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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Lado Transgressor

 

O Chamado da Margem

Outro dia, numa conversa qualquer, alguém soltou um comentário que me fez parar: “Todo mundo tem um lado transgressor, mas nem todo mundo tem coragem de usá-lo.” Fiquei ruminando essa ideia. Será que a transgressão é uma sombra que carregamos? Um desejo reprimido de atravessar limites, questionar normas e virar a mesa? Ou será que é simplesmente o instinto natural de quem não se conforma com o mundo como ele é?

A palavra transgressão carrega um peso. Parece sempre ligada a algo proibido, perigoso, talvez até errado. Mas a história mostra que, muitas vezes, são os transgressores que movem o mundo. São eles que desafiam o status quo, reinventam a arte, a ciência, a política e até o conceito de humanidade. Nietzsche via na transgressão um ato necessário para a superação do homem comum, um salto para além da moral tradicional. Freud, por sua vez, poderia dizer que a pulsão de transgredir é a voz do inconsciente rebelde, sufocada pelo superego.

No cotidiano, transgressão não é só quebrar leis ou desafiar ordens explícitas. Ela acontece em gestos simples: no aluno que questiona o professor, no trabalhador que resiste à exploração, no artista que rompe com o padrão estético esperado. Até no silêncio pode haver transgressão – um olhar que recusa obediência já carrega o embrião de um novo mundo.

Mas nem toda transgressão é libertadora. Algumas são vazias, puro desejo de choque sem propósito. Outras servem apenas para reforçar novas normas disfarçadas de rebeldia. A verdadeira transgressão tem um quê de autenticidade, um compromisso com algo maior do que a simples negação do que existe.

Talvez nosso lado transgressor não seja uma escolha, mas um chamado. Um sussurro que diz: “E se fosse diferente?” Cabe a cada um decidir se vai ignorá-lo ou se terá coragem de atravessar a linha.

sábado, 23 de novembro de 2024

Vontade em Alexandria

Ah, Alexandria! Uma cidade que já foi o coração do conhecimento, com sua lendária biblioteca e suas ruas fervilhando de ideias. Quando pensamos em "vontade" em Alexandria, a mente pode divagar para diferentes interpretações: a vontade de saber, a vontade de poder ou até mesmo a vontade de transcender.

Alexandria, localizada na costa mediterrânea do Egito, foi fundada por Alexandre, o Grande, e rapidamente se tornou um centro de conhecimento e cultura na antiguidade. Com sua lendária biblioteca e o imponente Farol, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, a cidade era o coração pulsante de ideias e diversidade cultural. Hoje, Alexandria ainda é uma cidade vibrante, mas bem diferente do que foi em sua era de ouro. É o maior porto do Egito e um centro comercial importante, embora carregue em suas ruas e ruínas ecos de um passado grandioso que a modernidade não apagou por completo. Alexandria continua a fascinar, mesclando história e presente numa convivência única.

Imagine-se caminhando pelas ruas daquela cidade antiga, onde filósofos, cientistas e poetas discutiam fervorosamente sob a luz de tochas ou sob o sol quente. Era uma época em que a vontade não era apenas desejo, mas uma força motriz. Alguém como Hipátia, por exemplo, poderia nos inspirar: sua vontade de ensinar e desafiar convenções a transformou em um ícone, embora trágico, de uma Alexandria que vivia entre o conhecimento e o fanatismo.

Naquela cidade multicultural, a vontade também era uma questão de convivência: egípcios, gregos, romanos e judeus coexistiam (nem sempre pacificamente) em um mosaico de culturas. Talvez, ali, a vontade de pertencer ou de resistir ao outro fosse tão forte quanto o desejo de explorar os mistérios do universo.

