Conversando
com um amigo de infância com quem tenho afinidade, após uma boa conversa com
ele, ele descreveu seu quadro bastante angustiado, aparentemente sem motivos já que ele é um cara bem sucedido profissionalmente, faz parte de uma bela família, e dificilmente alguém poderia supor que ele
sofre de depressão.
Através de estudos anteriores, e alguma experiência que
tive ao fazer um curso de pós-graduação em Neuropsicopedagogia, já estava ciente
da gravidade que é alguém conviver com a depressão, mas que infelizmente ainda
se ouve da boca de pessoas aparentemente esclarecidas que “isto não passa de frescura”, isto não passa apenas de "uma tristeza mal resolvida junto algum familiar", isto não passa apenas de "alguma magoa que já deveria ter sido resolvida, pois já é bem grandinha" e por ai vai. Estes tipos de comentários sempre me incomodaram e sempre me pareceu que quem
faz tal afirmação, não tem empatia para com o outro, se sente superior (o que não é) e no mínimo tem desprezo pela
dor do outro.
Para quem leu algo sobre o tema abordado por Hipócrates, Schopenhauer,
Bauman, Platão e Aristóteles saberão do que estarei a falar.
Diante disto, resolvi trazer à baila algumas considerações que penso serem de muita importância, acredito que a Filosofia Clinica tem muito a dizer a respeito, onde o filosofo Fabiano de Abreu e o escritor estadunidense Andrew Solomon, fazem interessantes analises, que estou compartilhando.
Começarei pelo filósofo Fabiano de Abreu, o qual tenho grande admiração.
Filosofo Fabiano de Abreu
Em 11/07/2018, o brilhante pesquisador e filósofo Fabiano de Abreu teceu os seguintes comentários acerca da depressão: “Depressão é muito mais do que um sentimento de tristeza”
Apesar de muitos tabus que ainda cercam o assunto,
a depressão é uma doença muito séria, mas muitos não a encaram com a mesma
seriedade que a situação demanda, sendo encarado por alguns como fingimento ou
“frescura".
A ciência já comprovou os efeitos fisiológicos da depressão, suas manifestações. Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) estudaram a relação entre a depressão e dores crônicas. Os resultados mostraram que os acometimentos do corpo e da mente estão extremamente relacionados. Coordenado pela doutora Laura Helena Andrade, o estudo faz parte de um levantamento concluído em 2009 que analisou mais de 5 mil pessoas maiores de idade e que vivem na região metropolitana de São Paulo. Não é a toa que a depressão é considerada o mal do século 21.
O Filósofo Fabiano de Abreu, autor do livro “Viver Pode Não Ser Tão Ruim”, é um pesquisador do comportamento humano e da busca pela felicidade, e tem se dedicado a entender a depressão, seu processo e sua cura. Baseado em seus estudos, Fabiano tem uma opinião sobre o assunto: "quando buscamos o motivo pelo qual nos sentimos pressionados, tristes, depressivos, encurtamos assim o tratamento natural para a cura da depressão, e com base nos seus estudos, tem uma opinião. Quando já não conseguimos pensar e isso é dominante e atuante no cotidiano, devemos buscar ajuda clínica. Algumas coisas estão sob nosso controle e outras não, mas não podemos nos desgastar com as que não estão ou isso pode ocasionar uma depressão resultado da insatisfação ou fracasso”.
Para o filósofo, uma tristeza pode evoluir para um quadro de depressão, com base em uma situação de insatisfação ou fracasso. Assim, é preciso entender a diferença entre a tristeza e a depressão clínica, e buscar ajuda condizente com o quadro. Penso tal como o filósofo que a meditação é uma ótima ferramenta para enfrentar a depressão, e reafirmo que a meditação não é apenas fechar os olhos com as pernas em posição borboleta e as mãos apoiadas juntando as pontas dos dedos e entoar um mantra. A meditação é pararmos, nos desligarmos dos problemas e pensarmos sobre nossa própria vida. Se estamos tristes, então precisamos entender o motivo de estamos tristes, a razão, e assim saber o que pode ser feito”.
A meditação não é um produto de consumo e de bem-estar, e sim deve ser pensada como uma prática pessoal de profunda transformação. Além dos estados agradáveis momentâneos, os exercícios mentais podem resultar na transformação duradoura de traços de personalidade. Porém, as curtas doses diárias não nos levarão a este nível de transformação positiva e duradoura - mesmo se continuarmos a praticar por anos - sem adicionar práticas específicas.
