O Erro Como Espelho da Consciência
Outro
dia, enquanto tentava lembrar onde tinha deixado as chaves, percebi que minha
memória jogava comigo um jogo estranho. Eu tinha certeza absoluta de que as
havia colocado na mesa, mas lá não estavam. A confusão me fez pensar: quantas
vezes nossa mente nos engana, e pior, quantas vezes acreditamos cegamente no
que pensamos? O problema não é apenas o erro em si, mas a ilusão de que estamos
sempre certos. Eis o ponto: nossa reflexão pode ser defeituosa, e é exatamente
isso que a torna fascinante.
O
Mito da Consciência Clara
Acreditamos
que pensar bem é pensar de forma lógica, coerente, cristalina. A razão
iluminista nos prometeu um intelecto afiado, capaz de cortar a névoa da
ignorância. No entanto, na prática, nossas reflexões estão cheias de vieses,
contradições e desvios. Nietzsche já apontava essa falha estrutural quando
dizia que a razão muitas vezes não passa de um advogado defendendo nossas
paixões. O que chamamos de reflexão pode ser apenas uma justificativa
requintada para aquilo que já queremos acreditar.
A
psicologia cognitiva reforça essa ideia ao demonstrar que nossa mente
frequentemente preenche lacunas de percepção com suposições. Assim, não apenas
vemos o que queremos ver, mas também pensamos o que queremos pensar. A reflexão
defeituosa não é um acidente, mas um modo de funcionamento do próprio
pensamento.
O
Erro Como Estrada
Se
nossas reflexões são defeituosas, qual a saída? Talvez a resposta esteja no
próprio erro. Em vez de temê-lo ou negá-lo, podemos usá-lo como ferramenta.
Kierkegaard nos lembraria que o desespero pode ser um ponto de partida para o
autoconhecimento. Quando percebemos que nossa reflexão falhou, temos a chance
de reconstruí-la melhor.
A
filosofia oriental, em especial o pensamento de N. Sri Ram, sugere que a
verdade não é algo fixo, mas um horizonte em constante movimento. Assim, o erro
não é um abismo, mas uma ponte. Cada falha no pensamento pode ser um convite
para expandir a consciência.
O
Paradoxo do Pensar
Se
pensar é inevitavelmente falhar, então talvez o verdadeiro sábio seja aquele
que acolhe a imperfeição do pensamento. O perigo não está em errar, mas em
acreditar que se está sempre certo. Afinal, as chaves que achamos que deixamos
na mesa podem muito bem estar no bolso o tempo todo – só não paramos para
conferir.
A
reflexão defeituosa, longe de ser um problema, é a própria condição do pensar.
Quem busca um pensamento puro e sem falhas se esquece de que é o atrito do erro
que nos empurra para frente. No final das contas, talvez a sabedoria seja
apenas a arte de errar de maneira mais interessante.
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