Estava sentado no banco da praça, observando o vai e vem das pessoas numa rua bem movimentada. De onde eu estava, era como assistir a uma dança silenciosa, onde cada um parecia ter sua própria coreografia, seguindo um ritmo que só eles conheciam. Mas algo me chamou a atenção: mesmo com toda aquela movimentação, ninguém realmente se olhava nos olhos, ninguém se cumprimentava. Era como se todos estivessem juntos, mas ao mesmo tempo profundamente sozinhos. Foi aí que me veio o insight: será que estamos perdendo a coesão social, aquela conexão que faz de um grupo de indivíduos uma comunidade de verdade? E foi assim que decidi escrever sobre isso.
A perda de coesão social é como um tecido que, aos
poucos, vai se desfiando. Na vida cotidiana, isso pode ser visto em atitudes
aparentemente pequenas, como o aumento da indiferença entre vizinhos, a falta
de participação em atividades comunitárias ou até mesmo a dificuldade de
encontrar um propósito comum em espaços onde antes havia união.
Vamos imaginar um bairro onde, décadas atrás, as
pessoas se conheciam pelo nome, participavam de festas de rua e se ajudavam
mutuamente. Com o tempo, novas tecnologias e estilos de vida transformaram
essas interações. Os encontros na calçada foram substituídos por conversas
rápidas no WhatsApp, e as crianças que antes jogavam bola na rua agora se
isolam em jogos online. A sensação de pertencimento vai desaparecendo, e o
bairro, antes uma comunidade viva, torna-se um aglomerado de pessoas que
compartilham apenas o espaço físico, mas não a vida.
Essa fragmentação social pode levar a consequências
graves, como o aumento da intolerância, do preconceito e da desconfiança entre
as pessoas. Sem uma base sólida de coesão, os laços que sustentam a sociedade
ficam frágeis, e isso se reflete em todos os aspectos da vida social, desde a
política até as relações pessoais.
Para o sociólogo francês Émile Durkheim, a coesão
social é essencial para o funcionamento de qualquer sociedade. Ele acreditava
que a solidariedade entre indivíduos é o que mantém a sociedade unida e que,
sem essa solidariedade, a sociedade corre o risco de entrar em um estado de
anomia, onde as normas e valores que regem a convivência perdem sua força.
No contexto atual, onde as relações estão cada vez mais mediadas pela tecnologia e pelo consumo, é crucial refletir sobre como podemos reforçar os laços sociais. Talvez seja hora de resgatar práticas antigas, como encontros comunitários e conversas cara a cara, ou até mesmo de encontrar novas formas de conexão que façam sentido no mundo contemporâneo.
A perda de coesão social não é um problema individual, mas coletivo. Todos nós temos um papel na construção e manutenção dos laços que nos unem, e, sem essa responsabilidade compartilhada, a sociedade como a conhecemos pode se desintegrar lentamente, como aquele tecido que, aos poucos, vai se desfiando.