Leve a sério a meditação, é um ótimo remédio para vencer alguma tristeza que o esteja rondando, não deixe evoluir para a depressão.
Escritor Andrew Solomon
Acredito seriamente que as palavras do premiado escritor estadunidense Andrew Solomon, sejam de grande importância e relevância, dentre algumas de suas afirmações destaquei o ponto que entendo seja a chave para a luta contra a depressão: "O oposto da depressão não é felicidade, mas vitalidade", pois a felicidade não é de graça, é preciso trabalho, e é na vitalidade que encontraremos propulsão para a felicidade.
Em 04/08/2014, o premiado escritor estadunidense em entrevista para Alexandre Lucchese, fala sobre auto aceitação e os avanços dos movimentos pelos direitos dos homossexuais (04/08/2014 - 10h32minAtualizada em 22/05/2019 - 10h51min)
Com livros premiados e traduzidos para mais
de 20 idiomas, o escritor americano Andrew Solomon, 50 anos,
colabora com diferentes jornais e cruza o mundo falando em conferências na
última sexta-feira, no Brasil, participou de um debate durante a Festa
Literária Internacional de Paraty (Flip).
Quem observa a movimentada agenda do escritor mal consegue imaginar que Solomon já sofreu crises de depressão tão profundas que o deixaram à beira do imobilismo. O livro O Demônio do Meio-Dia (2001), em que analisa a depressão a partir da própria experiência com a doença, foi escolhido um dos cem melhores da década pelo jornal britânico The Times. Na infância, Solomon contou com o apoio dos pais para superar sua dislexia. Mais tarde, teve dificuldade para ser aceito por eles quando revelou sua homossexualidade.
Essas situações inspiraram o livro Longe da Árvore (2012), resultado de mais de 10 anos de pesquisa sobre crianças, adolescentes e adultos à margem dos padrões sociais e biológicos considerados "normais", aceitos (ou não) por suas famílias. Nesta entrevista, o autor fala sobre depressão, auto aceitação e os avanços dos movimentos pelos direitos dos homossexuais.
Em O Demônio do Meio-Dia, o senhor narra um colapso causado pela depressão, que durante algum tempo o impediu de realizar atividades básicas como tomar banho, por exemplo. De que modo conseguiu superar esse quadro?
Minha depressão respondeu a um tratamento que combinou medicação e psicoterapia. Imagino que precisarei manter essa combinação pelo resto da minha vida. Às vezes, isso não parece um problema; em outras, sinto como algo muito inconveniente e irritante.
O que recomendaria para quem está passando pela mesma situação?
Realmente acredito que as pessoas devem procurar o que funciona para elas. Já encontrei gente que teve boas respostas com recursos que soam ridículos sob o ponto de vista científico, mas que efetivamente fizeram com que elas se sentissem melhor. Então, não se pode dizer que é algo ridículo, uma vez que ajudou alguém. O único perigo disso é que, enquanto alguém se dedica a um tratamento sem eficácia comprovada, está atrasando o início de algo que já tem um histórico de comprovação e, neste intervalo de tempo, o quadro pode se agravar. Meu tratamento é baseado nas tecnologias modernas - e sou muito grato por viver em um tempo em que tudo isso está disponível.
Hoje se fala muito mais de depressão do que se falava antigamente. Isso se deve a um maior conhecimento sobre o tema ou ao fato de que houve uma banalização do termo?
Acho que sabemos muito mais sobre depressão e, por isto, podemos fazer mais por quem está sofrendo da doença. Há cem anos, quem se sentia depressivo não falava muito sobre isso, até porque não havia muito a fazer a respeito. Agora, há muitas intervenções possíveis: remédios, psicoterapia, eletrochoques para quem necessita... O fato de as pessoas estarem falando mais e terem a mente mais aberta sobre o assunto é sempre algo bom.
Pode estar havendo alguma dificuldade de lidar com dores que fazem parte da vida e que acabam sendo confundidas com depressão?
