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quinta-feira, 13 de março de 2025

Reflexão Defeituosa

O Erro Como Espelho da Consciência

Outro dia, enquanto tentava lembrar onde tinha deixado as chaves, percebi que minha memória jogava comigo um jogo estranho. Eu tinha certeza absoluta de que as havia colocado na mesa, mas lá não estavam. A confusão me fez pensar: quantas vezes nossa mente nos engana, e pior, quantas vezes acreditamos cegamente no que pensamos? O problema não é apenas o erro em si, mas a ilusão de que estamos sempre certos. Eis o ponto: nossa reflexão pode ser defeituosa, e é exatamente isso que a torna fascinante.

O Mito da Consciência Clara

Acreditamos que pensar bem é pensar de forma lógica, coerente, cristalina. A razão iluminista nos prometeu um intelecto afiado, capaz de cortar a névoa da ignorância. No entanto, na prática, nossas reflexões estão cheias de vieses, contradições e desvios. Nietzsche já apontava essa falha estrutural quando dizia que a razão muitas vezes não passa de um advogado defendendo nossas paixões. O que chamamos de reflexão pode ser apenas uma justificativa requintada para aquilo que já queremos acreditar.

A psicologia cognitiva reforça essa ideia ao demonstrar que nossa mente frequentemente preenche lacunas de percepção com suposições. Assim, não apenas vemos o que queremos ver, mas também pensamos o que queremos pensar. A reflexão defeituosa não é um acidente, mas um modo de funcionamento do próprio pensamento.

O Erro Como Estrada

Se nossas reflexões são defeituosas, qual a saída? Talvez a resposta esteja no próprio erro. Em vez de temê-lo ou negá-lo, podemos usá-lo como ferramenta. Kierkegaard nos lembraria que o desespero pode ser um ponto de partida para o autoconhecimento. Quando percebemos que nossa reflexão falhou, temos a chance de reconstruí-la melhor.

A filosofia oriental, em especial o pensamento de N. Sri Ram, sugere que a verdade não é algo fixo, mas um horizonte em constante movimento. Assim, o erro não é um abismo, mas uma ponte. Cada falha no pensamento pode ser um convite para expandir a consciência.

O Paradoxo do Pensar

Se pensar é inevitavelmente falhar, então talvez o verdadeiro sábio seja aquele que acolhe a imperfeição do pensamento. O perigo não está em errar, mas em acreditar que se está sempre certo. Afinal, as chaves que achamos que deixamos na mesa podem muito bem estar no bolso o tempo todo – só não paramos para conferir.

A reflexão defeituosa, longe de ser um problema, é a própria condição do pensar. Quem busca um pensamento puro e sem falhas se esquece de que é o atrito do erro que nos empurra para frente. No final das contas, talvez a sabedoria seja apenas a arte de errar de maneira mais interessante.


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