Se formos mais longe, a filosofia estoica — que encontrou eco no pensamento de muitos que passaram por Alexandria — nos lembra que a verdadeira vontade é aquela que está alinhada com a razão e a natureza. Epicteto, embora não tenha vivido lá, teria algo a dizer: "Não são as coisas que nos perturbam, mas os julgamentos que fazemos delas." Em Alexandria, uma cidade tão cheia de complexidades e contradições, talvez fosse necessário encontrar a paz interior para navegar pelas águas turvas da política e do saber.

No cotidiano atual, podemos nos perguntar: como é a nossa vontade hoje? Ela é tão ardente quanto a dos estudiosos que buscavam iluminar o mundo em Alexandria? Ou deixamos que ela seja sufocada pela rotina, pela pressa, pelo medo de errar? Alexandria nos convida a reacender o fogo interno, a vontade que move montanhas — ou, no caso deles, rolos de papiro e ideias.

Talvez a maior lição de Alexandria seja que a vontade, para ser plena, precisa ser acompanhada de coragem e propósito. Afinal, o conhecimento não era acumulado ali para permanecer escondido, mas para ser compartilhado, multiplicado, e transformar o mundo. E para você, o que Alexandria simboliza?


sábado, 7 de outubro de 2023

A Interconexão da Existência: Paralelas Dimensionais, o Propósito e a Percepção do Tempo


Quantas vezes ficamos invisíveis aos olhos dos outros, nos procuram e não nos encontram, é mais ou menos quando em nossa concentração acentuada nos transportamos para um outro lugar, talvez para um mundo alternativo ou uma dimensão paralela onde outros ainda não conseguem chegar, e não é nossa imaginação, pois os outros não nos encontram mesmo estando supostamente no mesmo lugar.

Para entender o que acontece é necessário olhar para o universo e imaginarmos que o universo que percebemos, com suas estrelas cintilantes e vastos oceanos, pode ser apenas a ponta do iceberg de uma realidade mais complexa e intrincada? A filosofia sempre nos convida a questionar o que conhecemos e a mergulhar nas profundezas do pensamento abstrato. A imaginação é a energia que nos transporta para outros mundos e a filosofia nos leva além das fronteiras da nossa percepção comum, ela nos abre a possibilidade de que existam dimensões paralelas, entrelaçadas com a nossa realidade, e como a nossa consciência pode ser a chave para desvendar esses mistérios.

Então por que não explorar um território intrigante, onde a física encontra a filosofia e a espiritualidade. Quando ficamos invisíveis aos olhos dos outros estamos falando das "paralelas dimensionais", que sugerem a existência de realidades além da nossa percepção cotidiana. É como se tivéssemos universos paralelos coexistindo conosco, cada um com sua própria trama de eventos e possibilidades, e é para algum universo paralelo que nos transportamos e por lá ficamos em nossas meditações, nos deslocamos não por acaso, mas por alguma razão e motivo, fizemos “a” escolha, provavelmente seguimos para lá para nos energizarmos e retornarmos para a caverna para seguir ajudando a quem precisa e a mesmo tempo reduzir nosso karma.

Agora, consideremos a ideia de que "nada é por acaso". Isso nos leva a refletir sobre a interconexão entre todos os eventos da vida. Cada escolha que fazemos, cada caminho que seguimos, é parte de um intrincado quebra-cabeça, onde todas as peças estão interligadas. Os eventos que parecem aleatórios, muitas vezes, têm um propósito, uma razão de ser que talvez só possamos compreender ao observar o quadro completo. Neste emaranhado de escolhas algumas vezes sem saber porque resolvemos pegar um caminho diferente o que evitou que entrássemos em alguma fria, por isto não devemos nos censurar ou protestar por alguma decisão que aparentemente foi por acaso e com isto tenhamos perdido “tempo”, sabe-se lá o que evitamos...