Acredito que é uma pobreza de nossas línguas usar a palavra "depressão" para descrever sentimentos de tristeza e também uma condição clínica. A experiência que uma criança tem quando seu jogo de futebol é cancelado, por exemplo, é bem diferente da experiência de alguém que comete suicídio. O fato de usarmos a mesma palavra para ambas as situações gera confusão. Pessoas que já tiveram a experiência de ter um dia muito ruim às vezes acreditam saber o que é uma depressão. Ressalto que o oposto de depressão não é felicidade, mas vitalidade. Depressão não é tristeza, é a falta de energia para fazer qualquer coisa com a sua vida. Não há como comprovar isso, mas suspeito que exista uma taxa maior de depressão atualmente do que se costumava ter. E há muitas razões para isso: estamos interagindo mais com computadores do que com pessoas, o ritmo de vida é rápido demais, nós temos várias possibilidades de comunicação, mas não usamos porque ficamos vendo TV... Há mais fatores estressantes na vida moderna que podem ajudar a desencadear depressões.
Muitos consideram a depressão um fenômeno moderno ocidental.
Esse é um mito que tenho interesse em destruir. Comecei pesquisando conceitos históricos de depressão. Hipócrates, há 2,5 mil anos, descrevia a depressão nos mesmos termos com que a descrevemos hoje. Além disso, dizia que era uma disfunção orgânica do cérebro, melhor disparada por fatores externos. Já Platão afirmava que era um problema filosófico, melhor resolvido por meio de conversas. Então, a distinção entre os modelos médicos e psicodinâmicos da depressão já existe há cerca de 25 séculos. Com intuito de observar melhor se era um fenômeno ocidental, me aventurei a estar em uma grande variedade de sociedades. Observei a depressão entre os sobreviventes do Khmer Vermelho do Camboja, entre esquimós inuítes, e fui até o Senegal, onde participei de sessões do tratamento ritual da doença, bastante populares lá. Constatei que a linguagem usada para descrever a depressão varia um pouco, mas a ideia de que algumas pessoas às vezes se sentiam inexplicavelmente divorciadas de todas as oportunidades e de tudo o que dava sentido para suas vidas existia em qualquer sociedade que pude encontrar.
Ainda há quem afirme que é um problema de classe média.
Também busquei observar essa ideia de que a depressão só ocorre quando você é desocupado o suficiente para ter tempo para ela, por isso, seria de algum modo uma experiência das classes mais abastadas. No entanto, descobri que quando você tem uma vida que, em termos materiais, poderia ser maravilhosa, mas se sente triste o tempo todo, você procura um médico, já que isso não faz sentido. Mas, se você é pobre e sua vida é difícil, quando se sente triste pensa: "É claro que me sinto triste, minha vida é horrível". E então não busca tratamento. Na realidade, quando você entrevista muitas pessoas que estão vivendo depressão, percebe que frequentemente elas não estão deprimidas porque têm vidas horríveis e pobres, e sim têm vidas horríveis e pobres porque a depressão as paralisa e não permite que façam o que deveriam para melhorar.
No livro Longe da Árvore, publicado ano passado no Brasil, o senhor aborda o crescimento de filhos com identidades diversas das de seus pais e a forma como são aceitos ou não. Transgêneros, autistas, surdos e esquizofrênicos são alguns exemplos. Hoje, os pais estão mais bem preparados para lidar com filhos que não correspondem às suas expectativas?
Acho que jamais alguém está preparado para ter filhos muito diferentes de si. É chocante para todas as famílias em que isso ocorre. Não acredito que as pessoas estejam mais bem preparadas, e sim que, na era da internet, há mais possibilidades de encontrar comunidades com pessoas que também precisam lidar com as mesmas situações. Além de adquirirem conhecimento nesses espaços, compreendem a ideia de que a vida com uma criança que é diferente, algo que parece incrivelmente difícil, é sim possível, já que há muitos outros pais conseguindo lidar com esta situação. Tudo isso colabora para que os pais aceitem com mais facilidade crianças diferentes da expectativa da maior parte das pessoas. No entanto, "mais fácil" não quer dizer "fácil". É apenas um pouco menos difícil.
Onde o senhor acha que as pessoas enfrentam mais preconceito, dentro ou fora de casa?
