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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Verdade Questionada

Um Paradoxo Necessário

Uma vez, em uma conversa, um amigo afirmou com convicção: "Toda verdade deve ser questionada". Houve um momento de silêncio, daqueles que fazem as pessoas trocarem olhares, e então alguém perguntou: "Mas essa verdade também?" O que seguiu foi uma discussão filosófica que poderia ter durado a noite inteira, entre goles de cerveja e tentativas de escapar do labirinto da lógica.

O Paradoxo da Verdade Questionável

Se afirmamos que toda verdade deve ser questionada, também devemos questionar essa própria afirmação. O problema é que isso pode levar a um ciclo infinito de dúvida, onde nenhuma certeza é possível. Essa questão lembra o famoso paradoxo do mentiroso: "Eu sempre minto". Se a frase for verdadeira, então é falsa; se for falsa, então é verdadeira. Da mesma forma, se devemos questionar tudo, nunca teremos uma base sólida para acreditar em qualquer coisa.

Mas será que existe alguma verdade inquestionável? É aqui que entramos em território filosófico perigoso. Descartes, ao duvidar de tudo, chegou à famosa conclusão: Cogito, ergo sum ("Penso, logo existo"). O ato de dúvida já é uma prova da existência de quem duvida. Esse parece ser um ponto de partida inquestionável, uma rocha no meio do mar da incerteza.

A Verdade Como Processo, Não Como Ponto Fixo

Karl Popper oferece uma saída elegante para essa questão: em vez de buscar verdades absolutas, devemos nos concentrar em eliminar erros. Seu método de falsificação sugere que não podemos provar uma verdade de forma definitiva, mas podemos refutar aquilo que se mostra falso. Dessa forma, o conhecimento não é um conjunto de verdades imutáveis, mas um processo de revisão contínua.

Isso se reflete no cotidiano: muitas coisas que antes eram consideradas verdades absolutas foram revistas e reformuladas. A terra já foi o centro do universo, até que Copérnico e Galileu a colocaram na periferia. Substâncias que eram remédios no passado (como o mercúrio) hoje são reconhecidas como veneno. Se não questionássemos, estaríamos presos a equívocos.

O Limite do Questionamento

Porém, questionar tudo o tempo todo também pode ser um problema. Wittgenstein apontava que certos princípios básicos da linguagem e da lógica não podem ser questionados porque são as bases que tornam qualquer questionamento possível. É como tentar serrar o galho no qual estamos sentados.

No dia a dia, também precisamos de algumas certezas operacionais. Se toda vez que cruzamos uma rua precisássemos questionar a existência do próprio trânsito ou da lei da gravidade, jamais chegaríamos ao outro lado. Algumas verdades são simplesmente funcionais, e é mais produtivo aceitá-las do que passar a vida afundado na incerteza.

Questionar, mas com propósito

A frase "toda verdade deve ser questionada" é um belo ponto de partida, mas não deve ser um dogma absoluto. Questionamos para entender melhor, para corrigir erros, para encontrar caminhos mais acertados. Mas também precisamos reconhecer quando é hora de confiar em algumas verdades práticas para seguir em frente. No fim das contas, talvez a única verdade inquestionável seja a necessidade de continuar pensando.