A Busca pelo Inefável
Outro
dia, enquanto caminhava sem pressa por uma rua silenciosa, senti aquela
estranha sensação de estar no lugar certo e, ao mesmo tempo, deslocado. Como se
a realidade tivesse uma fresta por onde algo maior pudesse ser vislumbrado. Foi
um daqueles momentos em que a metafísica se insinua sem aviso, deixando a
incômoda pergunta: afinal, o que há por trás do que chamamos de real?
A
metafísica, essa velha conhecida dos filósofos desde os tempos de Aristóteles,
sempre nos confronta com o enigma fundamental: existe algo além do que podemos
perceber? E, se existe, podemos compreender? Ou será que nossa busca por
respostas é apenas um reflexo de uma inquietação incurável, uma necessidade de
dar sentido ao que talvez não tenha nenhum?
A
questão central dos enigmas metafísicos reside na natureza do ser e da
realidade. Desde Parmênides, que via o ser como uno e imutável, até Kant, que
nos alertou sobre os limites da razão para acessar o "númeno", a
filosofia sempre oscilou entre a esperança de um conhecimento absoluto e o
reconhecimento de que talvez nunca toquemos a essência última das coisas.
Podemos
pensar no enigma metafísico como aquele momento de hesitação entre o que é e o
que poderia ser. Muitas vezes, a vida cotidiana nos dá lampejos dessa
perplexidade: ao reviver uma memória e sentir que o passado ainda pulsa no
presente, ao encarar o céu noturno e suspeitar que o infinito nos observa de
volta, ou ao se deparar com a estranha sensação de que há algo além do simples
fluxo de eventos.
Schopenhauer
sugeria que o mundo é representação e vontade, ou seja, uma ilusão moldada pelo
nosso querer. Já Heidegger apontava que esquecemos a própria questão do Ser,
vivendo num modo automático que nos afasta do assombro diante da existência. E
é justamente esse assombro que mantém vivo o enigma metafísico: uma indagação
constante que não se satisfaz com respostas definitivas.
Talvez
a chave não esteja em resolver o enigma, mas em habitá-lo. Viver com essa
inquietação como se fosse uma centelha que ilumina, ainda que fracamente, os
recantos mais profundos da experiência humana. Se há algo além do visível,
talvez só possamos percebê-lo no intervalo entre um pensamento e outro, no
silêncio que se insinua entre as palavras, no instante em que o mistério se
revela apenas para logo desaparecer.
E,
assim, seguimos.
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