Acredito que há três níveis de aceitação a serem desenvolvidos: auto aceitação, aceitação familiar e aceitação social - esta última inclui escola e trabalho. Cada um deles influencia os outros. É claro que já ouvi histórias de gente bem compreendida em casa, mas que sofre preconceito imenso no trabalho, e também o contrário. Mas não diria que um dos níveis é mais importante do que os outros. O que acredito é que alguém com auto aceitação tem uma influência, ainda que limitada, em ser aceito por sua família e pelo mundo. Quem é aceito pela família tende a ser mais bem aceito no trabalho, porque sua atitude é diferente, e assim por diante. Do mesmo modo, pessoas que cresceram sendo rejeitadas pela família tendem a sofrer mais rejeições no trabalho, porque isso passa a ser uma constante para elas, a ponto de não saberem muito bem como construir suas vidas sem esse sentimento.
Como estimular a auto aceitação de uma criança e não fazê-la se sentir sozinha em suas diferenças?
Não penso em termos de uma criança se sentir sozinha, mas em um importante equilíbrio que muitas vezes é delicado. Uma criança com diferenças deve ser inserida no mundo real, educada em salas de aulas e exposta a pessoas e colegas que não compartilham suas mesmas diferenças, já que esse é o mundo em que viverá. Mas essa criança também deveria ocupar algum tempo em salas de aula e outros contextos junto a pessoas com sua mesma condição, onde poderá entender melhor o que é esta experiência, ter ideia dos desafios que terá de enfrentar. Acredito que os dois ambientes são necessários.
A homossexualidade era considerada uma doença há algumas décadas. Hoje, a união homoafetiva é uma realidade. Como militante dos direitos dos homossexuais, como explica esses progressos?
Isso pode parecer repentino, mas é o resultado de muitas décadas de ativismo e pode ser atribuído consideravelmente aos movimentos por direitos civis anteriores, como o movimento pelo direito das mulheres ao voto e os movimentos pelos direitos das minorias raciais. Acredito que o movimento gay se inspirou nesses dois, e todos têm em mente uma sensibilidade pós-colonial: um grupo de pessoas não deveria ser autorizado a controlar outro grupo de pessoas. Também acho importante dizer que o casamento gay é maravilhoso, tenho um casamento gay e estou muito contente por isto. Mas é preciso avançar em outras questões. Nos EUA e em outros países, em diferentes proporções, pessoas continuam sendo demitidas por serem gays, ou sendo maltratadas por serem gays, ou tendo o direito de habitação negado por serem gays... Há até mesmo países em que pessoas são executadas por serem gays. São todas formas de preconceito.
Os setores políticos que se posicionaram contra a união homoafetiva, tanto no Brasil quanto nos EUA, têm forte ligação com as religiões cristãs. Por outro lado, o cristianismo promove a ideia de amor e tolerância. Como o senhor vê o papel das religiões no combate aos preconceitos?
Acredito que se relacionar com as religiões é realmente importante, pois os direitos pelos quais batalhamos não virão até que elas deixem de se opor. Minha experiência trabalhando nesse mundo é que os maiores atos de generosidade, compreensão e gentileza para os gays devem muito à influência das instituições religiosas. E os grandes atos de preconceito, crueldade e depressão vieram, da mesma forma, de instituições religiosas ou foram feitos em nome da religião. Pertenço a uma igreja de Nova York bastante aberta e respeitosa, e o que admiro do cristianismo vem de seu primeiro mandamento (amar o seu inimigo) e da crença no juízo de Deus - e não presunção de que podemos julgar uns aos outros. As passagens que são usadas o tempo todo para atacar os gays são relativamente insignificantes na Bíblia, que é repleta de muitas outras instruções. A base lógica dos religiosos antigays é muito débil, e o modo como eles a mantêm é profundamente não cristão. Acredito que foi em um contexto como esse que Gandhi disse "Amo seu Cristo, mas não seus cristãos, porque são tão diferentes d’Ele". Acredito que a homofobia nas religiões organizadas é um dos grandes venenos da vida moderna.
E como vê a atuação do papa Francisco em relação aos gays?
O novo papa tem uma enorme humildade e consegue
se engajar com as pessoas. Sobre os gays, em particular, ele disse em
entrevista algo como "Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para
julgá-la?", o que é bastante diferente das frases dos dois papas
anteriores sobre o tema. Fico animado, pois isso demonstra que ele é mais
aberto e tolerante à causa. Acredito que não exista apenas um modo de ser uma
boa pessoa e um bom cristão.
No Brasil, já há alguns anos, tenta-se aprovar uma lei contra a homofobia. O que acha de uma lei como essa?
