Estava parado na fila da escada rolante, olhando a esteira rolante como quem observa o tempo passando — lenta, inexorável, levando as pessoas embora. Um após o outro iam sumindo no topo da escada, uma dúvida existencial: por que algumas presenças somem como se nunca tivessem existido? Não falo da morte no seu formato mais protocolar, com certidão e cerimônia. Falo do desaparecimento sem anúncio. Pessoas que um dia estavam ali, e no outro dia já não estão mais. E ninguém sabe o que foi feito delas.
Vivemos
como quem chegou no meio do filme. A história já começou e não sabemos o que
houve antes; também não temos certeza se veremos os créditos finais. “De onde
eu vim?” parece uma pergunta de criança — mas talvez a verdadeira maturidade
comece quando essa pergunta volta a fazer sentido. E mais ainda: “Pra onde foi
quem se foi?”.
A
fonte e o fim, nesse enigma, são como irmãos gêmeos que nunca se encontram.
Porque o fim não é só o apagar das luzes; às vezes é um silêncio que se
prolonga. Um nome que para de ser dito. Um rosto que a memória começa a
confundir com outro. É como se, em certo momento, alguém saísse discretamente
da festa da vida pela porta dos fundos — e ninguém percebesse.
Mas
talvez estejamos lendo a vida de forma linear demais. Nyanaponika Thera, monge
e pensador budista, nos lembra que o tempo e o eu são construções passageiras,
como redemoinhos num rio. Nada realmente "começa" ou
"termina", apenas muda de forma. Aquilo que acreditamos perdido
talvez apenas esteja passando por um ciclo invisível ao nosso olhar impaciente.
Nesse
sentido, o desaparecimento não seria um fim, mas um retorno. Não um corte, mas
um círculo. A vida como mandala: começa onde termina, termina onde começa. A
fonte e o destino se tocam como as pontas de uma serpente que morde a própria
cauda. Quem se vai não está ausente, apenas se movimenta por outra curva da
roda. E quem permanece, caminha no mesmo giro, talvez mais devagar.
O
mais curioso é que quem vai, vai inteiro. Quem fica, fica em pedaços. A
ausência esculpe em nós uma presença negativa: um espaço que continua ali,
exigindo sentido. Como se a jornada daqueles que desapareceram tivesse se
encerrado num ponto que é, ao mesmo tempo, início e destino. A origem que nunca
soubemos definir. O ponto zero. O nada que parece dizer: “siga, é por aqui”.
Nietzsche
escreveu que “o homem é uma corda estendida entre o animal e o além-do-homem”.
Talvez sejamos isso: uma ponte, e nada mais. Uma travessia sem garantias, sem
começo claro e sem fim explicado. Mas ainda assim, uma travessia.
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