E, é claro, neste emaranhado temos o "reajuste do tempo". Aqui estamos falando sobre a maleabilidade do tempo, como ele pode se curvar e esticar, dependendo das circunstâncias. Às vezes, parece que o tempo voa; em outras situações, ele se arrasta. Pode ser uma percepção subjetiva ou, talvez, algo mais profundo, como se o tempo estivesse se ajustando para nos ensinar algo valioso, aparentemente perdemos alguns minutos e com isto pudemos prosseguir vivendo, pois foi evitado um acidente fatal em nosso caminho.

Aqui está a conexão fascinante: vamos imaginar que em uma dessas paralelas dimensionais, nossas escolhas são diferentes, nossos caminhos divergentes. Cada ação em uma dimensão desencadeia uma série de eventos únicos. O que parece aleatório para nós pode ser parte de um plano muito maior que se desdobra em múltiplas dimensões.

E, então, vem o reajuste do tempo. Como se o próprio tempo, consciente dessa multiplicidade de realidades, se adaptasse, se alongasse ou se contraísse para nos proporcionar uma experiência significativa. Afinal, nada é por acaso; o tempo, de alguma forma, se reajusta para garantir que aprendamos, cresçamos e nos conectemos com a essência do nosso ser.

A interconexão entre paralelas dimensionais, o significado por trás de "nada é por acaso" e o reajuste do tempo é como uma dança cósmica. Cada passo que damos, cada escolha que fazemos, pode reverberar em múltiplas dimensões, em um eterno movimento de reajuste e aprendizado.

Tudo parece muito complexo e na verdade é mesmo, juntando tudo que foi dito para esclarecer um pouco do emaranhado de acontecimentos, acredito que na filosofia e espiritualidade, a crença de que nossas ações, escolhas e obras neste plano podem influenciar a intensidade do sofrimento e do karma que enfrentamos é comumente associada a várias tradições religiosas e filosofias de vida.

Somos mais poderosos do que imaginamos. Nossas ações não apenas influenciam a nossa própria jornada, mas também o mundo ao nosso redor. Cada escolha, cada ato, é uma oportunidade de semear positividade, reduzindo nosso sofrimento e desbravando o caminho para um karma mais leve.

Quem sabe estivéssemos destinados a perder uma mão, mas por termos as escolhas certas e feito o bem aos outros perdemos só um dedo? A crença de que nossas ações e escolhas neste plano podem influenciar nossa jornada de vida e o enfrentamento do sofrimento é uma noção central em muitas tradições espirituais e filosóficas. Buscar viver uma vida ética, amorosa e consciente é frequentemente considerado um caminho para aliviar o sofrimento e cumprir nosso karma de uma maneira mais equilibrada e construtiva, então não vamos nos perder praguejando por termos perdido um dedo se conseguimos evitar ter pedido uma mão se tivéssemos feito as escolhas erradas.

 

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Filosofia Cínica


A mensagem começa pela pergunta:

De onde vem a necessidade de vencer?

A resposta virá após esta breve história.

Aconteceu:

Alexandre, o Grande, estava indo para a Índia – para vencer, claro -, porque se você não precisa vencer, não vai a lugar nenhum. Por que se preocupar? Atenas era tão bonita, não havia necessidade de fazer uma viagem tão longa. 

No caminho, ele ouviu que um místico, Diógenes, morava na beira de um rio. Ele tinha ouvido muitas histórias sobre esse místico. Naqueles dias, particularmente em Atenas, apenas dois homens eram mencionados – um era Alexandre, o outro era o de Diógenes. Eles eram dois opostos, duas polaridades. Alexandre era imperador, e estava tentando criar um reino que se estendia de uma extremidade a outra da Terra: “O mundo inteiro precisa estar nas minhas mãos.”  Ele era um conquistador, um homem em busca da vitória.


E ali estava Diógenes, o exato oposto. Ele vivia nu e não possuía absolutamente nada. No início tinha uma tigela para beber agua ou as vezes pedir comida. Então um dia ele viu um cão bebendo agua do rio e imediatamente jogou fora a sua tigela. Ele disse: “Se os cães podem viver sem isso, por que não eu? Se os cães são tão inteligentes que podem viver sem uma tigela, devo ser um idiota por levar esta tigela comigo; é um fardo!”