No Brasil, já há alguns anos, tenta-se aprovar uma lei contra a homofobia. O que acha de uma lei como essa?
Acho que há áreas em que as leis são relevantes: por exemplo, uma lei que impeça que se demitam pessoas por serem gays ou uma lei que afirme ser crime de ódio bater em alguém por ser homossexual. O que não faria sentido é uma lei que obrigasse pessoas que não gostam de gays a passarem a gostar. Isso não se transforma com uma lei, mas com educação. Mas, quando você tem um mecanismo legal que indica que gays precisam ser tratados com igual dignidade, esse é um modo muito forte de comunicar que gays são iguais a qualquer outro ser humano, e isto afeta o modo como a população encara esse grupo. É um círculo: melhores leis ajudam a criar melhores atitudes, e com melhores atitudes é mais fácil criar melhores leis.
A vida é repleta de eventos doloridos e a
tristeza faz parte da condição humana. Mas quando é que estar triste se
transforma em doença?
A depressão é um problema de saúde pública. Ela
se distingue da tristeza pela duração de seus sinais e pelo contexto em que
ocorre. Trata-se de uma experiência cotidiana associada a várias sensações de
sofrimento psíquico e físico e que pode impedir que a pessoa realize suas
atividades cotidianas e atrapalhar nos relacionamentos.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da
Saúde), pelo menos 350 milhões de pessoas sofrem desse mal no mundo. No Brasil,
de acordo com um levantamento nacional da Universidade Federal de São Paulo, um
terço da população brasileira apresenta sintomas de depressão.
A depressão é considerada um transtorno mental
comum e pode aparecer em três graus: leve, moderada ou grave. Os casos extremos
levam o indivíduo a ficar incapacitado diante da vida até mesmo a desistir
dela. Segundo a OMS, 15% dos depressivos comentem suicídio.
Diagnosticar e traçar a linha que separa a normalidade da patologia é sempre uma dificuldade e no meio disso tudo existe a estigmatização da doença. Ela não tem uma causa ou características únicas e atinge as pessoas de modos diferentes. Em termos científicos, não existem testes laboratoriais que revelam quando a tristeza se torna um estado de depressão. O único jeito é observar a si mesmo.
Diagnosticar e traçar a linha que separa a normalidade da patologia é sempre uma dificuldade e no meio disso tudo existe a estigmatização da doença. Ela não tem uma causa ou características únicas e atinge as pessoas de modos diferentes. Em termos científicos, não existem testes laboratoriais que revelam quando a tristeza se torna um estado de depressão. O único jeito é observar a si mesmo.
Para psicólogos e psiquiatras, a depressão pode
surgir de diversas formas, principalmente como reação a uma situação
estressante. Os fatores desencadeantes podem ser acontecimentos como traumas na
infância, a morte de alguém, o fim de casamento, isolamento social ou
violência. Não raro, porém, a depressão surge sem motivo.
Os sintomas ajudam no diagnóstico do quadro e a
intensidade na experiência dos fenômenos relacionados à depressão é um dos
fatores mais mencionados por pessoas que a viveram. A perda de interesse pelo
trabalho ou lazer, dificuldade de concentração, baixa autoestima, sonolência,
choro por qualquer coisa, sentimento de culpa ou desamparo, ansiedade, falta de
libido, ataques de pânico e pensamentos negativos frequentes são alguns dos
comportamentos relacionados ao transtorno.
O escritor estadunidense Andrew Solomon
escreveu o livro "O Demônio do Meio-Dia" para investigar a depressão
a partir de sua própria experiência. "O oposto da depressão não é a
felicidade, mas a vitalidade”, escreve ele. “A depressão começa do insípido,
nubla os dias com uma cor entediante, enfraquece ações cotidianas até que suas
formas claras são obscurecidas pelo esforço que exigem, deixando-nos cansados,
entediados e obcecados com nós mesmos — mas é possível superar isso. Não de uma
forma feliz, talvez, mas pode-se superar. Ninguém jamais conseguiu definir o
ponto de colapso que demarca a depressão severa, mas quando se chega lá, não há
como confundi-la.”
O que a Ciência diz?
Os mecanismos pelos quais a depressão se instala
ainda não são totalmente conhecidos. Mas a medicina descobriu que o estado de
depressão gera determinadas modificações químicas no corpo.
