A vida é uma rede invisível, cheia de fios que nos ligam a outros seres sem que a gente perceba. Às vezes, achamos que estamos sozinhos no mundo, isolados na nossa rotina, como se cada um fosse uma ilha. Mas, se olharmos com mais atenção, a verdade é que somos todos organismos entrelaçados, participando de um sistema maior — uma vida simbiótica.
O
conceito de simbiose vem da biologia, mas pode servir como metáfora para
explicar relações humanas e sociais. Na natureza, há diferentes tipos de
simbiose: o mutualismo, em que ambos ganham, como o pássaro que limpa os dentes
do crocodilo; o comensalismo, em que um se beneficia sem prejudicar o outro,
como as orquídeas que vivem nas árvores; e o parasitismo, quando um se alimenta
à custa do outro, como as sanguessugas. A questão é: que tipo de vida
simbiótica estamos vivendo?
Nos
relacionamentos cotidianos, muitas vezes estamos entre o mutualismo e o
parasitismo sem perceber. No trabalho, colaboramos com colegas, trocando ideias
e apoio, mas também há aqueles que sugam energia sem dar nada em troca. Na
família, há laços de afeto que alimentam a alma, mas também há vínculos que se
sustentam pelo peso da obrigação.
N.
Sri Ram, filósofo indiano, dizia que a vida verdadeira é aquela em que cada um
se vê como parte de um todo maior. Para ele, a separação é apenas uma ilusão da
mente. No livro O Espírito da Verdade, ele sugere que o crescimento espiritual
acontece quando compreendemos que “ninguém vive para si mesmo, e cada ser é um
reflexo do outro.” A ideia é que o mais elevado tipo de simbiose seria aquela
onde a troca acontece não por interesse, mas por reconhecer que o bem-estar do
outro é, no fundo, o nosso próprio.
O
desafio é identificar que tipo de simbiose estamos cultivando. Quantas vezes
ajudamos alguém esperando algo em troca? Quantas relações mantemos apenas
porque nos beneficiam de alguma forma? Talvez a vida simbiótica ideal não seja
uma conta de ganhos e perdas, mas um fluxo invisível onde dar e receber se
confundem.
A
vida simbiótica, se vivida com consciência, pode ser uma forma de dissolver o
ego. Não se trata de perder a própria identidade, mas de perceber que a própria
identidade só existe na relação com o outro. Quando compreendemos que nosso
bem-estar está entrelaçado ao bem-estar dos outros — sejam pessoas, animais ou
até ideias — começamos a participar de um ecossistema mais amplo.
O
segredo talvez seja aprender com as abelhas, que trabalham juntas para
construir algo maior que cada uma delas. Ou com as micorrizas, fungos que se
entrelaçam nas raízes das árvores, ajudando na absorção de nutrientes sem que
ninguém perceba. Viver de maneira simbiótica é estar atento a essas trocas
silenciosas, em que a vida acontece nas entrelinhas.
A
pergunta que fica é: estamos vivendo como ilhas ou como parte de um arquipélago
invisível? Talvez o caminho seja parar de pensar na vida como uma série de
transações e começar a vivê-la como uma dança de interdependências — onde cada
passo nosso ecoa na rede que nos conecta uns aos outros.
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