Pensar Pensando e os Modos de Existir
A
gente sempre está entre começar algo e continuar fazendo. Entre o desejo de ser
e o ato de estar sendo. No fundo, a forma como pensamos já carrega em si um
tempo, um modo, uma disposição. Há quem viva no infinitivo, sonhando sem
executar. Outros se perdem no gerúndio, ocupados demais fazendo para perceber
para onde estão indo. Mas será que o pensamento também oscila entre essas
formas? Será que somos condicionados por uma estrutura linguística a viver mais
no futuro ou no presente contínuo?
O
infinitivo é uma promessa. Pensar, agir, decidir, mudar. Ele paira no ar como
um horizonte de possibilidades, um impulso inicial que não se compromete com a
realização. "Eu preciso começar a escrever um livro" ou "Quero
aprender a tocar piano" são frases que moram no limbo do que poderia ser.
É a mente aberta para a escolha, mas também para a fuga. No infinitivo, o
pensamento é potencialidade, mas também hesitação. Não se compromete com a
sujeira do real. Fica ali, polido e perfeito como uma ideia antes de ser
testada pelo mundo.
Já
o gerúndio é movimento. É estar fazendo, estar sendo, estar sentindo. Ele não
dá margem para o adiamento: "Estou mudando", "Estou
aprendendo", "Estou construindo". A fluidez da vida aparece
aqui, porque o gerúndio nos coloca dentro do processo, e o processo nunca é
estático. Mas há um risco: o gerúndio também pode ser uma armadilha de
continuidade infinita, um ciclo onde a ação nunca se conclui. "Estou
tentando", "Estou resolvendo", "Estou esperando" —
frases que indicam que algo está acontecendo, mas talvez nunca chegue a
acontecer de fato.
O
pensamento humano parece oscilar entre esses dois estados. Alguns filósofos
construíram sistemas inteiros baseados na ideia de um pensamento no infinitivo:
Platão, por exemplo, enxergava a realidade como um reflexo de um mundo ideal,
uma perfeição nunca plenamente alcançada. Já pensadores como Nietzsche
preferiam o gerúndio — um eterno devir, uma existência que se faz e se refaz a
cada instante.
E
nós? Será que pensamos mais no infinitivo, sempre projetando um futuro que
nunca chega? Ou vivemos no gerúndio, presos a processos que nunca se resolvem?
Talvez a resposta esteja em aprender a transitar entre os dois. Há momentos
para o infinitivo — para desejar, para planejar, para conceber a ideia pura. E
há momentos para o gerúndio — para agir, para experimentar, para sentir o peso
do tempo nas mãos.
Pensar
é, afinal, um jogo de tempos verbais. Há quem prefira permanecer na promessa, e
há quem não consiga sair do fazer contínuo. Mas talvez o segredo seja encontrar
a justa medida entre pensar e estar pensando — entre conceber e construir,
entre ser e estar sendo.
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