O corpo humano tem 12 bilhões de neurônios. Os
neurotransmissores são substâncias químicas sintetizadas, liberadas pelos
neurônios e responsáveis por sensações como prazer, conforto e bem-estar.
Sabe-se que neurotransmissores cerebrais têm um papel relevante no processo da
depressão.
A serotonina é a substância que ajuda a controlar
o humor e diversas outras funções vitais do organismo, como o sono. Já a
noradrenalina ajuda a produzir o hormônio adrenalina, com efeito estimulante e
que cria o estado de alerta em situações de perigo.
A depressão se traduz como uma desordem no cérebro,
órgão que tem dificuldade de manter o equilíbrio dos níveis de serotonina e
noradrenalina no corpo. Remédios antidepressivos não produzem essas
substâncias, mas aumentam os níveis delas.
Para controlar o equilíbrio dessas substâncias
nas células, o corpo produz a enzima monoaminoxidase, que elimina o excesso de
neurotransmissores. Pessoas deprimidas geralmente não têm níveis baixos de
neurotransmissores, mas a enzima trabalha “demais”, atrapalhando o fluxo livre
de liberação da serotonina e noradrenalina. Antidepressivos atuam na inibição
da monoaminoxidase para que os níveis desses transmissores permaneçam altos.
Especialistas classificam a depressão em bipolar
(também conhecida como PMD- psicose maníaco depressiva) ou unipolar. A PMD
alterna momentos de euforia (quando provavelmente há excesso de
neurotransmissores) e profunda depressão, quando provavelmente há falta. A do
tipo unipolar é relacionada à melancolia sem fim.
A depressão também pode acionar o fenômeno
Kindling. Imagine alguém descendo uma montanha russa. Um evento estressor
significativo desencadeia o primeiro episódio. Progressivamente, os quadros
passam a ser desencadeados por eventos menos intensos ou mesmo sem motivo.
Assim, um fator estressor que não abalaria uma pessoa pode desencadear um novo
episódio em quem já é depressivo crônico. A depressão causaria lesões nos
neurônios, prejudicando a transmissão de impulsos nervosos no cérebro, deixando
a pessoa com predisposição à uma nova crise.
A OMS recomenda que casos de depressão moderada
ou grave devam ser tratados com medicação capaz de aliviar seus sintomas, com
dosagens específicas para cada paciente. O ideal é que o tratamento conte com
psicoterapeutas e psiquiatras que ajudam a trabalhar as questões emocionais da
pessoa.
Pesquisadores testam novas formas eficazes de
tratamento da depressão com estudos que buscam identificar as áreas exatas no
cérebro relacionadas a determinadas sensações. Se localizarem com sucesso, no
futuro será possível ter aparelhos para estimular ou inibir áreas de um cérebro
deprimido.
Atualmente, tratamentos com estimulação cerebral
com eletrodos diminuem os sintomas, mas são recomendados muito raramente e para
casos mais extremos. A carga elétrica parece aumentar o efeito da dopamina e
afetar os outros neurotransmissores, além de estimular o metabolismo do córtex
frontal. Um pouco menos invasiva é a técnica com ressonância magnética, que
estimula o cérebro com ondas eletromagnéticas que aumentam o fluxo sanguíneo na
área e, consequentemente, sua atividade cerebral.
Terapias complementares e a adoção de hábitos
saudáveis ajudam na recuperação e na prevenção da depressão. Ter uma
alimentação nutritiva diária, evitar o uso de drogas e o consumo de álcool,
praticar esportes (exercícios produzem endorfina) e atividades de relaxamento e
meditação são importantes ferramentas para combater o estresse e enfrentar e
superar problemas.
A ciência também relaciona problemas hormonais e
genéticos às causas da depressão. Nas mulheres, os níveis flutuantes dos
hormônios estrogênio e progesterona influenciam o humor. Em relação aos genes,
estudos apontam que a predisposição para a depressão pode ser hereditária. Se
descobrirmos uma maneira de identificar a depressão por subtipos genéticos,
poderemos encontrar tratamentos específicos.
Felicidade e a sociedade contemporânea
Além das dificuldades, contextos e histórias de
vida de cada pessoa, existem fatores sociais difíceis de mapear que podem levar
ao que se denomina depressão. O mundo contemporâneo está cada vez mais
complexo. E o que todos desejam e buscam
é a felicidade, o oposto da depressão.