Ele considerou o cachorro seu mestre, e convidou-o para ficar com ele, porque o animal era muito inteligente. Ele não tinha se dado conta de que levar a tigela era um fardo desnecessário. Então, o cão permaneceu com ele. Eles se acostumaram a dormir juntos, a comer juntos. O cão era sua companhia.

Alguém perguntou a Diógenes: “Por que você continua vivendo na companhia de um cão?”

Ele disse: “Ele é mais inteligente do que os chamados seres humanos. Eu não era tão inteligente antes. Olhando para ele, observando-o, fiquei mais alerta. Ele vive no aqui e agora, não se preocupa com nada, não possui nada. E ele está feliz! Sem ter nada, ele tem tudo. Eu ainda não vivo com tamanho contentamento, algum mal-estar permanece interiormente, dentro de mim. Quando eu me tornar como ele, então vou ter alcançado o objetivo.”

Alexandre tinha ouvido falar de Diógenes, de sua felicidade extasiante, do seu silencio, dos seus olhos como de um espelho, assim como um céu azul sem nuvens. E esse homem vivia nu, nem mesmo roupas eram necessárias. Alguém disse: “Ele mora à beira do rio, e estamos passando, não fica muito longe.” Alexandre queria vê-lo, então ele foi.


Era de manhã, uma manhã de inverno, e Diógenes estava tomando seu banho de sol, deitado na areia, nu, desfrutando da manhã, o sol se derramando sobre ele, tudo tão bonito, silencioso, o rio fluindo...

Alexandre pensou: “O que devo dizer? Um homem como Alexandre não podia pensar em outra coisa, a não ser coisas e bens. Então ele olhou para Diógenes, e disse: Eu sou Alexandre, o Grande. Se precisar de algo, me diga. Eu posso ser de muita ajuda e gostaria de ajuda-lo.”

Diógenes riu, e disse: “Eu não preciso de nada. Basta ficar um pouco mais para lá, porque você está bloqueando o sol. Isso é tudo o que você pode fazer por mim. E lembre-se, não bloqueie o sol de ninguém, isso é tudo o que alguém pode fazer. Não fique no meu caminho e nada mais é necessário.”

Alexandre olhou para aquele homem. Ele deve ter se sentido como um mendigo diante dele: “Ele não precisa de nada, e eu preciso do mundo todo, e mesmo assim eu não vou ficar satisfeito, nem mesmo este mundo é suficiente.” 

Alexandre disse: “Estou feliz em vê-lo, nunca vi um homem tão contente.”

Diógenes disse: “Não há problema! Se você quer ser tão contente quanto eu, venha e se deite ao meu lado, tome um banho de sol. Esqueça o futuro e largue o passado. Ninguém está impedindo você.”

Alexandre riu, um riso superficial, é claro, e disse: “Você está certo – mas ainda não é hora. Um dia eu também vou gostar de relaxar como você.”

Diógenes disse: “Esse dia nunca chegara. O que você precisa para relaxar? Se eu, um mendigo, posso relaxar, o que mais é necessário? Por que essa luta, esse esforço, essas guerras, essas conquistas, por que essa necessidade de vencer?”

Alexandre disse: “Quando eu for vitorioso, quando tiver conquistado o mundo inteiro, gostaria de vir e aprender com você e me sentar ao seu lado e me deitar aqui neste banco de areia.”

Diógenes disse: “Mas se eu posso me deitar sobre este banco e relaxar agora, por que esperar o futuro? E por que viajar o mundo inteiro criando sofrimento para si e para os outros – só para vir até mim ao final e relaxar aqui? Eu já estou relaxando.”

      Afinal, qual é a necessidade de vencer? Foi esta a pergunta que iniciamos esta conversa.

