerados intelectualmente exigentes, como música clássica ou jazz experimental.

No segundo grupo, onde o acesso a tais experiências culturais é mais limitado, as preferências podem se inclinar para gêneros musicais mais populares, como o hip-hop ou o pop mainstream, que muitas vezes são mais acessíveis e refletem as influências culturais da comunidade.

Aqui, Bourdieu argumentaria que as escolhas musicais não são apenas reflexos de gostos pessoais, mas também manifestações do capital cultural acumulado ao longo da vida. As preferências são, portanto, moldadas pelas experiências culturais disponíveis, que, por sua vez, são fortemente influenciadas pela posição social e econômica dos indivíduos.

Esse exemplo prático ilustra como a teoria de Bourdieu sobre o gosto pode ser aplicada para analisar as escolhas culturais em diferentes grupos sociais, destacando como o contexto social e econômico contribui para a formação dessas preferências.

Como vimos, navegar pelo intrigante mundo de Pierre Bourdieu é como mergulhar em um oceano de ideias que desafiam as noções convencionais de gosto e cultura. Em suas palavras, descobrimos que o ato de apreciar vai muito além de meras preferências individuais, transformando-se em um fenômeno socialmente carregado. Bourdieu nos leva a questionar nossas escolhas culturais, instigando reflexões sobre como o contexto social e as hierarquias impactam a forma como definimos o que é esteticamente valioso.

À medida que fechamos as páginas das suas obras, somos convidados a levar conosco a consciência de que o gosto não é apenas sobre gostar; é uma expressão intrincada das complexas teias sociais que moldam nossa identidade. Assim, após nossas reflexões sobre o universo provocativo de Bourdieu saímos com uma mente mais questionadora, pronta para explorar as nuances sutis que envolvem nossas escolhas culturais e desafiar as fronteiras entre o gosto individual e o jogo intrincado da distinção social. 

Divagando entre reflexões me perguntei se quando alguém de classe mais baixa experimenta algo da classe mais alta e gosta ou não gosta do que experimentou, mesmo que depois disto não possa adquirir o objeto ela pode ter adquirido o gosto ou dependerá do poder aquisitivo para estar apropriada ao gosto? Pensando, a experiência de alguém de classe mais baixa ao experimentar algo associado à classe mais alta pode desencadear uma série de respostas e reflexões sobre o gosto. A capacidade de adquirir ou apreciar um determinado gosto, mesmo que inicialmente fora do alcance financeiro, é influenciada por vários fatores, incluindo o contexto social, a disposição individual e as circunstâncias econômicas.

Por um lado, a pessoa pode desenvolver um apreço pelo novo gosto, encontrando valor na experiência cultural diferenciada. Esse processo de aquisição de gosto pode transcender barreiras econômicas, pois a apreciação cultural muitas vezes não está diretamente ligada à posse material. Pode ocorrer uma mudança na percepção do que é considerado esteticamente agradável, independentemente das limitações financeiras.

Por outro lado, a persistência dessa apreciação pode depender das condições econômicas da pessoa. Se, após a experiência, ela não tiver meios financeiros para continuar a explorar ou adquirir elementos associados a esse novo gosto, a influência econômica pode limitar a continuidade desse interesse. O poder aquisitivo desempenha um papel significativo na capacidade de sustentar e incorporar esses gostos ao estilo de vida. Assim, enquanto a experiência inicial pode despertar um interesse genuíno, a capacidade de manter esse gosto pode ser afetada pelo poder aquisitivo e pelas barreiras econômicas que permeiam as distintas classes sociais.

 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Bourdieu e os Conceitos Campo, Capital Social e Habitus




