Entre o Preço e o Sentido
Outro
dia, enquanto tomava um café numa livraria, ouvi uma conversa curiosa entre
dois amigos. Um dizia que um produto "valia muito", ao que o outro
respondia que “o valor era relativo”. Fiquei pensando: falamos tanto em valor,
mas o que ele realmente significa? Para uma empresa, pode ser a proposta de
valor que diferencia um serviço dos concorrentes. Para um colecionador, pode
ser o significado sentimental de um objeto. Para um filósofo, bem… é aí que as
coisas se complicam.
O
Valor Como Construção
A
primeira pergunta que surge é: o valor é algo objetivo ou subjetivo? Desde
Platão, há quem defenda que certas ideias e valores são eternos e imutáveis,
como a Justiça ou o Bem. Já Nietzsche desmontou essa visão ao dizer que valores
são criações humanas, reflexos de forças culturais e históricas. Se for assim,
então o que vale para um tempo pode não valer para outro. O ouro já foi a
medida do valor absoluto, mas hoje, para muitos, os dados digitais são mais
valiosos.
Pense
em um ingresso para um show. Ele tem um preço fixo, mas seu valor muda se for o
último ingresso disponível ou se for para a despedida da sua banda favorita. Da
mesma forma, a amizade tem valor, mas não pode ser comprada. Isso significa que
o valor não está na coisa, mas na relação que estabelecemos com ela.
Proposição
de Valor: Uma Ilusão?
Nos
negócios, o conceito de proposição de valor é essencial. Empresas criam
narrativas sobre por que seus produtos são especiais. Mas isso não reflete
apenas uma necessidade real, e sim uma construção simbólica. Se compramos um
café artesanal por R$ 20, não estamos pagando apenas pelo grão moído, mas pelo
status, pela experiência, pelo cheiro da cafeteria. Então, até que ponto o
valor é real ou apenas uma ilusão bem contada?
Bauman
dizia que vivemos tempos líquidos, onde valores mudam rapidamente. Se isso é
verdade, as proposições de valor são promessas instáveis: hoje uma marca pode
ser um símbolo de status, amanhã pode ser esquecida. Valores morais seguem a
mesma lógica: o que era visto como virtude há cem anos pode ser considerado
arcaico hoje.
Valer
é Existir?
Se
o valor é sempre uma relação, podemos dizer que existir é valer algo para
alguém. Um objeto só tem valor se houver um olhar que o reconheça. Um ideal só
tem força se houver quem acredite nele. Nietzsche dizia que o homem é um ser
que avalia—e talvez seja essa nossa maldição e nosso privilégio. Criamos
valores porque precisamos dar sentido ao mundo. Mas será que conseguimos viver
sem confundi-los com verdades absolutas?
Da
próxima vez que alguém disser que algo "vale muito", pergunte: para
quem? e por quê?. Talvez o verdadeiro valor esteja justamente na pergunta.
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