A resposta você provavelmente saberá responder, talvez você tenha de provar a si mesmo. Você se sente tão inferior por dentro, você se sem te tão ocioso e vazio. Neste suposto vazio, saiba que você possui um potencial imenso, você não está, de forma alguma, consciente de que já é vitorioso, que a vida já aconteceu a você. Você já é um vencedor e nada mais é possível, tudo de mais importante já aconteceu com você, porem você não reconhece a dadiva da vida, não reconhece a beleza da vida que já lhe aconteceu. Você não conhece o silêncio, a paz, a felicidade, que já estão presentes.

Porque você não está ciente desse reino interior, você sempre sente que algo é necessário, alguma vitória, para provar que você não é um mendigo!

 História:

Para quem não sabe Diógenes de Sinope, em particular, foi referido como o cão, ao ter afirmado que "os outros cães mordem seus inimigos, eu mordo meus amigos para salvá-los.”

O cinismo foi uma corrente filosófica fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates e como tal praticada pelos cínicos. Para os cínicos, o propósito da vida era viver na virtude, de acordo com a natureza.

O cinismo se espalhou durante a ascensão do Império Romano no século I quase se tornando um movimento de massa, e assim, os cínicos eram encontrados pedindo e pregando ao longo das cidades do império. A doutrina finalmente desapareceu no final do século V, embora alguns afirmem que o cristianismo primitivo adotou muitas de suas ideias ascéticas e retóricas.

Por volta do século XIX, a ênfase sobre os aspectos negativos da filosofia cínica levou ao entendimento moderno de cinismo a significar uma disposição de descrença na sinceridade ou bondade das motivações e ações humanas e como caraterização de pessoas que desprezam as convenções sociais. Para encorajar as pessoas a renunciarem aos desejos criados pela civilização e convenções, os cínicos empreenderam uma cruzada de escárnio anti-social e assim mostrar as frivolidades da vida social

O cinismo é uma das filosofias mais marcantes de toda a filosofia helenística. O cinismo oferecia às pessoas a possibilidade de felicidade e liberdade do sofrimento em uma época de incertezas. Embora nunca tenha havido uma doutrina cínica oficial, os princípios fundamentais do cinismo podem ser resumidos da seguinte forma:
  1. O objetivo da vida é a eudaimonia (felicidade)e clareza ou lucidez (ἁτυφια) - libertação da τύφος (nebulosidade) que significava ignorância, inconsciência, insensatez e presunção.
  2. A eudaimonia é alcançada ao se viver de acordo com a Physis (a natureza) como entendida pelo Logos do ser humano.
  3. τύφος (a arrogância) é causada por falsos julgamentos de valor, que causam emoções negativas, desejos não naturais e um caráter vicioso.
  4. A eudaimonia ou o desenvolvimento humano, dependem de auto-suficiência (αὐτάρκεια), apatheia, arete, filantropia, paresia e indiferença para com as vicissitudes da vida (ἁδιαφορία).
  5. Evolui-se através de práticas ascéticas (ἄσκησις) que ajudam o indivíduo a tornar-se livre de influências - tais como riqueza, fama ou poder - que não têm valor na natureza. Exemplos incluem Diógenes de Sínope que vivia em um barril e andava descalço no inverno.
  6. Um cínico pratica o descaramento ou a desfaçatez (Αναιδεια) e desfigura o nomos da sociedade; as leis, os costumes e convenções sociais que as pessoas aceitam como o correto.
  7. A sabedoria maior consistia na ação, não apenas no pensar.
Assim, um cínico não tinha bens e rejeitava todos os valores convencionais de dinheiro, fama, poder ou reputação. Viver de acordo com a natureza requer apenas as necessidades básicas para a existência e qualquer um pode tornar-se livre ao libertar-se de todas as necessidades resultadas da convenção.

O modo de vida cínico exigia formação contínua, não apenas no exercício de julgamentos e das impressões mentais, mas também treinamento físico.

Ele costumava afirmar que o treinamento era de dois tipos, mental e corporal: o último dizendo que com o exercício constante, as percepções são formadas, tal como assegura a liberdade para as ações virtuosas; e metade deste treinamento é incompleto sem o outro, boa saúde e força estão entre as coisas essenciais, seja para o corpo ou para a alma. E ele apresentava provas irrefutáveis ​​para mostrar facilmente que com a prática de ginástica chega-se até a virtude. Nos trabalhos manuais e outras artes se pode ver que os artesãos desenvolvem habilidade manual extraordinária através da prática. Mais uma vez, o caso dos tocadores de flauta e dos atletas: que habilidade eles adquirem por sua própria labuta incessante; e, se eles tivessem transferido seus esforços para o treinamento da mente, como em seus trabalhos não teriam sido em vão ou ineficaz.

Nada disso significava que o cínico se afastava da sociedade. Os cínicos viviam sob o olhar público e eram completamente indiferentes em face de qualquer insulto que possam resultar de seu comportamento pouco convencional. Os cínicos dizem ter inventado a ideia do cosmopolita: quando lhe foi perguntado de onde veio, Diógenes respondeu que era "um cidadão do mundo", (kosmopolitês).

O ideal cínico era evangelizar; como o cão de guarda da humanidade, era seu trabalho perseguir as pessoas sobre o erro de suas maneiras. O exemplo de vida do cínico (e o uso da sátira mordaz cínica) expunha as pretensões que se colocam na raiz das convenções cotidianas.

Embora o cinismo concentrou-se exclusivamente em ética, a filosofia cínica, teve um grande impacto no mundo helenístico. Em última análise, tornou-se uma importante influência para o estoicismo. O estoico Apolodoro de Selêucia escrevendo no século II a.C., afirmou que o cinismo é o caminho curto para a virtude.

As frases de Diógenes, o cínico, falam sobre um dos filósofos mais honestos de todos os tempos. Isto é, alguém com uma verdadeira vontade de entender a realidade e chegar à verdade, sem qualquer interesse adicional além do amor pela verdade.

Algumas frases de Diógenes:

“A sabedoria serve como um freio à juventude, de conforto aos idosos, de riqueza aos pobres e de adorno aos ricos”.

O insulto desonra quem o infere, não aquele que o recebe.

É preferível a companhia dos corvos à dos aduladores, pois aqueles devoram os mortos, e estes, os vivos“.

É calando que se aprende a ouvir, escutando que se aprende a falar; então, falando se aprende a calar.

“Entre os animais ferozes, o de mais perigosa mordedura é o delator; entre os animais domésticos, o adulador”.

“Os piores escravos são aqueles que estão servindo constantemente as suas paixões”.

A história conta que um dos cidadãos atenienses, impressionado com o grau de pobreza em que Diógenes vivia, aproximou-se dele e perguntou-lhe: Por que as pessoas dão dinheiro aos mendigos e não aos filósofos?
Diógenes pensou por um momento e então respondeu: “Porque eles pensam que, algum dia, podem se tornar inválidos ou cegos, mas filósofos, nunca”. Uma maneira engenhosa de dizer que a caridade é inspirada por uma espécie de egoísmo, que alimenta, sobretudo, a ajuda inspirada pelo egoísmo. Nessa equação não entram as virtudes, mas as deficiências; não entra a empatia, mas o medo.
Nos tempos de Diógenes, os filósofos eram muito apreciados. Ele poderia ter vivido como um protegido dos nobres, em meio a luxos e privilégios. No entanto, optou por se desapegar de tudo para alcançar o mais alto grau de autenticidade. Por essa razão, é lembrado milhares de anos depois.

Fontes:
Osho, 1931-1990. O barco vazio: reflexões sobre as histórias de Chuang Tzu/- São Paulo: Cultrix. 2012

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