O que você sente, antes de ver!
Tem
gente que entra num ambiente e, antes mesmo de dizer “oi”, já preenche o
espaço. E tem gente que mal chega e a gente sente um incômodo que não sabe
explicar. Não tem nada de sobrenatural nisso — ou talvez tenha. Mas o fato é
que existe algo que vai além das palavras, da aparência, até mesmo do
comportamento. Uma presença que antecede a presença.
É
disso que falo quando digo aura invisível.
Aquela
impressão que uma pessoa deixa quando entra… ou quando sai. Um tipo de
assinatura silenciosa, uma energia que antecede o gesto. Não é papo de vidente
nem misticismo solto. É fenomenologia cotidiana: sentir antes de
entender. Uma filosofia da intuição. A aura é isso — um campo de presença
que não se vê, mas se percebe.
Você
também emite o que não sabe que emite
Somos
emissores, o tempo todo. Pensamos que estamos nos comunicando apenas com
palavras e atitudes — mas há algo anterior, uma atmosfera que criamos ao estar.
Quando alguém diz “essa pessoa tem uma vibe estranha”, está captando justamente
isso. Freud chamou de “inconsciente”; os orientais preferem “prana” ou “chi”; e
Walter Benjamin — sim, um filósofo — falou da aura da obra de arte como
aquilo que emana de um objeto único e irrepetível. Que também pode emanar de
você.
O
corpo carrega a história, mas a aura carrega o momento. É como um campo
vibracional que se altera com o humor, os pensamentos, os sentimentos mais
profundos. E o curioso é que as pessoas ao redor percebem — mesmo que não
saibam nomear.
A
psicologia também toca nisso (de leve)
Na
psicologia mais tradicional, fala-se de “clima emocional” ou “ambiente
afetivo”. Mas algumas abordagens mais sutis, como a psicologia transpessoal,
reconhecem essa camada energética. Carl Jung dizia que tudo carrega símbolo e
energia — que existe uma comunicação entre inconscientes que não passa pelo
raciocínio.
Quando
alguém te olha e você se sente visto de verdade, pode ter certeza: não foi
só o olho que viu. Foi a aura encontrando a sua.
A
filosofia do invisível é mais antiga que parece
Plotino,
filósofo neoplatônico, falava da emanatio: tudo o que existe emana do
Uno — uma espécie de fonte divina — e carrega em si uma presença que não se vê,
mas se sente. A aura seria, talvez, esse rastro divino em cada ser. Já
Merleau-Ponty, um filósofo francês mais recente, dizia que o corpo não é
apenas corpo: é expressão, é presença no mundo. Ele chamava isso de “corpo
vivido” — e o corpo vivido tem aura.
Se
a filosofia se ocupar do invisível, não está fugindo da realidade — está
tentando ir além da obviedade. Porque a realidade também é feita do que
escapa.
A
aura e o cotidiano: onde ela se esconde?
No
sorriso que acalma. No silêncio que constrange. Na presença de quem, mesmo
quieto, muda o clima de um grupo inteiro. A aura se revela na primeira
impressão, no arrepio leve, na sensação inexplicável de confiança ou
desconforto. E mais: ela se constrói, se cuida, se contamina.
Estar
perto de pessoas caóticas afeta a nossa aura. Estar em lugares onde somos
amados a fortalece. Medo a encolhe. Amor a expande. A aura, mesmo invisível, reage
ao mundo como uma pele emocional.
O
invisível é real. Só é mais sutil.
O
erro moderno foi achar que só o visível é real. Mas a vida insiste em nos
mostrar que o invisível não é menos verdadeiro — só é mais delicado.
Como o perfume de uma flor, o afeto de um gesto pequeno, ou a tristeza que se
esconde num “tá tudo bem”.
A
aura é a memória viva do instante. É um campo, um tom, uma vibração. E se você
prestar atenção, perceberá a sua própria aura mudando conforme as escolhas que
faz, as pessoas com quem convive, e os silêncios que alimenta.
Fecho
com um sussurro de Simone Weil
“Duas
forças reinam no universo: luz e gravidade.”
—
Simone Weil
Talvez
a aura seja isso: uma forma de luz pessoal, silenciosa, dançante, que
nos atrai ou nos repele — sem que saibamos por quê. Mas o mundo sente. Porque
antes de ser visto, você já é sentido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário