A Solidão no Mundo Conectado
Se
alguém dissesse, há algumas décadas, que no futuro estaríamos todos conectados
o tempo inteiro, compartilhando pensamentos, imagens e sentimentos em tempo
real, talvez imaginássemos um mundo sem solidão. No entanto, aqui estamos, no
auge da hiperconectividade, e nunca estivemos tão solitários. Há algo de
paradoxal nisso, uma ironia cruel: quanto mais redes, mais fios invisíveis nos
ligam a outros, mais nos sentimos isolados.
O
problema talvez resida na qualidade dessa conexão. O filósofo sul-coreano
Byung-Chul Han já alertava que o excesso de exposição e a lógica da performance
esvaziam o sentido do vínculo humano. O que chamamos de "conexão"
muitas vezes não passa de uma troca superficial, onde a presença do outro se
torna um dado estatístico, uma notificação, um nome na lista de contatos.
Assim, a solidão que enfrentamos não é a ausência de pessoas, mas a ausência de
profundidade no encontro.
A
vida contemporânea transformou a solidão em um tabu. O indivíduo solitário é
visto como fracassado, alguém que não conseguiu se inserir no grande fluxo das
interações sociais. No entanto, grandes pensadores, de Nietzsche a Clarice
Lispector, já sugeriam que a solidão também é espaço de encontro consigo mesmo.
Mas qual solidão estamos vivendo? Aquela que fortalece ou aquela que anula?
Talvez
o verdadeiro paradoxo seja este: para escapar da solidão, nos jogamos em redes
que, ao invés de nos acolherem, nos fragmentam ainda mais. Corremos o risco de
confundir comunicação com comunhão, de acreditar que um “curtir” equivale a um
olhar, que um emoji substitui o tom de voz de uma conversa.
Se
há uma saída para esse labirinto, ela talvez passe pela redescoberta do
silêncio e da presença real. Precisamos reaprender a estar sozinhos sem que
isso nos aniquile, e a estar com os outros de forma genuína, sem que isso nos
esgote. Como diria N. Sri Ram, a solidão verdadeira não é estar sem companhia,
mas estar desconectado de si mesmo.
Afinal,
de que adianta mil conexões se não conseguimos nos conectar ao essencial?
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