Nas capas de revista, nos filmes, nos livros de
autoajuda. O sucesso profissional, um casamento, um corpo perfeito, a viagem a
um lugar paradisíaco, a casa dos sonhos, o status, a riqueza.
Experiências são “vendidas” como verdadeiros caminhos para a felicidade, algo
que só dependeria de você. Mas esse tipo de discurso acaba sendo uma grande
armadilha.
Se ser feliz só depende de mim, e eu não sou,
logo eu falhei. O fracasso gera uma nova frustração. Por exemplo, a cobrança de
padrões de beleza impossíveis de se conquistar leva diversos adolescentes a um
quadro de baixa estima, em alguns casos à depressão profunda. Naturalmente
querer tudo é um absurdo.
O escritor Michael Foley remete ao mito de Sísifo
(que foi condenado a empurrar uma rocha por toda a eternidade) como
representação da epidemia de depressão da sociedade atual. No livro
"A Era da Loucura", ele escreve: “A depressão é muitas vezes o
destino da personalidade moderna – ambiciosa – faminta por atenção e
ressentida, sempre convencida de merecer mais, sempre perseguida pela
possibilidade de estar perdendo algo melhor, sempre sofrendo pela falta de
reconhecimento e sempre insatisfeita. É preciso reencontrar a coragem e a
humildade de Sísifo, que não exige recompensa, mas sabe transformar qualquer
atividade em sua própria recompensa. Sísifo é feliz com o absurdo e a
insignificância de seu ato de empurrar constantemente uma rocha montanha
acima.”
O sociólogo Zygmunt Bauman fala sobre a ansiedade
e a angústia que é viver em nossa atual condição sociocultural, marcada por
infinitas possibilidades de escolhas e pela falta de solidez e durabilidade (as
relações são cada vez mais descartáveis, gerando um vazio).
Mas por que somos obrigados a ser felizes? A
necessidade de busca da felicidade é recente na história ocidental. O filósofo
grego Aristóteles dizia que a bílis negra (melaina kole) determina os grandes
homens. A reflexão aristotélica é que a melancolia não seria uma doença, mas a
própria natureza do filósofo e sua inquietação em relação ao ser. Ela seria uma
maneira importante de transcender e gerar sabedoria.
Na Idade Média, o pensamento medieval liga a
tristeza a dois pensamentos: de um lado, ela seria um pecado, já que seria um
sinal de que a pessoa abandonou ou perdeu Deus.
Na obra "Inferno", de Dante Alighieri, o escritor escreve
que os suicidas estão condenados a se transformarem em árvores e os
melancólicos são “uma seita de fracos, importunos ante Deus e seus inimigos”.
Já para os monges, ela seria uma virtude que levaria a uma reflexão sobre
a consciência interior.
São muitos os caminhos para entender as aflições
da alma. O mundo moderno mudou o foco de Deus para o Homem. Goethe entende que
a melancolia é uma doença do pensamento. Outros pensadores entendem que o viver
bem precisa de um propósito. Schopenhauer chamou de Eudemonismo o que entendia
como a arte de ser feliz, assinalando que desenvolver uma atividade, dedicar-se
a algo ou simplesmente estudar são coisas necessárias à felicidade do ser
humano.
Em resumo, vivemos num mundo que nos exige muito energia, o estresse no qual nos bombardeiam exigem vitalidade, sem vitalidade não há felicidade, a
vitalidade está presente nos pensamentos positivos, de elevado alcance, fazer uma atividade física (pode ser até uma boa caminhada diariamente), meditar e fazer uma auto analise, são pró-atividades, afinal é nossa mente que constrói os castelos de nossa
memória, os bons pensamentos nos dão vitalidade e consequentemente podem nos levar a
felicidade, é assim que nos preparamos para combater a depressão, substituindo os maus pensamentos por bons pensamentos.
BIBLIOGRAFIA:
Site: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/depressao-o-mal-estar-da-sociedade-contemporanea.htm
Demônio do
Meio-Dia: uma Anatomia da Depressão, de Andrew Solomon (Companhia das
Letras, 2002)
Mais Platão, Menos Prozac, de Lou Marinoff
(Record, 2001) A Era da Loucura, de Michael Foley (Alaúde, 2011) Sol Negro –
Depressão e Melancolia, de Julia Kristeva (Rocco, 1989)