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quarta-feira, 19 de março de 2025

Angústia da Escolha

O Sofrimento da Liberdade na Era do Consumo

Escolher um lanche parece algo simples. Mas experimente entrar em uma prateleira de supermercado com dezenas de tipos de pães, queijos e recheios diferentes. De repente, a tarefa se torna um dilema. O integral ou o tradicional? O com ou sem glúten? O de fermentação natural ou aquele com grãos variados? A promessa de liberdade se dissolve em ansiedade. Bem-vindo à modernidade, onde o excesso de opções é um fardo disfarçado de privilégio.

A sociedade contemporânea, marcada pelo consumo desenfreado e pelo ideal de individualidade, nos presenteia com um paradoxo: quanto mais livre se torna nossa capacidade de escolher, mais angustiados nos sentimos. Jean-Paul Sartre afirmou que "estamos condenados à liberdade", sugerindo que cada decisão que tomamos nos define e, portanto, carrega um peso existencial. No entanto, Sartre não viveu o suficiente para enfrentar a tirania das prateleiras de supermercado ou o catálogo infinito das plataformas de streaming. Hoje, a condenação à liberdade se sofisticou e assumiu a forma de infindáveis possibilidades de consumo.

A promessa da modernidade era clara: a multiplicação das opções nos tornaria mais felizes. Mas pesquisas psicológicas, como as conduzidas por Barry Schwartz, autor de O Paradoxo da Escolha, mostram que a abundância de alternativas gera frustração. Escolher um produto implica abrir mão de todos os outros, e essa renúncia nos atormenta. O indivíduo moderno, atolado em possibilidades, se torna um eterno insatisfeito.

N. Sri Ram, em suas reflexões teosóficas, apontava que a verdadeira liberdade não está na capacidade de escolher entre uma variedade de opções externas, mas na emancipação interior das compulsões e ilusões que nos aprisionam. A busca pela satisfação através do consumo é, muitas vezes, uma tentativa de preencher um vazio que nada externo pode saciar.

O sofrimento da liberdade na era do consumo também reflete uma mudança nas dinâmicas de identidade. Se antes as escolhas eram limitadas por tradições e estruturas sociais bem definidas, hoje a identidade é um projeto em constante reformulação. Quem sou eu? O tipo de celular que uso, a roupa que escolho, o que coloco no meu carrinho de compras são pequenas declarações de um "eu" que se constrói através do consumo. Mas esse "eu" nunca está pronto, pois o mercado está sempre oferecendo uma nova versão melhorada daquilo que já temos. Assim, a identidade se torna um produto inacabado, e a angústia, uma mercadoria constante.

O caminho para escapar desse ciclo vicioso talvez esteja na reavaliação do que significa ser livre. Reduzir o excesso de escolhas pode não ser um retrocesso, mas uma maneira de recuperar a serenidade. Buscar a qualidade em vez da quantidade, definir limites próprios para o consumo e encontrar satisfação em experiências em vez de produtos são possíveis soluções para essa inquietação contemporânea.

Assim, talvez a verdadeira liberdade não esteja em ter todas as opções do mundo, mas em saber quando dizer "basta". Quem diria que, no final, um lanche poderia ensinar tanto sobre a existência?


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