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quinta-feira, 6 de março de 2025

Negação da Reciprocidade

Sempre ouvimos que a reciprocidade é a base das relações humanas. Seja no amor, na amizade ou no trabalho, esperamos que aquilo que oferecemos volte para nós de alguma forma. Mas e quando isso não acontece? Quando ajudamos sem receber ajuda, quando ouvimos sem ser ouvidos, quando amamos sem ser amados? Existe algo de errado em esperar reciprocidade? Ou a vida simplesmente é assim?

A negação da reciprocidade pode ser vista como um sinal de indiferença, desigualdade ou até mesmo abuso. No entanto, também pode revelar algo sobre a própria natureza da existência: nem tudo se equilibra, nem tudo retorna. A ilusão da simetria nas relações pode gerar ressentimento quando confrontada com a realidade. Friedrich Nietzsche, por exemplo, nos lembra que a vida não opera segundo regras morais fixas; a busca por justiça absoluta é uma construção humana, não um princípio natural.

A negação da reciprocidade também desafia a ideia de que nossas ações devem sempre ter uma recompensa. Filósofos como Emmanuel Levinas argumentam que o verdadeiro sentido da ética não está na troca, mas na responsabilidade incondicional pelo outro. O dever de cuidar e se importar não deveria depender do retorno. No entanto, isso é uma visão que exige um grau de desprendimento raro, especialmente em um mundo onde tudo parece uma transação.

No dia a dia, a falta de reciprocidade pode ser desgastante. O amigo que nunca pergunta como estamos, o colega de trabalho que se aproveita da nossa boa vontade, a família que exige sem dar nada em troca. Podemos reagir de duas formas: ou ajustamos nossas expectativas e aceitamos que nem sempre haverá retorno, ou nos tornamos mais seletivos, evitando relações que só consomem sem nutrir.

A pergunta é: a reciprocidade é um direito ou um privilégio? Talvez a resposta esteja em um equilíbrio entre razão e generosidade. Não se trata de cobrar de forma implacável, mas também não de aceitar passivamente a negação da reciprocidade como se fosse a ordem natural das coisas. Afinal, sem um mínimo de troca, até mesmo os laços mais fortes se desfazem.


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