 
Bourdieu percebe nas sociedades a existência de um sujeito social histórico e dinâmico que esta envolvido diariamente na luta constante entre outros sujeitos sociais, tal luta objetiva a ocupação dos espaços nos diversos campos sociais, a partir desta ideia Bourdieu desenvolveu estudos de como ocorre a reprodução de classes assim como ocorre a transferência das heranças que distinguem as sociedades atuais, tais estudos o levou a desenvolver conceitos importantíssimos que permitirão o entendimento de sua perspectiva.
Os conceitos principais do estudo elaborado por Bourdieu formam a base pela qual busca explicar as relações de afinidade entre o comportamento dos agentes sociais e as estruturas sociais condicionantes.
De forma simplificada, segundo Bourdieu, o mundo social é dividido em campos onde os atores sociais estão inseridos espacialmente de posse de grandezas de certos capitais tal como capital social, cultural, acadêmico, político, artístico e etc., cada um destes campos se expressam por formas de comunicação dinâmicas tal como uma matriz de percepção, que ele denominou de habitus, este por sua vez é o condicionante do posicionamento espacial de cada ator social que na luta social o mesmo identifica-se com sua classe social, sendo ele plástico e flexível.
Conceitualmente campos consistem no espaço onde ocorrem as relações sociais entre os atores, cada campo é dinâmico obedecendo a regras próprias, alimentadas pelas disputas ocorridas em seu próprio espaço, onde todos os atores têm interesse em ter sucesso nas relações estabelecidas com os outros, representa um espaço simbólico, com leis próprias.
Conforme Bourdier Campo: “É um universo social particular constituído de agentes ocupando posições específicas dependentes do volume e da estrutura do capital eficiente dentro do campo considerado. É um sistema de posições que podem ser alteradas e contestadas.”
Como exemplo de um campo, vou puxar a brasa para meu assado, temos o campo profissional, especificamente no campo administrativo onde os atores possuindo capitais exigidos para que cada ator atue conforme as regras do campo administrativo e espacialmente onde este ator estiver localizado, como por exemplo, dentro do campo administrativo, existem outros campos, que podemos chamar de subcampos como subcampo de recursos humanos, subcampo comercial, subcampo contábil, subcampo técnico, subcampo financeiro, onde todos os subcampos específicos relacionam-se entre si, compondo a estrutura administrativa.
Dentro de cada subcampo especifico existem atores que são profissionais que carregam capitais específicos a cada função e cada ator é obrigado a conhecer as regras do jogo dentro de cada campo social e subcampo social, para permanecer deve estar disposto a lutar e seguir as regras, como no futebol os jogadores seguem regras do futebol, no campo acadêmico seguem suas regras e no campo administrativo seguem regras da administração.
Para Bourdieu capital tem outro sentido alem do sentido econômico que compreende a riqueza material, como dinheiro ações e etc., o outro sentido equivale ao capital cultural, que compreende conhecimento, habilidades, informações, enfim corresponde a um conjunto de qualificações intelectuais, transmitidas inicialmente pela família, em seguida pelas instituições escolares e quando ingressa no campo profissional adquire conhecimentos através de treinamentos, valendo inclusive a forma e postura em publico do ator social.
É importante firmar o entendimento acerca do conceito de capital, porque é com a conquista do mesmo que serão permitidos os “acessos sociais”, compreendidos pelos relacionamentos com os outros atores sociais formando sua rede de contatos e aproximações, o reconhecimento do ator social também é simbólico estando em jogo o prestigio e sua imagem moral e ética, neste caso podemos verificar que as sociedades estigmatizam os atores conforme os valores e virtudes que lhe são atribuídos.
A permanência dos atores ocupando os espaços é propiciada pelo acumulo de capitais, que seriam conhecimentos específicos e gerais, o habitus seria o conhecimento acumulado gerando internalizações de disposições que seriam espaços ocupados por um ou outro ator, como por exemplo, o homem ocupa determinada função que uma mulher não ocupa, tal tendência tende a mudar pela dinâmica social, alterando este status quo, tais tendências são também reproduções sociais, vistas em muitas das atividades profissionais que são propriamente reservadas para homens e outras para mulheres.
A diversificação do capital possibilita ao ator sua integração a outros campos, desde que possua capital especifico ao campo onde queira atuar e respeite as regras especificas daquele campo.
Ficam muito claro que o habitus é sistemas com posições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, tendo o habitus à característica de uma segunda natureza, histórica e presa ao campo, trata-se de um conhecimento adquirido ou transferido de forma explicita ou implícita através de treinamentos que proporcionarão aprendizagem, estrategicamente apreendidos pelo interesse do ator em se manter na posição de maneira intencional ou não.
Em geral no interior de cada campo, como no exemplo do campo administrativo em seu interior, em seus sub-campos a dinâmica da concorrência, dominação e manutenção de privilégios, são oriundos de estratégias de conservação das próprias estruturas sociais, como o capital social é desigual, inflado pela concorrência, implica em conflitos constantes, seja um campo em relação com outro, seja entre os atores sociais, a luta objetiva a conservação, reprodução, acumulação, dominação, o passe de entrada de um ator social em outro sub-campo que não o dele serão as suas habilidades comprovadas e evidenciadas por formação acadêmica, treinamentos certificados, experiências comprovadas, mesmo assim as relações são submetidas a analises e experimentações que permitirão o ingresso ou não do ator.
O pensamento de Bourdier é significativo e representa a forma de entender como ocorrem as relações sociais, discutir e refletir sobre este tema proporciona um olhar não coisificado deslocando da coisa em si para o sujeito social, entendo que em sala de aula ou fora dela, a construção de uma teoria pratica permite melhor entendimento geral, tal pensamento materializado através do uso de técnicas convencionais como pesquisas qualitativas e quantitativas o construiu empiricamente a partir de seus conceitos lógicos um programa de analise das relações com caráter estatistico probalistico.

BIBLIOGRAFIA
ALGUMAS REFLEXÕES EM TORNO DOS CONCEITOS DE CAMPO E DE HABITUS NA OBRA DE PIERRE BOURDIEU Reflections about concepts of field and habitus of Pierre Bourdier’s works. Por ARAÚJO F.M.de B*., ALVES**, E.M. & CRUZ, M.P**, artigo disponibilizado por UAB FURG.